A revisão de "Alien" é uma
experiência e tanto.
Em nada este primordial trabalho de Ridley
Scott perde com o passar do tempo. Ele mantem-se uma obra que toca de forma
incisiva no medo primitivo que o ser humano sente do desconhecido, e o faz de
maneira mais pungente que muitos filmes de terror.
Não que "Alien" não seja, ele
próprio, um filme de terror. Scott foi hábil, entre muitas outras coisas, nessa
mescla inédita de gêneros que ele promove aqui.
Quando o filme começa, o perfeccionismo de
caracterização que é uma das macas do diretor (e que seria elevado à outro
nível com "Blade Runner") nos coloca na rotina da nave-cargueiro
Nostromo.
Ao contrário dos filmes de ficção científica em
geral, Scott evita retratar o futuro de modo limpo e esterilizado: A nave é
suja, cheia de graxa e de engrenagens rústicas deixando claro que sua
tripulação não são astronautas em missão de reconhecimento, mas sim
"caminhoneiros" no percurso de mais um trabalho.
Uma intenção confirmada, aliás, pelo próprio
Scott.
Tão logo o filme começa, o computador da nave,
Mãe, lhes orienta para ir a um planeta desabitado, de onde parte um sinal, que
pode ser de socorro.
Ao lá chegar, e iniciar uma inspeção no que
parece ser uma nave alienígena caída, um dos membros da tripulação
(interpretado por John Hurt) acaba infectado por uma criatura desconhecida. É
trazido a bordo. E o pesadelo começa.
É bem provável que todos conheçam a trama de
"Alien" nos dias de hoje. Curioso, é notar que sua simplicidade a
torna ainda mais poderosa: Não há tempos mortos no filme de Ridley Scott, tudo
contribui para fazer com que seu filme seja impecável.
Scott nos passa a enganosa impressão de que não
é difícil realizar uma obra-prima.
A cena em que o Alien 'nasce' do corpo de John
Hurt trata-se certamente de um dos grande momentos do cinema, e de um instante
de choque que o expectador tem a chance de compartilhar com os personagens.
A partir daí, vemos os humanos da tripulação
cada vez mais em desvantagem em relação à criatura alienígena. Mais que isso:
Tal é a forma que a narrativa os hostiliza que a própria nave parece então
assumir as características do Alien; num trabalho magnífico de Scott e de sua
equipe de produção, ao alternar ligeiramente certos elementos da direção de
arte, dos enquadramentos de câmera e da iluminação.
Não à toa, a última sobrevivente, Ripley
(interpretada com presença, minúcia e sensualidade por Sigourney Weaver),
precisa destruir a própria nave para vencer o monstro. São escolhas narrativas
que parecem feitas ao acaso. Mas na verdade não são.
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