domingo, 10 de janeiro de 2016

Meu Amigo Totoro

Tão rica é a obra de Hayao Myazaki que existem milhares de coisas a se falar sobre ela. E “Totoro” é, com freqüência, sua obra mais notável. 
Ao contrário de tantos outros exemplares da formidável animação japonesa que vieram antes e depois, não há, neste brilhante longa-metragem de Myazaki nenhum vestígio do cinismo que aparece inerente –quase subconsciente –às animações dirigidas para o público infantil.
“Totoro” é todo pureza.
Myazaki acompanha, com uma brilhante atenção aos pequenos detalhes, a trajetória das irmãs Satsuki e Mei, crianças que, logo no início, se mudam para uma casa de campo junto ao pai em meados dos anos 1950. Adaptáveis as meninas logo percebem uma série de fatores inusitados a rondar a casa (que o menino Kanta, da vizinhança, afirma ser assombrada). Em sua grandeza de espírito, Myazaki jamais torna aquilo um conflito ou um motivo de tensão: Na linda caligrafia que ele escreve, as manifestações sobrenaturais e fortuitas que seus personagens flagram são, antes de tudo, motivos de fascínio e júbilo. Não que não hajam intervenções da dura realidade: A mãe delas, por razões nunca elucidadas, está em um hospital. 
Nas imediações da nova casa, uma gigantesca canfoeira chama a atenção das garotas que logo descobrirão um ser místico que mora lá, uma mistura de coruja, urso e guaximim, que delas se tornará amigo. Seu nome é Totoro.
Os momentos em que Myazaki registra a gradual concretização da amizade entre as duas meninas e Totoro são nada menos do que mágicos. 
Como em todos os trabalhos de Myazaki, este aqui possui um universo que obedece todo um repertório de regras próprias. Mas aqui, essas regras jamais parecem se impor à narrativa. A beleza de “Totoro” transparece em cada instante de filme, fazendo com que a própria narrativa acabe remetendo características lúdicas que fazendo com que pareça uma lembrança de infância.

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