Na cena que abre “O Hospedeiro”, as instalações
de um laboratório na Coréia do Sul financiado pelo governo norte-americano querem
se livrar de diversos componentes químicos para lá de tóxicos despejando-os no
rio Han, tarefa que sobra para um dos funcionários subordinados (Paul Lazar,
presença habitual em alguns filmes de Jonathan Demme).
É a deixa para que, através de breves cenas,
todas de espantosa simplicidade, o diretor Bong Joon-Ho introduza, justifique e
explique com notável eficiência, a presença de uma espécie de peixe monstruoso
mutante que irá assolar e aterrorizar uma cidade coreana ao longo do filme.
Mas, “O Hospedeiro” não se vale desse ponto de
partida para contar uma mera história de monstro: Na compreensão fulgurante que
os realizadores cinematográficos da Coréia do Sul possuem da condição humana,
este filme nunca menos que magistral se revela uma incisiva sátira política
sobre os danos colaterais varridos para debaixo do tapete quando potenciais
brincam de fazer armas biológicas e, ao mesmo tempo, a aflitiva jornada de uma
família na comovente tentativa de salvar o membro que une todos os outros, a
garotinha Hyun-Seo.
Esse enredo é disparado logo na primeira cena
espetacular do filme: A aparição, em plena luz do dia (na qual os efeitos
especiais já ostentam todo seu peculiar arrojo), do peixe-mutante (certamente
uma das criaturas mais impressionantes do cinema). À beira de um parapeito
turístico, uma multidão é flagrada pelo horror aleatório da criatura que avança
matando a esmo. E cabe, sobretudo aos adultos, tentar salvar as crianças.
Um deles é Gang Doo (Song Kang-Ho), o
aparvalhado filho do dono de uma lanchonete de tofu, que tenta –mas, não consegue
–salvar a menininha Hyun-Seo (Go Ah-Sung), sua filha (pasmem, na hora de fugir
ele pega na mão da criança errada...).
Hyun-Seo é capturada pelo monstro que a leva
para seu esconderijo nos esgotos, onde mata suas vítimas depois de algum tempo.
A família da menina –que além de Gang Doo,
incluem Nam-Joo (Bae Doona), sua tia recordista olímpica de arco e flecha, o
astuto Nam-Il (Park Hae-Il), seu tio, além de seu avô (Byun Hee-Bong) –une-se e
mobiliza-se para achá-la, enquanto subsidiários norte-americanos (entre eles, o
ator Scott Wilson, o Hershell da série “The Walking Dead”) tentando ocultar a
própria culpa pela poluição que gerou o monstro, planejam uma ofensiva catastrófica
contra a criatura.
Neste filme brilhante, tão mais sensacional
pela incrível desenvoltura com a qual consegue combinar diferentes gêneros (a
sátira política, o filme de monstro e o drama familiar), o diretor Bong Joon-Ho
compõe um trabalho onde cada mínimo detalhe contribui para o bem amarrado
desenlace do todo (como as habilidades e peculiaridades particulares de cada
membro da família), num exemplo perfeito do originalíssimo cinema realizado
atualmente na Coréia do Sul.
Nenhum comentário:
Postar um comentário