segunda-feira, 22 de maio de 2017

Janela Indiscreta

Mais uma premissa básica que, nas mãos hábeis do mestre Alfred Hitchcock, torna-se uma obra-prima indiscutível de cinema.
Sempre atento às pulsões humanas que geram a obsessão, Hitchcock registra uma neurose após a outra, ao mostrar um fotógrafo (James Stewart), temporariamente inviabilizado pela perna quebrada, cujo apartamento oferece uma exuberante distração para os dias de ócio e recuperação: Uma vista ampla e diversificada para todos os quartos do prédio em frente, no qual seus moradores vivem as mais diferenciadas tramas.
O voyeurismo que Hitchcock busca expor encontra ligeira contradição, ainda que uma fascinante dicotomia, no fato de que a namorada do fotógrafo, personificada por uma deslumbrante Grace Kelly, se vê em segundo plano diante do interesse do namorado em bisbilhotar os vizinhos. Há muito da gênese e dos propósitos da emancipação feminina, e de uma cuidadosa construção de personagens, nessa questão, onde o diretor, sem perda de tempo, estabelece a personalidade algo indomável do fotógrafo em contraponto à fascinante dualidade da personagem de Grace Kelly, uma socialite impecavelmente vestida e pontualmente conhecedora das festas, mas que não hesita em demonstrar coragem, paciência, companheirismo e bom senso quando  pede o momento.
Hoje em dia, tão impregnado seu conceito está na cultura pop, que todo mundo deve saber a respeito da trama que se constrói em seguida: Um desses vizinhos, logo, começa a apresentar indícios suspeitos de que sua esposa, tão presente, beligerante e reclamante nos dias anteriores, e agora desaparecida, pode ter encontrado o mais terrível dos desfechos.
Agregando passo a passo informações pertinentes ao desenrolar do plot, com a habilidade e o conhecimento que ele tão bem ostentou em outros trabalhos –e, do qual, sem ressalvas, fez dele um mestre –Hitchcock não se desvia da coerência com a qual pontuou os conceitos subliminares de seu filme, mas também nunca deixa de entregar ao público a realização que se dispôs a fazer: Um pequeno, descompromissado, envolvente e antológico conto de suspense, pedra fundamental para muito do que seria feito nesse gênero dali por diante.

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