Após o enorme sucesso de “Tubarão” muitos foram
os estúdios que buscaram lucrar investindo em produções que replicassem o apelo
do sensacional suspense de Steven Spielberg, e isso gerou até mesmo uma espécie
de sub-gênero (algo do qual podemos até falar um outro dia).
Uma dessas, digamos, “obras inspiradas” por
“Tubarão”, foi a produção de baixo orçamento, “Piranha”, que destacou-se dos
demais filmes que proliferaram com esse mote pela direção inventiva do jovem
Joe Dante –tanto que o próprio Spielberg gostou bastante do resultado, o quê
salvou o estúdio que bancou o filme de um belo processo da Universal!
Mais tarde, Spielberg expressou sua vontade de
trabalhar com Dante produzindo “Gremlins”, um roteiro original escrito por
Chris Columbus, e justamente um trabalho onde Joe Dante aproveitou para
subverter a premissa básica do próprio “E.T.” de Spielberg: Um garoto e sua
terna relação com um ser fantástico.
Se em “E.T.” havia o garotinho Elliot tentando
ajudar um extra-terrestre que se perde na Terra e uma narrativa que refletia
todas as boas intenções de seu realizador, assim como os elementos que sempre o
fascinaram, em “Gremlins” a coisa era bem diferente.
O jovem e sonhador Billy (Zach Galligan), assim
como sua bela namorada Kate (Phoebe Cates, maravilhosa) não vê muitas
perspectivas na vida rotineira da pequena cidadezinha onde moram, cheia de
pessoas provincianas ou ranzinzas.
Como presente antecipado de Natal, o pai de Billy, um inventor que tem lá seus sonhos também um pouco frustrados, dá a ele de
presente um bichinho exótico chamado Gizmo (um verdadeiro primor de
animatrônica que encanta desde a primeira cena).
Mas, existem três regras específicas para serem
seguidas a fim de cuidar bem dele e não arrumar problemas com o bichinho.
A primeira: Nunca expô-lo à luz forte (isso
pode matá-lo!).
A segunda: Deixá-lo sempre longe de água –pois
ele se multiplica exponencialmente sempre que se molha (e, desnecessário dizer
que essa é uma regra que logo é quebrada).
E a terceira e mais importante: Nunca de forma
alguma alimentá-lo depois da meia-noite.
Quando essa terceira regra é descumprida, uma
metamorfose começa a ocorrer com os vários bichinhos que, de seres pequeninos e
felpudos, se transformam em criaturas assustadoras que lembram duendes
reptilinianos: Os endiabrados Gremlins.
O caos que eles promovem na cidadezinha (e que
revela uma inconseqüência deliciosa da parte das criaturas) é mostrado pelo
diretor Dante com uma irreprimível satisfação compartilhada pelo expectador: Se
Spielberg é um garoto bom e educado, então Dante é uma criança muito, muito má!
Uma mescla cheia de estilo
e personalidade entre comédia de rasgado humor negro, aventura juvenil e terror
pueril, uma das produções mais lembradas e cultuadas dos anos 1980 e um dos
vários filmes apadrinhados por Steven Spielberg daquele período (cujo exemplar
mais honorável é certamente a “Trilogia De Volta Para O Futuro”) que hoje são
lembrados como divisores cinematográficos de águas na memória afetiva de toda
uma geração.
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