terça-feira, 10 de outubro de 2017

O Hospedeiro

Na cena que abre “O Hospedeiro”, as instalações de um laboratório na Coréia do Sul financiado pelo governo norte-americano querem se livrar de diversos componentes químicos para lá de tóxicos despejando-os no rio Han, tarefa que sobra para um dos funcionários subordinados (Paul Lazar, presença habitual em alguns filmes de Jonathan Demme).
É a deixa para que, através de breves cenas, todas de espantosa simplicidade, o diretor Bong Joon-Ho introduza, justifique e explique com notável eficiência, a presença de uma espécie de peixe monstruoso mutante que irá assolar e aterrorizar uma cidade coreana ao longo do filme.
Mas, “O Hospedeiro” não se vale desse ponto de partida para contar uma mera história de monstro: Na compreensão fulgurante que os realizadores cinematográficos da Coréia do Sul possuem da condição humana, este filme nunca menos que magistral se revela uma incisiva sátira política sobre os danos colaterais varridos para debaixo do tapete quando potenciais brincam de fazer armas biológicas e, ao mesmo tempo, a aflitiva jornada de uma família na comovente tentativa de salvar o membro que une todos os outros, a garotinha Hyun-Seo.
Esse enredo é disparado logo na primeira cena espetacular do filme: A aparição, em plena luz do dia (na qual os efeitos especiais já ostentam todo seu peculiar arrojo), do peixe-mutante (certamente uma das criaturas mais impressionantes do cinema). À beira de um parapeito turístico, uma multidão é flagrada pelo horror aleatório da criatura que avança matando a esmo. E cabe, sobretudo aos adultos, tentar salvar as crianças.
Um deles é Gang Doo (Song Kang-Ho), o aparvalhado filho do dono de uma lanchonete de tofu, que tenta –mas, não consegue –salvar a menininha Hyun-Seo (Go Ah-Sung), sua filha (pasmem, na hora de fugir ele pega na mão da criança errada...).
Hyun-Seo é capturada pelo monstro que a leva para seu esconderijo nos esgotos, onde mata suas vítimas depois de algum tempo.
A família da menina –que além de Gang Doo, incluem Nam-Joo (Bae Doona), sua tia recordista olímpica de arco e flecha, o astuto Nam-Il (Park Hae-Il), seu tio, além de seu avô (Byun Hee-Bong) –une-se e mobiliza-se para achá-la, enquanto subsidiários norte-americanos (entre eles, o ator Scott Wilson, o Hershell da série “The Walking Dead”) tentando ocultar a própria culpa pela poluição que gerou o monstro, planejam uma ofensiva catastrófica contra a criatura.

Neste filme brilhante, tão mais sensacional pela incrível desenvoltura com a qual consegue combinar diferentes gêneros (a sátira política, o filme de monstro e o drama familiar), o diretor Bong Joon-Ho compõe um trabalho onde cada mínimo detalhe contribui para o bem amarrado desenlace do todo (como as habilidades e peculiaridades particulares de cada membro da família), num exemplo perfeito do originalíssimo cinema realizado atualmente na Coréia do Sul.

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