quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Grand Central

O amor que nos conduz à ruína. O amor que, em sua embriaguez, nos leva a ferir as pessoas que temos em alta conta. Essa propriedade algo corruptora do amor já serviu de expediente inúmeras vezes no cinema.
Em “Grand Central”, ela é novamente retomada na história de Gary Manda (Tahar Rahim, de “O Profeta”) cuja vida sem rumo eventualmente repousa numa comunidade de trabalhadores surgida em torno do funcionalismo de uma usina nuclear. Ele passa a trabalhar na usina e a conviver com suas peculiares normas que previnem tragédias por contaminação radioativa. Seu amigo é o veterano funcionário Toni (Denis Menochet, de “Bastardos Inglórios”), casado com uma mulher bem mais jovem, a belíssima Karole (Lea Seydoux, recém-saída da consagração de “Azul É A Cor Mais Quente”) –curiosamente, Menochet e Lea interpretaram pai e filha na breve cena em que aparecem em “Bastardos Inglórios” (!).
Como reza a melodramática cartilha desse cinema que norteia “Grand Central”, Gary e Karole irão se envolver às escondidas, ocultando de Toni e de todos sua relação adúltera. O amor é, então, combustível para a traição e a mentira, e assim um agente fundamental da destruição.
Mais que isso, na analogia estipulada pelo diretora Rebecca Zlotowski, o amor é o artifício que leva Gary a optar pela deterioração da própria vida: Infectado pela radiação num momento de descuido, ele esconde de todos o incidente –e, sobretudo, seus sintomas dolorosos nos dias que se seguem –a fim de protelar o máximo possível o momento que terá de decidir, ao lado de Karole, que rumo darão, afinal, às próprias vidas: Escolher quando a mentira deve acabar, antes que essa escolha deixe de ser deles para pertencer à imprevisibilidade do acaso.

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