A homenagem à Stan Lee (1922-2018) que antecede
o filme é linda e, partida da própria Marvel Studios cujos personagens ele
concebeu, tinha de ser muito especial mesmo.
É a primeira das várias emoções que “Capitã
Marvel” leva o expectador a experimentar.
Aguardada obra da Marvel por trazer pela
primeira vez uma protagonista feminina, o filme faz jus a todo seu significado
implícito entregando uma deliciosa trama sobre descobertas, perseverança e
heroísmo –como o são alguns de seus melhores exemplares.
A protagonista em questão (interpretada com
minimalismos sensacionais por Brie Larson) começa o filme chamada pelo nome de
Vers, e seu passado é envolto em mistério –tudo que ela tem são lembranças
inconclusas e fragmentadas, aos quais, pouco a pouco, a narrativa trará de dar
pleno significado.
Vers é membro de um grupo denominado Star
Force, liderado pelo guerreiro alienígena Kree, Yon-Rogg (Jude Law, autoritário
e ameaçador) e, no espaço sideral, sua missão é perseguir e exterminar os
alienígenas contra quem os Kree travam uma guerra ininterrupta, os transmorfos
conhecidos como Skrulls –cuja fidelíssima e espetacular personificação
realizada neste filme vai fazer os ávidos fãs de quadrinhos espumarem de
satisfação!
Numa manobra típica de embates conspiratórios,
Vers acaba prisioneira dos Skrulls e descobre o interesse deles pela Terra,
planeta onde ela acaba vindo parar –e assim, descobrimos que o filme se passa
nos anos 1990 (e, por consequência, é como uma pulsante aventura dos anos 1990
que ele vem a se parecer) e que Vers –na verdade, Carol Danvers, já viveu aqui,
sendo ela muito mais humana do que pode imaginar.
O roteiro de “Capitã Marvel” –assinado pelos
diretores Anna Boden e Ryan Fleck, e por Nicole Perlman (co-roteirista de “Guardiões da Galáxia”) –é uma sucessão de achados: Faz da Guerra Kree-Skrull uma
justaposição alegórica da guerra entre palestinos e israelenses; usa do fio
narrativo subjetivo da personagem principal para moldar uma incomum trama de
origem; vale-se de expedientes inesperados para introduzir detalhes riquíssimos
(o que ajuda, inclusive, o ótimo elenco a brilhar); e ainda conduz a história
com uma junção de aventura, ficção científica, escapismo e empatia tão afiada e
fluida que se torna delicioso assisti-lo –poderia ter três horas de duração que
passariam numa brisa.
A produção adquire uma miríade de referências
que os fãs tanto adoram quando, na Terra, Carol Danvers conhece o agente Nick
Fury (Samuel L Jackson, magnífico numa versão digitalmente rejuvenescida do
personagem) e descobre que os Skrulls estão infiltrados na poderosa S.H.I.E.L.D.,
no entanto, a definição do que são inimigos de fato será colocada em xeque
quando Carol descobrir melhor as motivações de Talos (Ben Mendelsohn, ótimo),
até então o grande vilão do filme.
Ainda assim, apesar dessas qualidades
intrínsecas (boa parte delas, inerentes aos trabalhos da Marvel), o grande
valor de “Capitã Marvel” está na inspiração, não só aquela que ele emprega (e
que vem muito da força de Brie Larson), mas também aquela que ele exala: Nenhum
filme do cinema moderno –nem mesmo o formidável “Mulher Maravilha” ou o já icônico
“Jogos Vorazes” –faz tanto pelo movimento do empoderamento feminino quanto a
história de Carol Danvers. Por meio dela, a Marvel Studios constrói o filme que
a DC deveria ter feito para o Superman, mas não soube como fazer.
A partir de agora, é seguro
dizer, toda uma geração de meninas e mulheres crescerá tendo o exemplo salutar
de bravura e tenacidade de Carol Danvers para se inspirar.
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