domingo, 14 de maio de 2017

Rebecca - A Mulher Inesquecível

O primeiro filme de Alfred Hitchcock em Hollywood (e o único de sua carreira a conquistar o Oscar de Melhor Filme) não é, por assim dizer, somente dele: Muito do estilo que predomina, sobretudo em sua primeira parte, é crédito também do normalmente intransigente e persuasivo produtor David O’ Selznik que, exatamente um ano antes, havia conquistado êxito sem precedentes com “E O Vento Levou”, e valeu-se desse crédito para trazer Hitchcock da Inglaterra para os EUA.
Joan Fontaine interpreta uma jovem de origem humilde que conhece, durante um passeio no Sul da França como empregada, um misterioso milionário (Laurence Olivier, intimidante). Após um breve envolvimento, ele a pede em matrimônio –e as condições cênicas nas quais se dá o pedido deixam bem claro que Hitchcock não deseja enfatizar o romance (mesmo nesse momento, ele deixa Fontaine sozinha em cena, um recurso que ele usará bastante para sublinhar a opressão sofrida pela personagem).
O filme de Hithcock também se mostra um bocado datado no registro da dinâmica entre homem e mulher vista no filme, embora se possa argumentar que aquela subserviência da parte da mulher seja uma das necessidades da trama.
Uma vez estabelecida na mansão Manderley que pertence a ele, a jovem toma contato com o grande fantasma (por assim dizer) que assombrará seu casamento: Trata-se da esposa anterior de seu marido, a falecida Rebecca, cuja lembrança permeia todos os recôncavos da casa, afligindo de diferentes maneiras os personagens, cultivada em especial, pela lúgubre ligeiramente ameaçadora Sra. Danvers (Judith Anderson).
O arrojo de Hitchcock elabora inúmeros momentos deslumbrantes (auxiliado pela primorosa e oscarizada fotografia de George Barnes) onde a mansão parece crescer, miniaturizando a personagem de Fontaine, cuja atuação, introspectiva e perplexa, dá a devida expressão a essa agonia.
Em sua metade final, os elementos indissociáveis de Hitchcock surgem com mais exuberância na trama, promovendo uma reviravolta e transformando este num exemplar reconhecível do grande mestre do suspense: Aspectos que pareciam sutis no início, como a trama anterior murmurada como um mistério, as suspeitas que pairavam no ar (algumas de ordem sobrenatural) e a tensão aumentada gradativamente se mostram subterfúgios astutos bem administrados pela direção.
Não é um produto exclusivamente de Hitchcock –como o foram obras magníficas que vieram antes e principalmente que vieram depois deste –ele tem também muito de Selznick como produtor (a suntuosidade técnica salta facilmente aos olhos) e muito do estilo naturalmente sombrio da autora adaptada Daphne Du Maurier (o quê justifica a quase ausência do senso de humor de Hitchcock), o que só lhe confere predicados ainda mais fascinantes.

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