No filme que possibilitou ao ator Orlando Bloom
um protagonismo que fosse além do celebrado Legolas de “O Senhor dos Anéis”, o
diretor Cameron Crowe retoma temas caros à sua irregular (ora brilhante, ora
claudicante) carreira: Estão aqui as lembranças dolorosas ainda que bem
humoradas do passado ("Quase Famosos"), as cenas quase lisérgicas que
representam o estado de espírito dos protagonistas ("Vanilla Sky"), a
habilidade com a qual seu texto discorre realidade, romantismo e observação
através dos relacionamentos (“Vida de Solteiro” e “Jerry Maguire-A Grande
Virada”), e o emprego de emotiva função narrativa dado à música (“Digam O Quê
Quiserem”).
Esses elementos enchem de estilo e de
peculiaridade a história do jovem executivo (Orlando Bloom) que, após um
negócio extremamente mal-sucedido, recebe um telefonema lhe avisando do
falecimento do pai que há tempos não via. Ele desiste da tentativa de suicídio
e resolve voltar para a insólita cidadezinha onde nasceu, Elizabethtown, a fim
de participar de todas as cerimônias de despedida do pai falecido, e no
processo, reencontrar lá uma coleção de figuras estranhas e diferentes que lhe
resgatam uma certa nostalgia. Em algum momento de sua trajetória, ele conhecerá
uma jovem aeromoça (Kirsten Dunst, de “Homem-Aranha”), que irá lhe abrir os
olhos para outros e melhores aspectos da vida.
Depois de sua obra-prima, “Quase Famosos”,
parece inerente ao cinema de Cameron Crowe a celebração de uma filosofia
particular de vida onde os prazeres materiais da vida confortável, quando
muito, são banalidades que tiram a atenção da real felicidade. Sob esse ponto
de vista, ele moldou os roteiros de “Vanilla Sky” (que, apesar de baseado no filme
“Abra Los Ojos”, de Alejandro Amenabar, ganhou de Crowe uma roupagem e uma
abordagem toda própria) e do irregular “Compramos Um Zoológico”, onde se podia
notar uma outra inclinação: Consagrado e com um Oscar de Melhor Roteiro
Original debaixo do braço (conquistado por “Quase Famosos”), Crowe foi elevado
à categoria de autor, e como tal, não tinha mais restrições em seus rompantes
românticos –como aconteceu em “Quase Famosos” e “Jerry Maguire”, seus melhores
trabalhos, talvez por conta desse equilíbrio.
Como é visível neste “Elizabethtown”, os
delírios autorais de Crowe às vezes saem do controle para além da medida do que
é suportável ao expectador, fazendo seu filme soar exagerado, açucarado e
afetado –prova disso, o ponto baixo do filme, é o constrangedor discurso da mãe
do protagonista (a bela Suzan Sarandon) durante o funeral do marido. Essas
decisões tomadas sem uma rédea mais firme comprometem até mesmo a mais bonita
seqüência do filme: Quando ao final, o personagem de Bloom faz uma espécie de
tour, ao lado das cinzas do pai –um relacionamento que ele não soube fortalecer
quando este era vivo –intercalada por uma infinidade de cenas que registram o
íntimo informativo e emocional do personagem.
Teria sido um lindo filme
se Crowe conseguisse conter um pouquinho mais a sua contagiante predisposição
ao romantismo.
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