O primeiro filme de Alfred Hitchcock em
Hollywood (e o único de sua carreira a conquistar o Oscar de Melhor Filme) não
é, por assim dizer, somente dele: Muito do estilo que predomina, sobretudo em
sua primeira parte, é crédito também do normalmente intransigente e persuasivo
produtor David O’ Selznik que, exatamente um ano antes, havia conquistado êxito
sem precedentes com “E O Vento Levou”, e valeu-se desse crédito para trazer
Hitchcock da Inglaterra para os EUA.
Joan Fontaine interpreta uma jovem de origem
humilde que conhece, durante um passeio no Sul da França como empregada, um
misterioso milionário (Laurence Olivier, intimidante). Após um breve
envolvimento, ele a pede em matrimônio –e as condições cênicas nas quais se dá
o pedido deixam bem claro que Hitchcock não deseja enfatizar o romance (mesmo
nesse momento, ele deixa Fontaine sozinha em cena, um recurso que ele usará
bastante para sublinhar a opressão sofrida pela personagem).
O filme de Hithcock também se mostra um bocado
datado no registro da dinâmica entre homem e mulher vista no filme, embora se
possa argumentar que aquela subserviência da parte da mulher seja uma das
necessidades da trama.
Uma vez estabelecida na mansão Manderley que
pertence a ele, a jovem toma contato com o grande fantasma (por assim dizer)
que assombrará seu casamento: Trata-se da esposa anterior de seu marido, a
falecida Rebecca, cuja lembrança permeia todos os recôncavos da casa, afligindo
de diferentes maneiras os personagens, cultivada em especial, pela lúgubre
ligeiramente ameaçadora Sra. Danvers (Judith Anderson).
O arrojo de Hitchcock elabora inúmeros momentos
deslumbrantes (auxiliado pela primorosa e oscarizada fotografia de George
Barnes) onde a mansão parece crescer, miniaturizando a personagem de Fontaine,
cuja atuação, introspectiva e perplexa, dá a devida expressão a essa agonia.
Em sua metade final, os elementos
indissociáveis de Hitchcock surgem com mais exuberância na trama, promovendo
uma reviravolta e transformando este num exemplar reconhecível do grande mestre
do suspense: Aspectos que pareciam sutis no início, como a trama anterior murmurada
como um mistério, as suspeitas que pairavam no ar (algumas de ordem
sobrenatural) e a tensão aumentada gradativamente se mostram subterfúgios
astutos bem administrados pela direção.
Não é um produto
exclusivamente de Hitchcock –como o foram obras magníficas que vieram antes e
principalmente que vieram depois deste –ele tem também muito de Selznick como
produtor (a suntuosidade técnica salta facilmente aos olhos) e muito do estilo
naturalmente sombrio da autora adaptada Daphne Du Maurier (o quê justifica a
quase ausência do senso de humor de Hitchcock), o que só lhe confere predicados
ainda mais fascinantes.
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