quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Patrick

Uma das produções mais louvadas da ‘ozploitation’, o suspense australiano “Patrick” é um trabalho cheio de competência e considerações cinematográficas notáveis da parte de seu roteirista e diretor Richard Franklin.
Seu início se dá, antes de tudo, no close-up de um olho –o olho de Robert Thompson que interpretará o vegetativo protagonista, Patrick, pelo restante de todo o filme –uma ênfase no ato do olhar que define, afinal, o cinema e que será a única alternativa resguardada a seu personagem-título. Pois, Patrick, após um prólogo a um só tempo surreal, elucidativo e nebuloso (envolvendo o comportamento imoral de sua mãe e as reações algo vingativas da parte dele), envolveu-se em algum acidente que confinou-o, nos três anos seguintes, a um leito de hospital onde, na opinião de médicos e enfermeiras, não está nem vivo, nem morto.
Outra protagonista do filme, desta vez, capaz de falar e interagir com os coadjuvantes (e, portanto, mais útil à narrativa) é a jovem enfermeira Kathy Jacquard (Susan Penhaligon), ávida por obter trabalho depois do recente divórcio.
Admitida com muito contragosto na Clínica Roget pela apática a amargurada freira Madre Cassidy (Julia Blake), ela recebe a incumbência de zelar pelo comatoso Patrick durante todo seu expediente.
As demais enfermeiras têm medo dele. Coisas inexplicáveis às vezes acontecem dentro de seu quarto. O único a frequentá-lo é o Dr. Roget (Robert Helpmann, de uma expressão maníaca, típica de filme de terror), dono da clínica, e interessado em manter Patrick nesse estado vegetativo como forma de estudar a fundo a região fronteiriça entre o que se supõe ser vida e morte.
Contudo, a grande sacada em torno da qual “Patrick” gira é sugerida por outro personagem, o Dr. Wright (Bruce Barry), uma espécie de pretendente da Enfermeira Jacquard: De que, diante da perda de um sentido, o corpo compensa fortalecendo os demais; tendo Patrick perdido supostamente todos os sentidos, ele teria desenvolvido sentidos diferenciados e ocultos como a telecinese (através da qual a mente pode mover outros objetos).
A partir daí, a narrativa assume uma postura onde suas intenções vão gradualmente sendo reveladas ao expectador enquanto o roteiro pacientemente constrói a estrutura de sua premissa: A Enfermeira Jacquard –única pessoa a nutrir certa empatia por Patrick em toda clínica –torna-se uma espécie de obsessão para ele, e dessa forma, Patrick usa de seus poderes para eliminar aqueles que podem afastá-la dele: A Madre Cassidy, quando tenta demiti-la, acaba eletrocutada no porão da clínica; o ex-marido dela (Rod Mullinar), quando começa a se reaproximar em busca de uma reconciliação, é aprisionado dentro do elevador defeituoso do lugar; e o próprio Dr. Wright, ao tentar um flerte um pouco mais ousado, sofre um inexplicável incidente numa piscina (com direito a uma bem-humorada referência à “Tubarão”).
De um resultado desigual e curioso. “Patrick” pode até ter passado anos despercebido do público convencional e comum do circuito comercial, mas foi certamente notado por cinéfilos aptos a farejar pérolas ocultas, como o próprio Quentin Tarantino que plantou em seu “Kill Bill” algumas referências bastante diretas e apaixonadas ao trabalho de Richard Franklin.
P/S: Há uma cena na qual uma das enfermeiras se refere aos “Gremlins”, anos antes do filme de 1984 ser realizado (“Patrick” é de 1978!). Isso se deve porque os gremlins não eram criações exclusivas da obra de Joe Dante, mas, sim criaturas malévolas vindas da tradicional mitologia saxã-germânica.

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