sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Tudo Acontece Em Elizabethtown

No filme que possibilitou ao ator Orlando Bloom um protagonismo que fosse além do celebrado Legolas de “O Senhor dos Anéis”, o diretor Cameron Crowe retoma temas caros à sua irregular (ora brilhante, ora claudicante) carreira: Estão aqui as lembranças dolorosas ainda que bem humoradas do passado ("Quase Famosos"), as cenas quase lisérgicas que representam o estado de espírito dos protagonistas ("Vanilla Sky"), a habilidade com a qual seu texto discorre realidade, romantismo e observação através dos relacionamentos (“Vida de Solteiro” e “Jerry Maguire-A Grande Virada”), e o emprego de emotiva função narrativa dado à música (“Digam O Quê Quiserem”).
Esses elementos enchem de estilo e de peculiaridade a história do jovem executivo (Orlando Bloom) que, após um negócio extremamente mal-sucedido, recebe um telefonema lhe avisando do falecimento do pai que há tempos não via. Ele desiste da tentativa de suicídio e resolve voltar para a insólita cidadezinha onde nasceu, Elizabethtown, a fim de participar de todas as cerimônias de despedida do pai falecido, e no processo, reencontrar lá uma coleção de figuras estranhas e diferentes que lhe resgatam uma certa nostalgia. Em algum momento de sua trajetória, ele conhecerá uma jovem aeromoça (Kirsten Dunst, de “Homem-Aranha”), que irá lhe abrir os olhos para outros e melhores aspectos da vida.
Depois de sua obra-prima, “Quase Famosos”, parece inerente ao cinema de Cameron Crowe a celebração de uma filosofia particular de vida onde os prazeres materiais da vida confortável, quando muito, são banalidades que tiram a atenção da real felicidade. Sob esse ponto de vista, ele moldou os roteiros de “Vanilla Sky” (que, apesar de baseado no filme “Abra Los Ojos”, de Alejandro Amenabar, ganhou de Crowe uma roupagem e uma abordagem toda própria) e do irregular “Compramos Um Zoológico”, onde se podia notar uma outra inclinação: Consagrado e com um Oscar de Melhor Roteiro Original debaixo do braço (conquistado por “Quase Famosos”), Crowe foi elevado à categoria de autor, e como tal, não tinha mais restrições em seus rompantes românticos –como aconteceu em “Quase Famosos” e “Jerry Maguire”, seus melhores trabalhos, talvez por conta desse equilíbrio.
Como é visível neste “Elizabethtown”, os delírios autorais de Crowe às vezes saem do controle para além da medida do que é suportável ao expectador, fazendo seu filme soar exagerado, açucarado e afetado –prova disso, o ponto baixo do filme, é o constrangedor discurso da mãe do protagonista (a bela Suzan Sarandon) durante o funeral do marido. Essas decisões tomadas sem uma rédea mais firme comprometem até mesmo a mais bonita seqüência do filme: Quando ao final, o personagem de Bloom faz uma espécie de tour, ao lado das cinzas do pai –um relacionamento que ele não soube fortalecer quando este era vivo –intercalada por uma infinidade de cenas que registram o íntimo informativo e emocional do personagem.
Teria sido um lindo filme se Crowe conseguisse conter um pouquinho mais a sua contagiante predisposição ao romantismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário