Quem diria que a “Trilogia Toy Story”, tão
perfeita e com começo, meio e fim tão primorosamente definidos não se acabou de
fato no terceiro filme?
Pois, os gênio da Pixar retornam ao fascinante
mundo em miniatura dos brinquedos que criam vida quando os humanos não estão
por perto para mostrar que “Toy Story”, ao contrário da impressão deixada pelo
arremate maravilhoso ao fim do último filme, não é a história do menino Andy e
seus brinquedos; é, sim, a história do cowboy de brinquedo Woody e, inclusive,
da evolução íntima que ele experimenta nessa trajetória.
Se observarmos os três primeiros filmes do
ponto de vista dele como protagonista, o primeiro fala sobre rejeição; o
segundo sobre resiliência (a capacidade de abrir mão com serenidade e graciosidade);
e o terceiro sobre a finitude de um ciclo.
Ao seu jeito, “Toy Story 4” traz Woody (na voz
de Tom Hanks) ao centro da questão para recuperar cada um desses tópicos.
Aqui, ele torna a experimentar a rejeição
(afinal, ao contrário de Andy, a nova dona deles, a pequena Bonnie, está longe
de considerá-lo seu brinquedo favorito), a resiliência (na forma da escolha que
ele tem de fazer ao reencontrar a pastora de brinquedo Betty, dos dois
primeiros filmes, que ganha um background espetacular aqui) e, de novo, o fim
de um ciclo, desta vez, ainda mais pessoal, para ele próprio.
Por alguma razão, Bonnie ignora Woody tanto
quanto seus brinquedos pré-escolares –aqueles para crianças abaixo de quatro
anos.
Diferente do primeiro filme, porém, Woody
aceita as inocentes escolhas de sua nova dona; o que não o impede de acompanhar
Bonnie de perto, indo clandestinamente dentro de sua mochila no primeiro dia de
aula no jardim de infância.
De lá, Woody vê Bonnie criar, na aulinha de
artesanato, um novo brinquedinho, feito de um pequeno garfo descartável e –na
lógica muito particular que rege a série –como ele é um brinquedo, ele adquire,
portanto, vida!
Entretanto, Forkie (como é chamado) não se
interessa pelo fato de ser agora o brinquedo favorito de Bonnie; ele quer é seguir
o curso natural que um garfo descartável seguiria: Ir direto para o lixo!
Woody não pode permitir –ele deseja zelar por
Bonnie como forma de ainda ser um brinquedo eficaz, mesmo que não mais seja
incluído nas brincadeiras. Assim, durante uma viagem de trailer, quando Forkie
se joga na estrada, Woody decide procurá-lo, e levá-lo de volta.
Mas, o caminho de Woody cruzará com alguém de
seu passado, que ele julgou jamais ter a chance de encontrar de novo: A pastora
Betty, doada a nove anos atrás (e, portanto, ausente em “Toy Story 3”) que não
mais tem um dono, mas sim uma vida e uma autonomia próprias zelando pelos
brinquedos desamparados em um parque de diversões de beira de estrada –e o que
a Pixar faz com essa personagem aqui é um exemplo do brilhantismo do estúdio e
de sua capacidade em criar figuras simplesmente antológicas e apaixonantes.
Como havia feito brevemente no prólogo (que
retrocede no tempo para revelar o que houve a ela), Betty aqui oferece a Woody
uma bifurcação em seu caminho, onde ele passará por uma escolha que pode ser
dolorosa e irreversível.
Em meio a tudo isso, administradas como se
fosse algo até fácil de se fazer, os realizadores introduzem espertas inserções
de comédia embaladas num ritmo incessante e emolduradas pelas mais perfeitas
recriações visuais que a Pixar até então já entregou –nunca o mundo humano
adulto (tão gigante para as pequenas proporções dos brinquedos) pareceu tão
autêntico e vívido.
Se não atinge notas mais hiperlativas em sua
emoção e sua diversão, é pelo simples e razoável motivo de que “Toy Story”, já
em seu quarto exemplar, é uma série que ostenta um patamar de qualidade difícil
de ser equiparado –e nesse sentido, a obra-prima que é o terceiro filme
continua imbatível –nada disso, no entanto, o impede de ser uma experiência
brilhante, emocionante e arrebatadora mesmo assim.
E, possivelmente, a melhor
animação do ano.
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