terça-feira, 16 de maio de 2017

Assassinos Por Natureza

Os filmes de Oliver Stone são normalmente compostos por uma alta voltagem de euforia narrativa que não raro se expressa na forma de indignação, seja pelas circunstâncias perniciosamente políticas que deseja denunciar, seja pelo ultraje absurdo de um momento histórico que reconstitui (e a veracidade com que se dá essa reconstituição é, em geral, uma pauta sempre levantada em seus trabalhos).
O próprio Oliver Stone certamente tem consciência da imensa habilidade com que consegue empregar sua técnica na construção do ritmo e atmosfera de seus trabalhos que muitos preferem taxar de sensacionalistas ao invés de realistas.
Talvez, seja um exemplo disso, esta obra  ácida e palpitante feita nos anos 1990 que investiga a psicopatia das maneiras mais escandalosas possíveis: A partir de um roteiro inicialmente esboçado por Quentin Tarantino (que, como Stone, nunca foi um autor que primou pela sutileza), este filme acompanha os passos de um casal de serial killers nos moldes de Bonnie e Clyde, e de Kit Carruthers e Holly Sargis (casal protagonista do filme “Terra de Ninguém”, de Terrence Malick).
Mickey (Woody Harrelson) e Mallory Knox (Juliette Lewis, quase sempre surtada) são dois jovens apaixonados que, em seu furor homicida, deixam um rastro de cadáveres por onde passam no meio-oeste americano. Não apenas a atenção da polícia (cujo detetive personificado por Tom Sizemore lhes persegue), suas ações ganham também o interesse crescente da mídia e do público (materializados na figura do repórter sensacionalista interpretado por Robert Downey Jr.), fascinados por sua rebeldia e pela maneira inconseqüente com que deflagram as maiores atrocidades.
E Stone aponta a preocupante escalada dessa fascinação na sinergia corrupta que surge entre o personagem de Downey Jr. e o diretor do manicômio vivido por Tommy Lee Jones.
O registro executado por Stone (num de seus trabalhos mais esquizofrênicos) parece impor uma reflexão do próprio olhar: Não apenas o casal de assassinos tem a filosofia de preservar viva uma testemunha ocular de cada ato, como também são eles, os protagonistas algo conscientes de uma orgia visual na qual a realidade se transfigurou, e o diretor Stone ratifica isso proporcionando ao seu filme uma série diversificada de estilos de filmagem que nunca se conforma com um registro ameno e parcimonioso –“Assassinos Por Natureza” vai do preto & branco à sépia, da filmagem digital ao 35 mm, passando pelo 16 mm e a super-8, vai de um sem fim de formas de capturar a imagem à outras linguagens narrativas (há um momento, em que o filme ganha até aspectos de uma sitcom, onde são introduzidos sons de risada nos instantes mais sádicos), num turbilhão que soa quase enlouquecido; daí, talvez, a sanha psicopata que contamina a maioria dos personagens em seu escatológico terço final.

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