Profano. Este é o adjetivo mais recorrente quando assistimos “A Escola da Besta Sagrada”, todavia, se para os ocidentais soa incômoda a miscelânea visual de elementos religiosos com sadismo e erotismo, os orientais, por sua vez, num país como Japão, de minoria católica, tinha (e tem) realizadores que podem se dar ao luxo de tratar do tema com iguais ousadia e despreocupação.
Nos anos 1970, quando o chamado exploitation passou a contaminar a
produção mercadológica de estúdios mais picaretas, logo surgiram virações de
sub-gênero no que tange ao uso da pornografia e da violência; um deles era o nunsploitation, no qual freiras eram
frequentemente filmadas em cenas de sexo e de nudez, uma forma de enfatizar a
perversão potencial e latente por trás de uma postura tão austera –com efeito,
filmes dessa natureza acabaram se tornando bem comuns em nichos específicos.
Dirigido por Norifumi Suzuki, “A Escola da
Besta Sagrada” era um produção que reservava pouco à imaginação, saciando a
avidez pervertida de seu público com sucessivas sequências libidinosas e
chocantes, contudo, o elemento que o tornou inesperadamente perene foi sua
atriz principal: Yumi Takigawa se tornou, poucos anos depois, uma estrela no
Japão e, com o status alcançado, podia vetar cenas explícitas em seus filmes, o
que tornou “A Escola da Besta Sagrada” –e as cenas extasiantes de nudez que ela
protagoniza –uma espécie de preciosidade!
Yumi Takigawa interpreta a jovem Mary que, na
cena inicial, passeia pela Europa, inclusive num encontro sexual com um
pretendente. Tão logo os créditos transcorrem, porém, essa ambientação muda
radicalmente. Das ruas agitadas e permissivas do Ocidente, vamos para um
convento no Japão, onde Mary se torna uma das freiras recém-admitidas.
Entretanto, a fachada de moralismo (e de
hipocrisia) mantida no convento não tarda a revelar fissuras: Lá, há de tudo um
pouco! As freiras praticam lesbianismo (!) e, com frequência, burlam as leis
cristãs para poderem pecar (!!), impelidas por desejos incontroláveis.
Quando descobertas, os castigos espelham a
mesma audácia: As pecadoras são amarradas, nuas –ora com correntes de ferro,
ora com galhos espinhosos –e açoitadas com requintes sádicos pela Madre
Superiora Adjunta e suas seguidoras.
Há um fiapo de trama –que começa a ganhar mais
estatura na segunda metade –onde vemos a história de Mary ser melhor esmiuçada:
Descobrimos que ela é filha de outra freira, Mary Michiko, daquele mesmo
convento, e que sua morte tem relação direta com o diretor todo-poderoso do
convento, o Padre Kakinuma (Fumio Watanabe), uma espécie de versão nipônica do
Monge Rasputin, controlador, sórdido e cruel.
Na caligrafia de simbolismos desvendada por
Norifumi Suzuki, o Padre Kakinuma –cujo dorso ostenta deformações causadas pela
bomba atômica –é uma consequência do ataque nuclear à cidade de Nagazaki,
durante a Segunda Guerra Mundial: A cidade era um pólo de predominância
católica, e sua destruição (bem como a degradação de valores demonstrada por
esse antagonista), resultava numa trágica ironia em relação à essa inclinação
ocidental.
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