quinta-feira, 28 de abril de 2016

Capitão América - Guerra Civil

A sequência de filmes que a Marvel Studios vem entregando desde 2008, não serve apenas e tão somente para quebrar recordes de bilheteria, felizmente, ela serve também para eles se aprimorem a cada produção. Melhorando. Superando cada filme para no seguinte fazer algo ainda mais instigante, mais aprofundado em relação aos seus heróis, e ao modo como percebem e são percebidos pelo mundo à sua volta.
Nem sempre funciona, como se pode conferir em “Vingadores-A Era de Ultron”, não um filme ruim, mas problemático.
Em seus acertos, porém (e eles são muito mais freqüentes que seus erros), a Marvel entrega obras vibrantes, que não só representam todo o conceito do que um filme comercial realmente deve ser, mas também demonstram um bom senso raro e requintado no tratamento dos personagens. Se “Capitão América-O Soldado Invernal” já era um dos títulos no qual isso se expressou com mais primor, então “Capitão América-Guerra Civil” orquestrado pelos mesmos diretores Anthony e Joe Russo faz jus ao alardeado título de “melhor filme da Marvel até aqui”.
Ele é, e com muito mais honras do que se pode imaginar.
Quando “Guerra Civil” começa, vemos que a formação dos Vingadores permaneceu a mesma desde o final de “A Era de Ultron” (e aí percebemos nos Irmãos Russo uma coerência que faltou no diretor e roteirista Joss Whedon naquele filme; a capacidade de manter-se conectado à lógica que norteia cada um dos filmes e que define os personagens, sem desvirtuá-los de uma produção para a outra).
Não tarda para que o Secretário de Defesa dos EUA, o General Ross (Willian Hurt, oriundo do filme “O Incrível Hulk”, lá de 2008), os confronte com um dilema: Após os acontecimentos catastróficos dos últimos filmes –e que têm à rigor, os Vingadores como protagonistas –a ONU cria um tratado que obriga os heróis uniformizados a prestar contas ao governo mediante suas ações. Ou seja, obedecer ordens, o quê implica salvar quem eles mandam salvar, e deixar de lado qualquer outra ação não autorizada.
O Capitão América (Chris Evans, em um ótimo trabalho) deseja ser guiado somente por seu altruísmo e não por interesses políticos, e por isso diz não. O Homem de Ferro (Robert Downey Jr., mostrando valer cada centavo de seu cachê milionário) deseja espiar um pouco da culpa que lhe consome pelos atos do robô Ultron (que era, afinal de contas, criação sua) e por isso diz sim.
Uma ruptura então ocorre no Universo Marvel Cinematográfico como o conhecíamos, com cada herói indo para um lado da discussão.
Se há uma decisão genial em “Guerra Civil” é a de não santificar nem demonizar nenhum dos lados: ambos estão certos, e ambos estão errados. É a mesma premissa (porém empregada em um conceito diferente) que fez o maior sucesso nos quadrinhos da Marvel quando uma saga de mesmo nome foi publicada à pouco mais de uma década.
Até mesmo o vilão de fato deste filme espetacular, o Barão Zemo (aqui, coronel, interpretado por Daniel Bruhl) adquire motivações que o humanizam.
Em meio à tudo isso, os Russo ainda demonstram um controle elegante e apurado da imensa diversidade de personagens e poderes que têm em cena, num show de direção que até outro tempo era privilégio somente de Bryan Singer e seus X-Men: Além do Capitão América e do Homem de Ferro, há também a Viuva Negra (Scarlett Johansson, fantástica), o Pantera Negra (Chase Bosewick, surpreendente), o Falcão (Sam Wilson), o Soldado Invernal (Sebastian Stan), o Visão (Paul Betany), a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), o Máquina de Combate (DonCheadle), o Homem Formiga (Paul Rudd, hilário) e o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), cada um deles com um arco próprio e uma importância própria dentro da trama (e é necessário ressaltar aqui o modo engenhoso com que isso é feito com o Pantera Negra).
Há mais uma personagem além desses, e ele responde por um dos mais genuínos sorrisos de satisfação que o expectador dará no cinema em 2016: O Homem Aranha, interpretado com minúcia espantosa e brilhantismo flagrante por Tom Holland –que me perdoem os anteriores Tobey Maguire e Andrew Garfield, mas este jovem é a melhor versão cinematográfica do Homem Aranha de todos os tempos, e consegue fazer isso tudo em meros quinze minutos!

Por fim, pode-se registrar outro feito, também raro, que os Irmãos Russo e a Marvel Studios obtiveram de um filme comercial: O de conseguir fazer o expectador sair eufórico de dentro do cinema, e querendo muito mais, de um filme que excede duas horas de duração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário