Os filmes de Oliver Stone são normalmente
compostos por uma alta voltagem de euforia narrativa que não raro se expressa
na forma de indignação, seja pelas circunstâncias perniciosamente políticas que
deseja denunciar, seja pelo ultraje absurdo de um momento histórico que
reconstitui (e a veracidade com que se dá essa reconstituição é, em geral, uma
pauta sempre levantada em seus trabalhos).
O próprio Oliver Stone certamente tem
consciência da imensa habilidade com que consegue empregar sua técnica na
construção do ritmo e atmosfera de seus trabalhos que muitos preferem taxar de
sensacionalistas ao invés de realistas.
Talvez, seja um exemplo disso, esta obra ácida e palpitante feita nos anos 1990 que
investiga a psicopatia das maneiras mais escandalosas possíveis: A partir de um
roteiro inicialmente esboçado por Quentin Tarantino (que, como Stone, nunca foi
um autor que primou pela sutileza), este filme acompanha os passos de um casal
de serial killers nos moldes de Bonnie e Clyde, e de Kit Carruthers e Holly
Sargis (casal protagonista do filme “Terra de Ninguém”, de Terrence Malick).
Mickey (Woody Harrelson) e Mallory Knox
(Juliette Lewis, quase sempre surtada) são dois jovens apaixonados que, em seu
furor homicida, deixam um rastro de cadáveres por onde passam no meio-oeste
americano. Não apenas a atenção da polícia (cujo detetive personificado por Tom
Sizemore lhes persegue), suas ações ganham também o interesse crescente da
mídia e do público (materializados na figura do repórter sensacionalista
interpretado por Robert Downey Jr.), fascinados por sua rebeldia e pela maneira
inconseqüente com que deflagram as maiores atrocidades.
E Stone aponta a preocupante escalada dessa
fascinação na sinergia corrupta que surge entre o personagem de Downey Jr. e o
diretor do manicômio vivido por Tommy Lee Jones.
O registro executado por Stone
(num de seus trabalhos mais esquizofrênicos) parece impor uma reflexão do
próprio olhar: Não apenas o casal de assassinos tem a filosofia de preservar
viva uma testemunha ocular de cada ato, como também são eles, os protagonistas
algo conscientes de uma orgia visual na qual a realidade se transfigurou, e o
diretor Stone ratifica isso proporcionando ao seu filme uma série diversificada
de estilos de filmagem que nunca se conforma com um registro ameno e
parcimonioso –“Assassinos Por Natureza” vai do preto & branco à sépia, da
filmagem digital ao 35 mm, passando pelo 16 mm e a super-8, vai de um sem fim de
formas de capturar a imagem à outras linguagens narrativas (há um momento, em
que o filme ganha até aspectos de uma sitcom, onde são introduzidos sons de
risada nos instantes mais sádicos), num turbilhão que soa quase enlouquecido;
daí, talvez, a sanha psicopata que contamina a maioria dos personagens em seu
escatológico terço final.
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