Oriundo de um movimento muito específico
ocorrido na Holanda em meados da década de 1980, onde um estilo muito específico
algo alegórico de suspense foi concebido por uma nova geração de realizadores
(entre eles, Paul Verhoeven, com seu “O Quarto Homem”), este “O Silêncio do
Lago” –o filme original –agregava valores que muito diziam acerca daquela
cultura e daquela mentalidade européia.
Entrava em questão, com freqüência, a dinâmica
do relacionamento a dois, fazendo com que os plots girassem em torno das aflições
que os envolvimentos acarretam: Sejam essas aflições o abandono da independência,
o fardo de um compromisso ou a própria mudança de perspectiva que a presença de
uma mulher opera na vida de um homem.
A partir desse princípio, o diretor George
Sluizer criou um filme francamente brilhante em inúmeros aspectos –e bastante
pioneiro na abordagem humana das propensões psicóticas, como veríamos no cinema
hollywoodiano somente décadas depois, em “O Silêncio dos Inocentes”,
“Henry-Retrato de Um Assassino” ou “Seven-Os Sete Crimes Capitais”, e
anteriormente só foi concebido por gênios como Hitchcock (“Psicose”) e Michael
Powell (“A Tortura do Medo”) –fazendo com que seja particularmente frustrante o
fato de que o mesmo Sluizer encarregou-se da refilmagem americana, e dela fez
uma obra tão redundante.
Na trama concisa e objetiva do filme original,
acompanhamos um casal de namorados em viagem pelas estradas enevoadas e úmidas
da Europa –um clima que já determina o mistério da atmosfera –como todo casal
apaixonado Rex (Gene Bervoets) e Saskia (a radiante Johanna Ter Steege) brigam
por eventualidades. Num desses episódios, eles param num posto de gasolina aonde
ela vai para faze algumas compras.
E nunca mais volta.
Consumido pelo mistério sem solução, Rex passa
os três anos seguintes dedicado à procura por Saskia, sem jamais encontrar
pistas. Quando ele parece finalmente superar essa perda graças às insistências
da nova namorada, uma inesperada abordagem de Lemome (Bernard-Pierre Donnadieu,
uma grande presença), um até então pacato professor, jogará um pouco de luz no
que de fato ocorreu e confrontará o perplexo Rex com a possibilidade de um fim
para seu tormento –ainda que um fim aterrador!
É exatamente a partir daí –quando o filme
holandês envereda por um desfecho tão corajoso quanto macabro –que a refilmagem
americana apresenta uma de suas grandes fraquezas: A incapacidade, presente em
quase todo o cinema norte-americano em geral, de ousar; na refilmagem (que
conta com Kiefer Sutherland como o jovem desesperado e Jeff Bridges como o
psicopata enrustido), Sluizer teve a astuta idéia de ampliar a personagem da
nova namorada (vivida pela bela Nancy Travis) a ponto dela tornar-se quase
protagonista do filme (!). É ela quem representa mais do que a redenção, a
salvação do protagonista, numa manobra narrativa quase vergonhosa onde a
personagem adquire uma percepção quase extra-sensorial a fim de conduzir a obra
a um final feliz.
Mas, o elemento que talvez
mais destoe nos dois filmes seja a personagem da namorada desaparecida: Se no
original holandês ela era personificada com graça e luminosidade por Johanna
Ter Steege, na versão americana, ela é vivida por uma quase estreante Sandra
Bullock, que até se esforça bastante, mas não consegue reproduzir a mesma
presença de cena de Johanna que reverbera emocionalmente no filme original
justificando a obsessão do personagem principal em procurá-la por anos a fio.
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