É claro que após o êxito espetacular obtido com
o primeiro filme dos “Vingadores”, a Marvel Studios manteria as coisas
exatamente como estavam, a fim de não mudar a maneira acachapante com que seus
filmes vinham tomando as bilheterias de assalto.
Leia-se: Tal e qual o primeiro filme, Joss
Whedon continuaria a cargo do roteiro e da direção da segunda grande reunião
dos heróis da Marvel.
Haviam, porém, algumas variáveis. A primeira:
Os Vingadores –e todo o contexto que levava, de uma forma ou de outra, à sua
junção, já não era novidade. Como também não era novidade, os filmes-solo que
antecipavam esse evento –tudo isso já tinha sido mostrado, e com perícia, nos
filmes da primeira fase.
A segunda: Joss Whedon, praticamente, engatou a
execução do segundo filme, tão logo terminado o primeiro (minto, ele realizou,
entre os dois uma adaptação semi-teatral, pequena, modesta e quase imperceptível
de uma obra de Shakespeare, “Muito Barulho Por Nada”).
E sua exaustão é visível no desgaste da
narrativa.
É assim que, numa continuação quase direta (e
ligeiramente desleixada) dos eventos transcorridos em “Capitão América-O
Soldado Invernal”, encontramos os Vingadores reunidos para o quê parece ser o
último confronto com as forças remanescentes da organização diabólica Hidra
(desmascarada pelo próprio Capitão América naquele filme).
Contudo, a crescente preocupação do inventor
Tony Stark (Robert Downey Jr.) para com as intermináveis aflições do mundo
–somadas aos perigos alienígenas que ele mesmo vislumbrou no filme anterior dos
Vingadores –o levam a criar uma inteligência artificial denominada Ultron
(personificado pelos movimentos e pela voz do ator James Spader), que não tarda
a se rebelar contra os próprios Vingadores, partindo da dedução lógica (para
uma máquina) que é a Humanidade a grande ameaça ao planeta Terra.
Ninguém disse que seria fácil para Whedon dar
segmento ao seu excepcional trabalho em “Os Vingadores”.
“A Era de Ultron” termina sendo um exemplar
bastante indicativo de tudo o que funciona e do que não funciona no método de
trabalho dele; Whedon é muito melhor como roteirista que como diretor, mas ele
próprio sabotou as chances de seu filme evoluir perante o anterior ao tomar a
decisão (que reverbera em todos os filmes do Universo Marvel) de ignorar o vilão
Thanos (esboçado no primeiro “Vingadores” e reservado para o terceiro filme) e
partir aqui para uma trama de aspecto quase aleatório, sem a mesma importância
nas estruturas de história do que o primeiro filme tinha.
Nota-se que a forma com que Whedon trabalha o
humor é repetitiva em relação ao outro filme, e bem menos eficiente. Ele buscou
dar um tratamento mais sombrio à premissa (encontrando na direção de fotografia
de Ben Davis, um auxílio formidável), mas suas decisões afetam a condução, o
tom e até mesmo uma certa coerência inerente aos seus personagens –Escolhas
lamentáveis como o romance que entrelaça Bruce Banner (Mark Ruffalo) e Natasha
Romanoff (Scarlet Johansson), a maneira com que emprega os personagens da
Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e do Mercúrio (Aaron Taylor-Johnson), ou
mesmo do Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), ou as piadinhas fora de hora ou de
lugar minam o valor do filme como um todo, revelando as brechas de uma
narrativa que não se conclui.
O resultado, de fato, acabou aquém de quaisquer
expectativas, entregando um filme redundante, problemático e carente de
frescor, ainda que mantivesse lá seus momentos divertidos –como produtora, a
Marvel Studios não se permitiu a concepção de um produto de baixa qualidade.
Ainda que este seja um de seus títulos menos
memoráveis, ele continua bem acabado, fluido em seu ritmo, bonito em seu
visual, e empolgante em sua ação.
A Marvel Studios aparentemente aprendeu a
lição: Os filmes posteriores à “Era de Ultron” apresentavam, todos, um
tratamento diferenciado (visível desde o seu marketing), nada repetitivo, e
ciente da evolução que a história e os personagens dentro desse universo
precisavam experimentar.
E Joss Whedon, bem, ele foi descansar. Substituído,
no comando do terceiro “Vingadores” pelos talentosos Irmãos Anthony e Joe Russo
(de “Capitão América-Soldado Invernal” e “Guerra Civil”).
Que eles façam algo grande!
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