Após emplacar um sucesso na Austrália com o suspense de baixo orçamento “Patrick”, o diretor Richard Franklyn, tendo antes concluído uma faculdade de cinema nos EUA, tornou a realizar uma obra em seu país-natal, obedecendo a orientação do ciclo ‘ozploitation’ de então; produções australianas que traziam uma peculiaridade característica daquela cultura como forma de transgredir tabus (sexo e violência, na maioria das vezes) e usar isso como apelo de público.
Franklyn, no entanto, tinha aspirações
cinematográficas mais nobres.
Para “Road Games” –ou “Enigma Na Estrada” –ele
tinha, como ponto de partida, a ideia de um enredo que aproveitava “Janela Indiscreta”, de Alfred Hitchcock, seu grande ídolo, transposto para as estradas
longínquas do outback australiano. Com tal roteiro (escrito por Everett De
Roche, seu colaborador em “Patrick”), ele concebeu a mais cara produção
cinematográfica da Austrália até então, inclusive a contar com astros do
período, como Stacy Keach (vindo de obras marcantes como “Cidade das Ilusões”, de
John Huston) e Jamie Lee Curtis (sugerida a ele por seu colega de curso, John
Carpenter, que a havia dirigido no ano anterior em “Halloween”).
Keach é Pat Quid, um caminhoneiro com alma de
poeta cujos monólogos ao volante, enquanto conduz seu caminhão pelos desertos
australianos, têm por ‘ouvinte’, o pacato dingo de estimação que lhe faz
companhia.
O detalhe pode parecer banal, mas não é: O fato
de ter alguém (ainda que somente um animal) para quem verbalizar suas
impressões, permite ao roteiro orientar o tempo todo o expectador ao que passa
pela cabeça do protagonista, sobretudo, suas incômodas suspeitas a medida que
elas começam a se acumular. Estrada afora, Quid cruza-se volta e meia com um
certo motorista de um furgão verde, o qual ele alimenta indícios (que talvez
sejam claros apenas para ele próprio) de que seja o serial-killer a vitimar
mulheres e que vem sendo mencionado nas estações de rádio; a morte de uma
delas, aliás, mostrada no prólogo, é uma das cenas que expressam muito bem a
prodigiosa capacidade do diretor em criar momentos visualmente antológicos.
Ao longo do ir e vir de Quid, acompanhamos,
junto do perplexo protagonista, outros viajantes da estrada, as pistas que ele
reúne, aqui e acolá (elementos que, de fato, remetem imediatamente à
Hitchcock), as aparições sempre questionáveis e algo fantasmagóricas do tal
furgão verde e a crescente preocupação que Quid passa a alimentar por uma jovem
caronista americana (Jamie Lee Curtis), temoroso que ela possa ser a próxima vítima
do psicopata.
Esses fatores, somados à ambientação e
possivelmente ao estilo de filmagem da época, também aproximam muito “Enigma Na
Estrada” de “Encurralado”, de Steven Spielberg, também ele um suspense
transcorrido nas espartanas circunstâncias de rodovias desérticas.
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