Dentre os filmes da Marvel Studios, aqueles que
mais encontraram certa dificuldade para se impor como entretenimento de
qualidade e ao mesmo tempo obra notável de cinema, foram os protagonizados pelo
Deus do Trovão, Thor.
Não havia nada de errado com o ator (Chris
Hemsworth, com freqüência perfeito no papel), mas provavelmente com o tom:
Oriundo de sua mitologia própria –fortemente inspirada nas lendas escandinavas
–Thor pedia uma abordagem criteriosa, minuciosa para com suas extensões
narrativas que envolviam não apenas seus inúmeros personagens secundários, e
suas ambientações de natureza cósmica, mas que também se conectariam com outras
linhas narrativas (a do Homem de Ferro, a do Capitão América...) que tinham por
eixo uma orientação mais realista/científica.
O primeiro “Thor”, dirigido por Kenneth
Brannagh, como filme de origem, saiu-se relativamente bem preparando o terreno
para aquilo que o público de fato queria ver: O filme dos Vingadores.
Passado esse vendaval, contudo, a Marvel
Studios sabia qual seria seu desafio: Voltar aos filmes-solo (e às narrativas
individuais) de cada um de seus personagens, porém, desta vez com a pressão de
que, agora, havia um alto patamar qualitativo pelo qual seriam comparados –“Os
Vingadores”, de Joss Whedom.
E, se “Homem de Ferro 3”, escrito e dirigido
por Shane Black –o primeiro filme lançado depois da reunião da equipe –havia
passado pelo crivo de público e crítica dividindo opiniões, a Marvel não
desejava que o mesmo (ou algo ainda pior!) ocorresse com Thor, uma vez que seu
primeiro filme não era nenhuma unanimidade.
A fim de garantir o tom épico que eles
almejavam desde o começo, a Marvel chamou inicialmente a diretora Patty Jenkins
(de “Monster-Desejo Assassino” e que, atualmente, dedica-se ao filme da “Mulher
Maravilha”), e diante de uma recusa, optou por um diretor dos mais apropriados:
Alan Taylor, que assinou vários episódios da cultuada série de fantasia
medieval “Game Of Thrones”.
O resultado, ligeiramente mais satisfatório
como entretenimento do que o filme anterior de “Thor”, ainda o nivela por
baixo, se comparado à outros trabalhos do Marvel Studios.
Após os eventos espetaculares de "Os
Vingadores", Thor, o filho de Odin, leva Loki (Tom Hiddleston, ocasional
ladrão de cenas dos filmes) seu irmão traidor para seu julgado em Asgard por
seu pai (Anthony Hopkins, em solene piloto automático), mas a tranqüilidade
dura pouco tempo.
Seres de uma maldade ancestral, os elfos negros
e seu senhor, Malekith (Christopher Eccleston, de “Jude”, um vilão padrão), são
despertados com a aproximação de um fenômeno cósmico conhecido por
"convergência". Isso obriga Thor a voltar para a terra, onde
reencontra a jovem astrônoma Jane Foster (Natalie Portman, cujo cacife de
estrela a faz adquirir desnecessária relevância neste filme) que, devido a uma
série de contratempos, torna-se fundamental para a solução dessa crise.
De certa forma, dando continuidade a todo o
universo cinematográfico da Marvel –seus desdobramentos se referem não só ao
filme anterior de Thor com ao dos Vingadores, e vários outros –este “Mundo
Sombrio” promove um aumento de escopo, não há dúvidas (as ações de Thor têm
imbricações quase galácticas!), mas o diretor Taylor padece de um mal óbvio: Sua
direção não exibe uma personalidade própria, mas, hesitante, parece querer
emular o estilo de Joss Whedon em “Vingadores”, mais perceptível em sua nem
sempre adequada propensão para o humor –piadinhas que já não combinaram com
Thor no outro filme –transformando o núcleo de personagens humanos (Natalie
Portman, a charmosa Kat Dennings, o amalucado Stellan Skarsgaard) num alívio
cômico quase indigesto.
O resultado ainda é divertido, embora
irregular, deixando possível perceber, dessa forma, as tentativas de evolução
que a Marvel Studios perscrutava –e que seriam sensivelmente mais bem sucedidas
nos excelentes exemplares posteriores, “Capitão América-O Soldado Invernal” e
“Guardiões da Galáxia”.
A Marvel ainda está tentando. O próximo filme
do personagem, “Thor-Ragnarok”, trás a mais audaciosa e empolgante escolha de
diretor já feita pelo estúdio: Taika Waititi, realizador do genial “O Quê
Fazemos Nas Sombras”.
Que ele finalmente ganhe a
produção épica que merece!
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