sábado, 28 de janeiro de 2017

Thor - O Mundo Sombrio

Dentre os filmes da Marvel Studios, aqueles que mais encontraram certa dificuldade para se impor como entretenimento de qualidade e ao mesmo tempo obra notável de cinema, foram os protagonizados pelo Deus do Trovão, Thor.
Não havia nada de errado com o ator (Chris Hemsworth, com freqüência perfeito no papel), mas provavelmente com o tom: Oriundo de sua mitologia própria –fortemente inspirada nas lendas escandinavas –Thor pedia uma abordagem criteriosa, minuciosa para com suas extensões narrativas que envolviam não apenas seus inúmeros personagens secundários, e suas ambientações de natureza cósmica, mas que também se conectariam com outras linhas narrativas (a do Homem de Ferro, a do Capitão América...) que tinham por eixo uma orientação mais realista/científica.
O primeiro “Thor”, dirigido por Kenneth Brannagh, como filme de origem, saiu-se relativamente bem preparando o terreno para aquilo que o público de fato queria ver: O filme dos Vingadores.
Passado esse vendaval, contudo, a Marvel Studios sabia qual seria seu desafio: Voltar aos filmes-solo (e às narrativas individuais) de cada um de seus personagens, porém, desta vez com a pressão de que, agora, havia um alto patamar qualitativo pelo qual seriam comparados –“Os Vingadores”, de Joss Whedom.
E, se “Homem de Ferro 3”, escrito e dirigido por Shane Black –o primeiro filme lançado depois da reunião da equipe –havia passado pelo crivo de público e crítica dividindo opiniões, a Marvel não desejava que o mesmo (ou algo ainda pior!) ocorresse com Thor, uma vez que seu primeiro filme não era nenhuma unanimidade.
A fim de garantir o tom épico que eles almejavam desde o começo, a Marvel chamou inicialmente a diretora Patty Jenkins (de “Monster-Desejo Assassino” e que, atualmente, dedica-se ao filme da “Mulher Maravilha”), e diante de uma recusa, optou por um diretor dos mais apropriados: Alan Taylor, que assinou vários episódios da cultuada série de fantasia medieval “Game Of Thrones”.
O resultado, ligeiramente mais satisfatório como entretenimento do que o filme anterior de “Thor”, ainda o nivela por baixo, se comparado à outros trabalhos do Marvel Studios.
Após os eventos espetaculares de "Os Vingadores", Thor, o filho de Odin, leva Loki (Tom Hiddleston, ocasional ladrão de cenas dos filmes) seu irmão traidor para seu julgado em Asgard por seu pai (Anthony Hopkins, em solene piloto automático), mas a tranqüilidade dura pouco tempo.
Seres de uma maldade ancestral, os elfos negros e seu senhor, Malekith (Christopher Eccleston, de “Jude”, um vilão padrão), são despertados com a aproximação de um fenômeno cósmico conhecido por "convergência". Isso obriga Thor a voltar para a terra, onde reencontra a jovem astrônoma Jane Foster (Natalie Portman, cujo cacife de estrela a faz adquirir desnecessária relevância neste filme) que, devido a uma série de contratempos, torna-se fundamental para a solução dessa crise.
De certa forma, dando continuidade a todo o universo cinematográfico da Marvel –seus desdobramentos se referem não só ao filme anterior de Thor com ao dos Vingadores, e vários outros –este “Mundo Sombrio” promove um aumento de escopo, não há dúvidas (as ações de Thor têm imbricações quase galácticas!), mas o diretor Taylor padece de um mal óbvio: Sua direção não exibe uma personalidade própria, mas, hesitante, parece querer emular o estilo de Joss Whedon em “Vingadores”, mais perceptível em sua nem sempre adequada propensão para o humor –piadinhas que já não combinaram com Thor no outro filme –transformando o núcleo de personagens humanos (Natalie Portman, a charmosa Kat Dennings, o amalucado Stellan Skarsgaard) num alívio cômico quase indigesto.
O resultado ainda é divertido, embora irregular, deixando possível perceber, dessa forma, as tentativas de evolução que a Marvel Studios perscrutava –e que seriam sensivelmente mais bem sucedidas nos excelentes exemplares posteriores, “Capitão América-O Soldado Invernal” e “Guardiões da Galáxia”.
A Marvel ainda está tentando. O próximo filme do personagem, “Thor-Ragnarok”, trás a mais audaciosa e empolgante escolha de diretor já feita pelo estúdio: Taika Waititi, realizador do genial “O Quê Fazemos Nas Sombras”.
Que ele finalmente ganhe a produção épica que merece!

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