“Abra Los Ojos”, hoje é mais conhecido (e mesmo
assim, não muito) como o filme espanhol que, refilmado, resultou no quase
incategorizável “Vanilla Sky”, com Tom Cruise.
Parte-se sempre do princípio algo
preconceituoso de que o filme original é sempre superior à refilmagem, e alguns
críticos, neste caso, realmente concordam com isso, mas a verdade é que ao
comparar os dois trabalhos, “Abra Los Ojos” e “Vanilla Sky”, embora
compartilhem da mesma e mirabolante premissa, possuem propostas tão diferentes
entre si que acabam sendo experiências um bocado diferentes.
E, dito isso, serão as inclinações pessoais, e
o gosto individual de cada expectador que determinarão qual é o melhor filme.
“Vanilla Sky” é uma obra que divide opiniões. O
roteirista e diretor Cameron Crowe aproveitou toda a estrutura presente no
longa original de Alejandro Amenábar e usou a discussão acerca do que seria
sonho e o que seria realidade para discorrer sobre outros questionamentos,
filosofando sobre a forma que conduzimos nossa vida e nossas relações.
Não há muito desse existencialismo em “Abra Los
Ojos”, o quê parece ser do agrado de muitos expectadores que não tiveram
paciência com o filme de Crowe. O espanhol Amenábar se concentra na trajetória
de seu protagonista César (Eduardo Noriega), um hoteleiro bonitão e plaboy (evidente
que as proporções do filme original são mais tímidas se comparadas às do
milionário filme norte-americano, onde o protagonista era um magnata editorial)
cuja vida confortável sofre um revés ao ser desfigurado num acidente, pouco
depois de conhecer aquela que acredita ser a mulher de sua vida, a mímica Sofia
(Penélope Cruz, a única presença em comum nas duas produções).
Desfigurado pela tragédia e, nos seus próprios
termos, sentindo-se inútil para o mundo, ela vê suas esperanças de retomar
qualquer romance com Sofia minguarem. Em algum momento, porém, César recupera seu
rosto através de sucessivas cirurgias, entretanto, algo o leva a ser
encarcerado fazendo com que seu dedicado psiquiatra procure por uma explicação
em meio às suas lembranças.
A busca paulatina por uma elucidação de seus
mistérios transforma “Abra Los Ojos” mais em um acentuado suspense do que num
drama romântico de ficção científica (o mais próximo que se pode chegar de
generalizar aquele filme!), e enquanto o filme americano busca uma forma de
emocionar e até comover o expectador através do tortuoso caminho de uma trama
mirabolante e tortuosa, o filme espanhol usa essa mesma trama a fim de gerar
uma dúvida perene e insolúvel: O final em aberto é feito para o público sair do
filme levantando várias questões, mais ou menos como na reviravolta de “O Sexto
Sentido”.
“Vanilla Sky” parece
propositadamente não deixar nenhuma dúvida no expectador, seu objetivo é mais
proporcionar uma experiência sensorial com as várias emoções que pairam no ar
–amor, gratidão, finitude, amadurecimento –e nisso, a que se admirar o fato de
que o filme de Cruise e Crowe, a despeito da qualidade que lhe é ou não
atribuído, não tenta repetir o filme em que se baseia, buscando ser algo novo,
independente e original.PS: O mesmo título nacional, "Preso Na Escuridão", foi dado a um faroeste spaghetti dos anos 1970, ao ser lançado em DVD, cujo título original era "Blindman".
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