O amor que nos conduz à ruína. O amor que, em
sua embriaguez, nos leva a ferir as pessoas que temos em alta conta. Essa
propriedade algo corruptora do amor já serviu de expediente inúmeras vezes no
cinema.
Em “Grand Central”, ela é novamente retomada na
história de Gary Manda (Tahar Rahim, de “O Profeta”) cuja vida sem rumo
eventualmente repousa numa comunidade de trabalhadores surgida em torno do
funcionalismo de uma usina nuclear. Ele passa a trabalhar na usina e a conviver
com suas peculiares normas que previnem tragédias por contaminação radioativa.
Seu amigo é o veterano funcionário Toni (Denis Menochet, de “Bastardos
Inglórios”), casado com uma mulher bem mais jovem, a belíssima Karole (Lea
Seydoux, recém-saída da consagração de “Azul É A Cor Mais Quente”)
–curiosamente, Menochet e Lea interpretaram pai e filha na breve cena em que
aparecem em “Bastardos Inglórios” (!).
Como reza a melodramática cartilha desse cinema
que norteia “Grand Central”, Gary e Karole irão se envolver às escondidas,
ocultando de Toni e de todos sua relação adúltera. O amor é, então, combustível
para a traição e a mentira, e assim um agente fundamental da destruição.
Mais que isso, na analogia estipulada
pelo diretora Rebecca Zlotowski, o amor é o artifício que leva Gary a optar
pela deterioração da própria vida: Infectado pela radiação num momento de
descuido, ele esconde de todos o incidente –e, sobretudo, seus sintomas
dolorosos nos dias que se seguem –a fim de protelar o máximo possível o momento
que terá de decidir, ao lado de Karole, que rumo darão, afinal, às próprias
vidas: Escolher quando a mentira deve acabar, antes que essa escolha deixe de
ser deles para pertencer à imprevisibilidade do acaso.
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