quinta-feira, 7 de março de 2019

Capitã Marvel

A homenagem à Stan Lee (1922-2018) que antecede o filme é linda e, partida da própria Marvel Studios cujos personagens ele concebeu, tinha de ser muito especial mesmo.
É a primeira das várias emoções que “Capitã Marvel” leva o expectador a experimentar.
Aguardada obra da Marvel por trazer pela primeira vez uma protagonista feminina, o filme faz jus a todo seu significado implícito entregando uma deliciosa trama sobre descobertas, perseverança e heroísmo –como o são alguns de seus melhores exemplares.
A protagonista em questão (interpretada com minimalismos sensacionais por Brie Larson) começa o filme chamada pelo nome de Vers, e seu passado é envolto em mistério –tudo que ela tem são lembranças inconclusas e fragmentadas, aos quais, pouco a pouco, a narrativa trará de dar pleno significado.
Vers é membro de um grupo denominado Star Force, liderado pelo guerreiro alienígena Kree, Yon-Rogg (Jude Law, autoritário e ameaçador) e, no espaço sideral, sua missão é perseguir e exterminar os alienígenas contra quem os Kree travam uma guerra ininterrupta, os transmorfos conhecidos como Skrulls –cuja fidelíssima e espetacular personificação realizada neste filme vai fazer os ávidos fãs de quadrinhos espumarem de satisfação!
Numa manobra típica de embates conspiratórios, Vers acaba prisioneira dos Skrulls e descobre o interesse deles pela Terra, planeta onde ela acaba vindo parar –e assim, descobrimos que o filme se passa nos anos 1990 (e, por consequência, é como uma pulsante aventura dos anos 1990 que ele vem a se parecer) e que Vers –na verdade, Carol Danvers, já viveu aqui, sendo ela muito mais humana do que pode imaginar.
O roteiro de “Capitã Marvel” –assinado pelos diretores Anna Boden e Ryan Fleck, e por Nicole Perlman (co-roteirista de “Guardiões da Galáxia”) –é uma sucessão de achados: Faz da Guerra Kree-Skrull uma justaposição alegórica da guerra entre palestinos e israelenses; usa do fio narrativo subjetivo da personagem principal para moldar uma incomum trama de origem; vale-se de expedientes inesperados para introduzir detalhes riquíssimos (o que ajuda, inclusive, o ótimo elenco a brilhar); e ainda conduz a história com uma junção de aventura, ficção científica, escapismo e empatia tão afiada e fluida que se torna delicioso assisti-lo –poderia ter três horas de duração que passariam numa brisa.
A produção adquire uma miríade de referências que os fãs tanto adoram quando, na Terra, Carol Danvers conhece o agente Nick Fury (Samuel L Jackson, magnífico numa versão digitalmente rejuvenescida do personagem) e descobre que os Skrulls estão infiltrados na poderosa S.H.I.E.L.D., no entanto, a definição do que são inimigos de fato será colocada em xeque quando Carol descobrir melhor as motivações de Talos (Ben Mendelsohn, ótimo), até então o grande vilão do filme.
Ainda assim, apesar dessas qualidades intrínsecas (boa parte delas, inerentes aos trabalhos da Marvel), o grande valor de “Capitã Marvel” está na inspiração, não só aquela que ele emprega (e que vem muito da força de Brie Larson), mas também aquela que ele exala: Nenhum filme do cinema moderno –nem mesmo o formidável “Mulher Maravilha” ou o já icônico “Jogos Vorazes” –faz tanto pelo movimento do empoderamento feminino quanto a história de Carol Danvers. Por meio dela, a Marvel Studios constrói o filme que a DC deveria ter feito para o Superman, mas não soube como fazer.
A partir de agora, é seguro dizer, toda uma geração de meninas e mulheres crescerá tendo o exemplo salutar de bravura e tenacidade de Carol Danvers para se inspirar.

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