domingo, 4 de junho de 2017

Jurassic Park

Existem filmes tão famosos e queridos pelo público que falar deles é como chover no molhado. Que o diga então uma produção como “Jurassic Park” que, embora tenha sido lançado em 1993, não aparenta ser tão antiga, em parte pela estupenda modernidade de seus arrojados efeitos visuais e pela condução mágica e magistral do diretor Steven Spielberg; parte pela lembrança e familiaridade mantidas ainda recentes na memória do público devido ao sucesso de “Jurassic World” que, em 2015, tratou de dar um reinício à franquia após duas continuações inferiores lançadas na década de 1990.
A despeito disso tudo (e mesmo da exposição um pouco exagerada de seu conceito principal, o da presença palpável de dinossauros no meio de nós), o filme original e inicial de Spielberg continua insuperável, um exemplo de uma das mais bem acabadas e refinadas aventuras do cinema.
Sua trama parte de um argumento inventivo –e ocasionalmente mergulhada em meandros científicos desnecessários –imaginado pelo escritor Michael Crichton, onde uma empresa privada pertencente a um multi-milionário visionário, John Hammond (papel que o também diretor Richard Attenborough abraça com entusiasmo), baseando-se em estudos de DNA encontrado em restos de sangue de dinossauro de um mosquito fossilizado, consegue clonar espécimes diversas de dinossauros.
A diversão começa de fato quando Hammond aproveita tal descoberta para criar todo um parque temático, algo inspirado na Disneylândia, e o ambienta em uma ilha, onde planeja lucrar com visitas maciças ao seu assim chamado Jurassic Park.
Restando somente o aval de especialistas para sua inauguração, Hammond convida um casal de paleontólogos, Dr, Alan Grant (o ótimo Sam Neil) e a Dra. Helen Sattler (Laura Dern, atriz predileta de David Lynch, estreando muito bem num blockbuster), um cientista, o desprendido Ian Malcoln (Jeff Goldblum), um advogado (Martin Ferrero) e seus dois netos, a menina Lex (Ariana Richards) e o garotinho Tim (Joseph Mazzello), para um primeiro tour pelo lugar, a fim de ganhar um abalizamento profissional e técnico para inaugurar de fato o parque.
Entretanto, um problema acontece –e o roteiro de David Keep também mergulha em desnecessários meandros técnicos tentando explicar isso: Para resumir, a ganância de um dos funcionários do lugar (vivido por Wayne Knight, um coadjuvante comum em produções dos anos 1990), desejoso de vender os embriões de dinossauros a uma empresa concorrente, leva a um plano catastrófico onde a segurança computadorizada do parque é comprometida e a energia elétrica, desativada.
Assim, os animais pré-históricos, então controlados dentro de cercas eletrificadas, soltam-se ameaçando a vida das pessoas que se encontram lá.
É nesse momento, quando enfim Spielberg se despe das amarras burocráticas da história, que ele dá vazão ao filme que queria fazer: Um entretenimento de primeira, com lances vibrantes de suspense, feito com a sua habitual competência e brindado por valores de produção raros para um filme de verão, como a emocionante e memorável trilha sonora de John Williams e a inventiva edição de Michael Kahn.
Muito do que Spielberg realiza, parte de um tipo de narrativa que ele já tinha se mostrado exímio, mas que fazia alguns anos que ele não exercia –o trabalho meticuloso, climático e austeramente amparado em montagem ritmo e inteligente domínio de câmera, no qual o medo gerado pelas criaturas é sugerido antes de qualquer exposição, tal e qual ele havia feito no primordial “Tubarão”. A diferença é que, se em “Tubarão” Spielberg dispunha realmente de poucos recursos –o que levou-o, por necessidade, à construção desse tipo de atmosfera –em “Jurassic Park”, quando a presença dos dinossauros se faz necessária, eles são materializados com alguns dos melhores efeitos especiais já vistos! Quem viveu naquele ano de 1993 é capaz de lembrar o assombro que foi este filme –e o apelo arrebatador, duradouro e ímpar que levou-o a se tornar, na época, a maior bilheteria da história do cinema, tirando do posto “E.T.-O Extraterrestre”, do mesmo Steven Spielberg, que estava a nove anos com esse honorável título.

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