Poucos seriam os realizadores tão creditados a
conceber uma fábula sobre o Velho Oeste tão definitiva quanto Clint Eastwood o
fez neste filme primordial.
Usando de sua própria figura –durante um bom
tempo indissociável do gênero no subconsciente do público –Eastwood elaborou
uma obra que se atrevia a pensar e refletir o próprio gênero a que pertencia.
“Para Sergio e Don” diz ele no final dos
créditos. E estes realmente são as influências fundamentais não apenas ao
estilo vigoroso e convicto que ele deslinda aqui, mas ao próprio conceito do
que um faroeste é, e deveria ser.
Partindo desse princípio, encontramos William
Munny (personagem que Eastwood incorpora com enfático brilhantismo) numa fase
outonal da vida. Ele foi um cruel pistoleiro do passado, porém, agora se
encontra recuperado, viúvo e cuidando de dois filhos pequenos numa humilde e
longínqua fazenda do Missouri.
Seus tempos de assassino ficaram para trás, e
só lhe restaram lembranças nebulosas e esparsas dos crimes que praticava depois
que estava bêbado.
Mas, eis que chega então um jovem com a
proposta de um novo serviço: O assassinato remunerado de dois vaqueiros que
inadvertidamente esfaquearam o rosto de uma prostituta (cuja proliferação, de
boca em boca, dos exageros da história é um dos aspectos interessantes,
divertidos e antropológicos do roteiro).
Vislumbrando uma vida melhor para seus filhos
pequenos, Willian decide voltar à ativa ao lado de seu antigo parceiro Ned
(Morgan Freeman, estabelecendo com Eastwood uma parceria genuína), e segue na
direção da pequena cidadezinha onde o serviço foi encomendado, um lugar sob a
proteção do xerife Little Bill Dagget (Gene Hackman, fantástico), um
ex-pistoleiro prepotente, ardiloso e cruel.
As conseqüências dessa decisão o farão rever o
passado e o assassino impiedoso que William pensava ter deixado para trás.
Pelo trabalho primoroso que executa aqui, Clint
Eastwood ganhou seis merecidos Oscars, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e
Melhor Ator Coadjuvante para Gene Hackman em 1992. A esplendorosa avaliação que
ele faz, imerso em talento e sensibilidade, não somente de sua persona de
pistoleiro durão (acometido, desta vez, por toda sorte de indagações,
questionamentos morais e limitações humanas), como do próprio gênero em si se
reflete de forma artisticamente sólida no roteiro existencialista e amparado em
brilhantes personagens de David Webb Peoples, do igualmente brilhante
"Blade Runner".
As maravilhosas paisagens canadenses que
serviram de locação ao filme são outro espetáculo.
Um detalhe curioso é que, décadas depois, o
cinema japonês fez uma refilmagem de “Os Imperdoáveis” em forma de filme de
samurai, tratava-se de “Yurusarezaru Mono”, com Ken Watanabe, seguindo um
trajeto oposto ao que ocorreu com “Os Sete Samurais” e “Sete Homens e Um
Destino”.
Os japoneses não poderiam
escolher inspiração melhor!
Nenhum comentário:
Postar um comentário