sábado, 28 de janeiro de 2017

Pequenas Chamas

Gosto muito de resgatar obras obscuras, aquelas que já se encontram quase à beira do esquecimento na memória cinéfila.
Um caso assim é certamente o intrigante filme italiano “Piccoli Fuochi”, de 1985, que havia sido lançado em VHS no início dos anos 1990, mas provavelmente jamais ganhará uma versão em DVD. Isso porque, nos tempos politicamente corretos de hoje, este filme (que na sua época passou um pouco despercebido) com certeza haveria de ser controverso.
Ele conta a história estranhamente lúdica da crescente obsessão de um garotinho pela sua babá (interpretada por uma tentadora Valeria Golino, de “Rain Man”). E para materializar essa obsessão através dos olhos do menino, o diretor Peter Del Monte lança mão de cenas contundentes de nudez de sua atriz principal –as quais o ator-mirim está quase sempre presente!
Mais ou menos como uma versão menos romântica e infinitamente mais despojada (e inclinada para um certo suspense psicológico) do que Giuseppe Tornatore fez em “Malena”.
A verdade –e esse é um assunto deveras espinhoso –é que em meados das décadas de 1970 e 1980, houve muitos filmes que traziam crianças em produções cinematográficas de texto e subtexto sexual: Na Europa a profusão dessas obras foi muito mais numerosa (caso deste filme), mas nos EUA houve o caso do ator e diretor Melvin Van Peebles que, em “Sweet Sweetback’s Baadasssss” colocou na cena inicial seu próprio filho, Mario Van Peebles (que depois também tornou-se ator e diretor), na época com onze anos de idade, para encenar uma cena de sexo com uma mulher mais velha; até o Brasil entrou na onda com o apelativo “Promiscuidade-Os Pivetes de Kátia” e o bem mais elegante “Amor, Estranho Amor”.
Enfim, na continuidade da trama, quando descobre a existência de um rapaz que namora sua babá, o garotinho logo tem o vislumbre lógico –ainda que não destituído de crueldade –de tirá-lo de seu caminho e para isso (para encorajar os ímpetos de presunçosa psicopatia que por ventura surgem), a narrativa cria três figuras imaginárias –um rei, um dragão e um robô –que tratarão de guiar o garotinho em meio aos detalhes de seu próprio estratagema.

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