segunda-feira, 22 de maio de 2017

O Pecado Mora Ao Lado

Entendedor brilhante do caos efervescente da alma humana, o diretor Billy Wilder foi um caso inusitado e raro de autor que dedicou sua filmografia a discorrer sobre seus temas pertinentes de fato em tom de comédia –quando a maioria preferia investir da elegância do drama.
Embora hajam aqueles que enalteçam “Se Meu Apartamento Falasse” e “Quanto Mais Quente Melhor” como as grandes obras de sua carreira, ainda sigo acreditando que é este primordial “O Pecado Mora Ao Lado” o merecedor de tal título.
Wilder já demonstra sua habilidade inata para combinar a análise de costumes, o olhar penetrante nas mazelas do homem e a comicidade irreprimível no início, com a analogia graciosa, divertida e, não raro, carregada audaciosamente de ramificações sexuais entre o comportamento do homem moderno e dos índios americanos.
Essa premissa logo dá o ponta-pé inicial da história do Sr. Sherman (Tom Ewell, um comediante de mão cheia!), nova-Iorquino de meia idade e casado há sete anos que fica sozinho todo um fim de semana em casa, enquanto a mulher e os filhos saem a um passeio.
Ele pretende aproveitar esse raro momento de paz e tranqüilidade para descansar, e, por que não, vislumbrar a época de solteiro em que não tinha preocupação alguma. Mas eis que surge a nova vizinha do andar de cima (e não "do lado" como sugere o título), garota bonita e insinuante que é a própria tentação encarnada –e, sendo ela interpretada por Marilyn Monroe em pessoa (na época já um símbolo sexual consolidado e implacável), esse eufemismo se torna bastante desnecessário!
Visitas indesejadas de última hora, qüiproquós e outras confusões pontuam este trabalho, constituído de uma encenação sólida e bem marcada, com entradas e saídas de cenas definindo o andar da narrativa, e uma curiosa (e, talvez, anacrônica para os tempos de hoje) aura politicamente correta a nortear as iniciativas de seu protagonista.
Em tempo: Esta brilhante comédia de costumes conta ainda com a famosa cena que resume à perfeição o mito de Marilyn Monroe –ela e o seu vestido branco esvoaçante levantado pelo vento do metrô.

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