terça-feira, 6 de junho de 2017

Gosto de Sangue

Já em sua estréia no cinema, os irmãos Joel e Ethan Coen deixaram bem claro o quanto de originalidade estavam dispostos a injetar na indústria hollywodiana: Como em muitos de seus trabalhos, “Gosto de Sangue”, de uma maneira ou de outra, remete ao cinema do passado (neste caso, o film noir), tanto para homenageá-lo, como para redefinir muitos de seus conceitos.
Julian (Dan Hedaya), o rude e violento texano dono de um bar, ao descobrir estar sendo traído pela esposa, Abby (Frances McDormand, casada, na vida real, com Joel Coen, um dos realizadores) com Ray (John Getz), um de seus funcionários, encomenda o assassinato dos dois a um detetive particular (M. Emmet Walsh, numa interpretação carregada de cacoetes repulsivos).
Mas, o detetive tem outros planos: ele assassina o marido traído e planta pistas que incriminam o casal adultero.
O amante, entretanto, descobre o cadáver, e consome com o corpo, crendo que foi a mulher quem cometeu o crime. Quando começam a surgir indícios que podem lhe denunciar, o detetive começa a planejar eliminar o casal também.
A versão lançada para o DVD deste thriller envolvente e impactante é ligeiramente diferente da versão para cinema, datada de um longínquo 1988. Os Irmãos Coen julgavam a versão original muito lenta e enrolada e, ao invés de acrescentar cenas inéditas (o mais comum em "versões especiais") enxugaram ainda mais a narrativa; isso enfatiza ainda mais as intenções revisionistas deste trabalho para com o gênero noir, na forma com que os personagens se apresentam (a femme fatale de utilidade ambígua na narrativa é, aqui, um homem, enquanto que o anti-herói, é uma anti-heroína, na perplexa personagem de McDormand), no nível inédito de sordidez e violência que a modernidade de sua obra lhes permite, e na característica bastante única de seu cinema (os desdobramentos da seqüência final são tão inacreditáveis quanto desconcertantes) que os Coen, desde este trabalho inaugural, já eram capazes de ostentar.

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