terça-feira, 16 de maio de 2017

O Silêncio do Lago

Oriundo de um movimento muito específico ocorrido na Holanda em meados da década de 1980, onde um estilo muito específico algo alegórico de suspense foi concebido por uma nova geração de realizadores (entre eles, Paul Verhoeven, com seu “O Quarto Homem”), este “O Silêncio do Lago” –o filme original –agregava valores que muito diziam acerca daquela cultura e daquela mentalidade européia.
Entrava em questão, com freqüência, a dinâmica do relacionamento a dois, fazendo com que os plots girassem em torno das aflições que os envolvimentos acarretam: Sejam essas aflições o abandono da independência, o fardo de um compromisso ou a própria mudança de perspectiva que a presença de uma mulher opera na vida de um homem.
A partir desse princípio, o diretor George Sluizer criou um filme francamente brilhante em inúmeros aspectos –e bastante pioneiro na abordagem humana das propensões psicóticas, como veríamos no cinema hollywoodiano somente décadas depois, em “O Silêncio dos Inocentes”, “Henry-Retrato de Um Assassino” ou “Seven-Os Sete Crimes Capitais”, e anteriormente só foi concebido por gênios como Hitchcock (“Psicose”) e Michael Powell (“A Tortura do Medo”) –fazendo com que seja particularmente frustrante o fato de que o mesmo Sluizer encarregou-se da refilmagem americana, e dela fez uma obra tão redundante.
Na trama concisa e objetiva do filme original, acompanhamos um casal de namorados em viagem pelas estradas enevoadas e úmidas da Europa –um clima que já determina o mistério da atmosfera –como todo casal apaixonado Rex (Gene Bervoets) e Saskia (a radiante Johanna Ter Steege) brigam por eventualidades. Num desses episódios, eles param num posto de gasolina aonde ela vai para faze algumas compras.
E nunca mais volta.

Consumido pelo mistério sem solução, Rex passa os três anos seguintes dedicado à procura por Saskia, sem jamais encontrar pistas. Quando ele parece finalmente superar essa perda graças às insistências da nova namorada, uma inesperada abordagem de Lemome (Bernard-Pierre Donnadieu, uma grande presença), um até então pacato professor, jogará um pouco de luz no que de fato ocorreu e confrontará o perplexo Rex com a possibilidade de um fim para seu tormento –ainda que um fim aterrador!
É exatamente a partir daí –quando o filme holandês envereda por um desfecho tão corajoso quanto macabro –que a refilmagem americana apresenta uma de suas grandes fraquezas: A incapacidade, presente em quase todo o cinema norte-americano em geral, de ousar; na refilmagem (que conta com Kiefer Sutherland como o jovem desesperado e Jeff Bridges como o psicopata enrustido), Sluizer teve a astuta idéia de ampliar a personagem da nova namorada (vivida pela bela Nancy Travis) a ponto dela tornar-se quase protagonista do filme (!). É ela quem representa mais do que a redenção, a salvação do protagonista, numa manobra narrativa quase vergonhosa onde a personagem adquire uma percepção quase extra-sensorial a fim de conduzir a obra a um final feliz.
Mas, o elemento que talvez mais destoe nos dois filmes seja a personagem da namorada desaparecida: Se no original holandês ela era personificada com graça e luminosidade por Johanna Ter Steege, na versão americana, ela é vivida por uma quase estreante Sandra Bullock, que até se esforça bastante, mas não consegue reproduzir a mesma presença de cena de Johanna que reverbera emocionalmente no filme original justificando a obsessão do personagem principal em procurá-la por anos a fio.

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