quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Independence Day


 Em 1993, “Jurassic Park” se sagrou como a maior bilheteria da história do cinema, mas seu reinado não durou muito, três anos depois, em 1996, a ficção científica “Independence Day” tomou esse posto, e nele ficou menos tempo ainda (!), já no ano seguinte, aportava nos cinemas um épico chamado “Titanic”, e o resto é história...

No panorama cinematográfico dos anos 1990, “Independence Day” ocupa, portanto, esse lugar de êxito transitório tanto no que diz respeito à sua notável bilheteria, como ao avanço de seus efeitos especiais –e existem uma série de razões para o sucesso que o filme de Roland Emmerich teve, e nenhuma delas está relacionada ao seu astro, Will Smith, praticamente revelado ao público por este filme (e, por ele, catapultado ao estrelato).

“Independence Day” é, em linhas gerais, e sem muita sutileza no disfarce, uma versão modernizada de “Guerra dos Mundos”, de H.G. Wells, tantas vezes transposta para a telona. Seu apelo fundamental está no emprego imodesto dos efeitos visuais que conceberam cenas antológicas e grandiloquentes, de tal forma impressionantes, que uma parcela extraordinária do público entendeu que teriam de ser vistas na tela do cinema.

Cenas como as imensuráveis naves extraterrestres  sobrevoando inúmeras cidades do mundo e a subsequente destruição de Nova York e de Washington por essas mesmas naves não apenas entraram diretamente para o subconsciente coletivo dos cinéfilos (a despeito de serem emolduradas numa trama bastante genérica) como foram recompensadas com o Oscar de Melhores Efeitos Especiais na cerimônia de 1997.

No início, indícios nebulosos sugerem aos especialistas que algo de extraordinário se aproxima do planeta Terra: Naves monumentais, de origem alienígenas, aos poucos se aproximam da atmosfera, alarmando as autoridades do mundo inteiro, em especial, os EUA, onde o presidente, Thomas Whitmore (Bill Pullman, na melhor fase de sua carreira), emite um alerta geral. A chegada das naves (ilustrada na primeira metade do filme, o que resulta num espetáculo verdadeiramente eletrizante) é recebida com apreensão pelos cidadãos do mundo todo: Logo, os indícios se materializam em fatos quando muitas dessas naves aparecem sobrevoando dezenas de cidades espalhadas pelo planeta.

As tentativas de comunicação se iniciam, mas, as verdadeiras intenções dos alienígenas são descobertas, talvez tarde demais, pelo cientista do MIT David Levinson (Jeff Goldblum) e seu pai, Julius (Judd Hirsch, de “Os Fabelmans”): A chegada deles à Terra é completamente hostil; pois, logo na sequência, vemos cidades como Nova York, Washington e Los Angeles serem varridas do mapa.

A humanidade sofre um impiedoso ataque extraterrestre e, agora, os seres humanos sobreviventes precisam contra-atacar.

Nessa progressão de acontecimentos até que bastante previsíveis –sabemos, claro, que a humanidade haverá de reerguer-se e, ao final apoteótico, prevalecer sobre os vilanescos invasores –o diretor Emmerich usa, como opção para valorizar as cenas, uma ênfase e uma referência à muitos obras predecessoras que funcionaram bem, sobretudo, em sua composição visual: As sequências de destruição aludindo aos grandes clássicos do cinema-catástrofe do passado (potencializadas, porém, com efeitos visuais de última geração); os escombros do mundo pós-ataque remetem à produções pós-apocalípticas como “Mad Max”; as sequências de combate aéreo subsequentes lembram “Star Wars” e afins; as aparições ocasionais dos alienígenas almejam um pavor opressivo semelhante à “Alien”. E tudo isso, configura uma trama conduzida por dezenas de personagens pretensamente carismáticos que nem sempre dizem à que vieram: Além dos já citados, temos também a assessora da Casa Branca, Constance (Margaret Colin), romanticamente envolvida com o personagem de Goldblum; o ex-piloto pinel, abduzido por alienígenas no passado, que deseja ingressar na resistência à invasão por um ingênuo sentimento de acerto de contas (Randy Quaid, de “Lua de Papel”); os militares turrões, truculentos, mas, no fim das contas, de bom coração (esses são vários, Robert Loggia, Adam Baldwin, James Rebhorn); e, finalmente, o piloto de caça vivido por Will Smith, Capitão Steven Hiller, introduzido praticamente a partir da segunda metade do filme, que haverá de protagonizar as mais expressivas incursões contra os alienígenas, com suas tiradas engraçadinhas (mais clichê impossível), inclusive a arrojada manobra final de confronto definitivo contra os alienígenas, onde poderá assim vingar a morte do melhor amigo (Harry Connick Jr., de “Memphis Belle-A Fortaleza Voadora”), morto em batalha pelos invasores (risca aquilo que eu falei, ISTO consegue, sim, ser ainda mais clichê!).

Está aí, portanto, uma fórmula não muito difícil de ser apreendida e que garantiu à “Independence Day” o largo sucesso do qual, à época, ele desfrutou: Uma trama banal, reduzida à essência e ao simplismo, contada de modo a soar inteligível ao público, povoada por personagens também de fácil compreensão e de forçosa empatia, mas adornada com elementos visuais arrebatadores, as verdadeiras estrelas principais desta produção, além de um viés patriótico, enaltecendo valores norte-americanos (a data para o contra-ataque da Humanidade, 4 de Julho, o usual feriado americano, passa a marcar, na trama do filme, uma comemoração mundial), que acabou contagiando também as plateias do resto do mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário