Há algo de audacioso no fato de se intitular
este filme como “Amor” –já deixando bem claro que este não é um romance, algo
que o diretor austríaco Michael Haneke jamais faria.
Não são, de modo algum, os procedimentos e as
etapas de evolução de um relacionamento amoroso o alvo do interesse de Haneke:
O amor que ele vislumbra é aquele moldado ao longo de décadas de convívio, e
que sofre um duro teste de fogo quando o casal formado por Jean Louis
Trintignant e a saudosa Emmanuelle Riva se vê diante de um incontornável
problema, depois que ela sofre as conseqüências de dois derrames simultâneos.
O marido deve então passar a cuidar dela, e
testemunhar a mulher que ama definhar (e deixar de ser ela própria) dia após
dia enquanto se vê aprisionada num corpo cujas funções motoras já não respondem
mais aos seus comandos.
É o amor, portanto, convertido numa dedicação
incondicional diante dos males atrozes e imprevistos da realidade (os quais
Haneke faz tanta questão de ressaltar), e o mesmo amor que, mais tarde, será também
a motivação que o levará a um ato radical visando uma certa libertação no
último ato do filme –e que não chega a surpreender se tivermos em mente que
este é o mesmo Michael Haneke cruel e implacável desde “O Sétimo Continente”.
Aliás, desde o início (que mostra bombeiros
tentando invadir o apartamento do casal, e depois regride no tempo ao começo da
trama) sabemos que as coisas não acabarão bem.
Esse simbolismo (o da
interrupção abrupta da vida) é evidenciado por Haneke no emprego da música –nenhuma
das que tocam no filme termina naturalmente; elas são todas, por alguma razão
diferenciada, interrompidas: Em especial, a música que toca na grande cena do
filme, na qual parece (mas, apenas parece...) que vemos o personagem de
Trintignant ouvir a esposa tocar piano.
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