Os Irmãos Coen são donos de um talento sem igual. Seus
trabalhos são mergulhos indeléveis na complexidade humana dos personagens, desafortunados habitantes dos universos que abordam. Do sério ao caricato, do brutal ao gaiato,
eles registram as peculiaridades de seus percalços com doses de ironia e simetria visual que
poucos autores são capazes, hoje, de equiparar.
“Inside Llewyn Davis” é, dessa forma, um de
seus flertes com o musical. Engana-se, porém, quem pensar tratar-se de uma
sondagem ao estilo e prosa de “E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?”, com suas
coreografias, seu verniz de irrealidade e sua roupagem à moda dos anos 1950 da
“Odisséia” de Ulisses. Em verdade, o tom adotado aqui aproxima-se um pouco (mas muito pouco) da
profunda melancolia, e por que não, inevitabilidade que pulsa de “Um Homem
Sério”, um trabalho que os Coen, em seu talento primoroso para a
caracterização, transformaram numa das mais genuínas e deprimentes experiências
do cinema.
Llewyn Davis é um cantor de música folk
tentando conquistar um lugar ao sol em Nova York. Não lhe faltam talento, nem
apego ao seu estilo musical. Como também não lhe faltam complicações e
infortúnios que sempre o impedem de deixar de ser um ninguém para se tornar
alguém. O fracasso é um fantasma que paira em sua história a cada momento.
Numa forma de diversificar essa desventura (e, no processo, fazê-la ainda mais agridoce), os Coen fazem com que cruzem seu caminho toda sorte de almas desiludidas, desamparadas e tituradas pela melancolia e ironia da vida: O casal infeliz no amor, mas realizado na música composto por Justin Timberlake e Carey Mulligan; o senhor intratável (John Goodman) que dá carona a Llewyn durante uma viagem, e cujo destino vem de encontro à dissolução moral que ele demonstrou em vida; o empresário obtuso e beligerante de F. Murray Abrahams; e tantos outros.
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