Já em sua estréia no cinema, os irmãos Joel e
Ethan Coen deixaram bem claro o quanto de originalidade estavam dispostos a
injetar na indústria hollywodiana: Como em muitos de seus trabalhos, “Gosto de
Sangue”, de uma maneira ou de outra, remete ao cinema do passado (neste caso, o
film noir), tanto para homenageá-lo, como para redefinir muitos de seus
conceitos.
Julian (Dan Hedaya), o rude e violento texano
dono de um bar, ao descobrir estar sendo traído pela esposa, Abby (Frances
McDormand, casada, na vida real, com Joel Coen, um dos realizadores) com Ray
(John Getz), um de seus funcionários, encomenda o assassinato dos dois a um
detetive particular (M. Emmet Walsh, numa interpretação carregada de cacoetes
repulsivos).
Mas, o detetive tem outros planos: ele
assassina o marido traído e planta pistas que incriminam o casal adultero.
O amante, entretanto, descobre o cadáver, e
consome com o corpo, crendo que foi a mulher quem cometeu o crime. Quando
começam a surgir indícios que podem lhe denunciar, o detetive começa a planejar
eliminar o casal também.
A versão lançada para o DVD
deste thriller envolvente e impactante é ligeiramente diferente da versão para
cinema, datada de um longínquo 1988. Os Irmãos Coen julgavam a versão original
muito lenta e enrolada e, ao invés de acrescentar cenas inéditas (o mais comum
em "versões especiais") enxugaram ainda mais a narrativa; isso
enfatiza ainda mais as intenções revisionistas deste trabalho para com o gênero
noir, na forma com que os personagens se apresentam (a femme fatale de
utilidade ambígua na narrativa é, aqui, um homem, enquanto que o anti-herói, é
uma anti-heroína, na perplexa personagem de McDormand), no nível inédito de
sordidez e violência que a modernidade de sua obra lhes permite, e na
característica bastante única de seu cinema (os desdobramentos da seqüência
final são tão inacreditáveis quanto desconcertantes) que os Coen, desde este
trabalho inaugural, já eram capazes de ostentar.
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