Vez outra surge um filme tão
extraordinariamente genuíno, tão confiante e confortável com suas próprias
características que arrebata público e crítica a ponto de quase ressuscitar um
gênero que antes era dado como morto pelos estúdios.
Pode-se dizer que foi assim com “Gladiador”, em
relação aos épicos romanos; com “Piratas do Caribe” em relação aos filmes de
piratas (embora nenhum exemplar expressivo tenha surgido depois deles). E foi
assim, também, com “A Máscara do Zorro”.
Uma prova inconteste da habilidade que o
diretor inglês Martin Campbell possui para remodelar em seus elementos
clássicos os heróis do passado (havia sido realizada por ele a bem-sucedida
estréia de Pierce Brosnan como James Bond em “007 Contra Goldeneye”, e o início
da reformulação do mesmo personagem, com Daniel Craig, uma década depois, em
“Cassino Royale”), esta aventura capa-espada beneficiava-se acima de tudo de um
trio protagonista prodigioso e suas mais fundamentais e bem aproveitadas
qualidades: Anthony Hopkins –surpreendente numa inesperada escalação como o
próprio Zorro –, Antonio Banderas –vivendo uma espécie de “segunda geração” do herói,
e revelando-se, também ele, uma escolha perfeita –e a galesa Catherine
Zeta-Jones, no filme que a revelou para o cinema hollywoodiano.
Dom Diego de La Vega, identidade secreta do
herói mascarado Zorro, já em fim de carreira tem o seu segredo descoberto por
seu pior inimigo, o opressor Don Rafael Montero, que o prende e lhe toma
Helena, sua filhinha recém-nascida.
Os anos se passam na ainda oprimida província
da Califórnia do século XVII, quando um já envelhecido Dom Diego (Anthony
Hopkins, charmoso e altivo ao personificar duas facetas distintas do mesmo
personagem) escapa e passa a treinar como seu sucessor o impetuoso e
indisciplinado ladrão Allejandro Murietta (Antonio Banderas, tão interessante
em seu papel quanto Hopkins). Seu objetivo é vingar-se de Rafael, agora um
nobre fidalgo, e recuperar sua filha Helena, agora uma belíssima mulher que se
enamora justamente de seu pupilo (vivida pela linda e fulgurante Catherine
Zeta-Jones).
A solução para todos os desenlaces e conflitos,
por vezes repousa no retorno mais do que necessário do lendário Zorro.
Das mais saborosas versões do herói já
produzidas e repleta de cenas divertidíssimas de ação, esta eufórica e
empolgante produção, se desliza em algum quesito certamente é em seus vilões.
Seja Rafael (Stuart Wilson), seja o almofadinha detestável, capitão Harrison
Love (Matt Letscher), nenhum deles consegue igualar a dupla central em carisma
e presença de cena.
Mas, é certamente uma falha
menor diante de um filme capaz de proporcionar um prazer tão genuinamente
escapista ao expectador.
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