terça-feira, 2 de julho de 2019

Toy Story 4

Quem diria que a “Trilogia Toy Story”, tão perfeita e com começo, meio e fim tão primorosamente definidos não se acabou de fato no terceiro filme?
Pois, os gênio da Pixar retornam ao fascinante mundo em miniatura dos brinquedos que criam vida quando os humanos não estão por perto para mostrar que “Toy Story”, ao contrário da impressão deixada pelo arremate maravilhoso ao fim do último filme, não é a história do menino Andy e seus brinquedos; é, sim, a história do cowboy de brinquedo Woody e, inclusive, da evolução íntima que ele experimenta nessa trajetória.
Se observarmos os três primeiros filmes do ponto de vista dele como protagonista, o primeiro fala sobre rejeição; o segundo sobre resiliência (a capacidade de abrir mão com serenidade e graciosidade); e o terceiro sobre a finitude de um ciclo.
Ao seu jeito, “Toy Story 4” traz Woody (na voz de Tom Hanks) ao centro da questão para recuperar cada um desses tópicos.
Aqui, ele torna a experimentar a rejeição (afinal, ao contrário de Andy, a nova dona deles, a pequena Bonnie, está longe de considerá-lo seu brinquedo favorito), a resiliência (na forma da escolha que ele tem de fazer ao reencontrar a pastora de brinquedo Betty, dos dois primeiros filmes, que ganha um background espetacular aqui) e, de novo, o fim de um ciclo, desta vez, ainda mais pessoal, para ele próprio.
Por alguma razão, Bonnie ignora Woody tanto quanto seus brinquedos pré-escolares –aqueles para crianças abaixo de quatro anos.
Diferente do primeiro filme, porém, Woody aceita as inocentes escolhas de sua nova dona; o que não o impede de acompanhar Bonnie de perto, indo clandestinamente dentro de sua mochila no primeiro dia de aula no jardim de infância.
De lá, Woody vê Bonnie criar, na aulinha de artesanato, um novo brinquedinho, feito de um pequeno garfo descartável e –na lógica muito particular que rege a série –como ele é um brinquedo, ele adquire, portanto, vida!
Entretanto, Forkie (como é chamado) não se interessa pelo fato de ser agora o brinquedo favorito de Bonnie; ele quer é seguir o curso natural que um garfo descartável seguiria: Ir direto para o lixo!
Woody não pode permitir –ele deseja zelar por Bonnie como forma de ainda ser um brinquedo eficaz, mesmo que não mais seja incluído nas brincadeiras. Assim, durante uma viagem de trailer, quando Forkie se joga na estrada, Woody decide procurá-lo, e levá-lo de volta.
Mas, o caminho de Woody cruzará com alguém de seu passado, que ele julgou jamais ter a chance de encontrar de novo: A pastora Betty, doada a nove anos atrás (e, portanto, ausente em “Toy Story 3”) que não mais tem um dono, mas sim uma vida e uma autonomia próprias zelando pelos brinquedos desamparados em um parque de diversões de beira de estrada –e o que a Pixar faz com essa personagem aqui é um exemplo do brilhantismo do estúdio e de sua capacidade em criar figuras simplesmente antológicas e apaixonantes.
Como havia feito brevemente no prólogo (que retrocede no tempo para revelar o que houve a ela), Betty aqui oferece a Woody uma bifurcação em seu caminho, onde ele passará por uma escolha que pode ser dolorosa e irreversível.
Em meio a tudo isso, administradas como se fosse algo até fácil de se fazer, os realizadores introduzem espertas inserções de comédia embaladas num ritmo incessante e emolduradas pelas mais perfeitas recriações visuais que a Pixar até então já entregou –nunca o mundo humano adulto (tão gigante para as pequenas proporções dos brinquedos) pareceu tão autêntico e vívido.
Se não atinge notas mais hiperlativas em sua emoção e sua diversão, é pelo simples e razoável motivo de que “Toy Story”, já em seu quarto exemplar, é uma série que ostenta um patamar de qualidade difícil de ser equiparado –e nesse sentido, a obra-prima que é o terceiro filme continua imbatível –nada disso, no entanto, o impede de ser uma experiência brilhante, emocionante e arrebatadora mesmo assim.
E, possivelmente, a melhor animação do ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário