sexta-feira, 19 de maio de 2017

A Troca

Em sua trajetória como diretor de cinema, o astro Clint Eastwood fez pelo menos duas obras de grandeza inquestionável. Um, certamente, é o seu monumental faroeste, “Os Imperdoáveis”, e o outro, provavelmente, é este estupendo “A Troca”.
Baseado na história real de Christine Collins.
Nos anos 1920, ela, uma funcionária pública e mãe solteira (Angelina Jolie, impecável) tem seu filho de nove anos dado como desaparecido. Cinco meses depois, após buscas infrutíferas e críticas constantes a sua ineficiência, a polícia de Los Angeles lhe entrega um menino, afirmando ser o filho que ela perdera. Mas a mãe está plenamente convicta de que aquele não é seu filho, e desespera-se ao perceber que as buscas foram encerradas.
Numa situação em que pode constranger e comprometer a atuação da polícia, os membros da força resolvem calá-la internando-a em uma clínica psiquiátrica, alegando insanidade. Mas nem mesmo isso poderá calar sua voz aflita.
Pouco a pouco, este grande trabalho na direção de Clint Eastwood vai deixando de ser aquilo que aparentava no princípio (um suspense dramático sobre uma criança desaparecida) e envereda por uma história salutar e transformadora (e ainda espantosamente real!), por meio da qual os esforços e convicções de uma mulher foram capazes de operar mudanças em toda uma sociedade. Para tanto, é providencial e notável a participação de John Malkovich (num personagem que ganha força e expressão no segundo terço de filme). Notável também é a maneira que Eastwood, em sua direção sempre serena e requintada, enfatiza os elementos macabros inerentes à trama –e, num determinado momento, os registros de psicopatia a que chegam as ramificações da trama (envolvendo até mesmo crianças!) são, de fato, chocantes. Um filme dramático, humano, cru, e no entanto, dos mais recompensadores do cinema.

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