Não confundir este filme com o épico de guerra
realizado por Jean-Jacques Annaud em 2001.
Após a aclamação mundial experimentada por
“Labirinto do Fauno”, o mexicano Guilhermo Del Toro realizou esta ambiciosa
tentativa de saltar do cinema artístico para o comercial empregando elementos
que, em tese, eram infalíveis junto ao público: Embates monumentais entre
monstros (uma especialidade de Del Toro como todas as suas realizações são
capazes de comprovar) e robôs gigantes, numa obra que não fazia questão nenhuma
de esconder sua influência completa em obras oriundas da cultura pop japonesa.
A mitologia que Del Toro criou em torno desse
conceito tão simples, por sua vez, não tinha nada de modesta: Em algum momento
do futuro, a Humanidade se vê assolada por ataques sistemáticos de monstros
gigantescos, chamados ‘Kaijus’, saídos de uma falha no Oceano Pacífico
conhecida por “Pacific Rim” –o título original do filme, à propósito –e, em seu
enfrentamento da calamidade, surgem os ‘Jaeggers’, robôs equivalentes aos
‘Kaijus’ em suas agigantadas proporções e, por isso mesmo, capazes de se opor a
eles e proteger as cidades costeiras, alvos iniciais na sua invasão antes do
resto do mundo.
Seguem-se embates ferozes.
Com o passar dos anos, o Projeto Jaegger se
torna um orgão de recrutas como a marinha ou a aeronáutica –a diferença é que
os operadores dos ‘Jaeggers’ precisam encontrar um parceiro (ou parceira) de
raciocínio absolutamente compatível. Os ‘Jaeggers’, máquinas imensuráveis
controladas mentalmente por seus usuários, têm programação deveras pesada para
e mente de um único piloto, necessitando de dois para que os comandos mentais
não subjuguem a mente de uma só pessoa.
De volta à ativa após a perda de seu co-piloto
e melhor amigo, o controlador de ‘Jaegger’, Raleight Becket (Charlie Hunnam)
escolhe entre tantos candidatos, a jovem
Mako Mori (Rinko Kikuchi), sobrevivente de um ataque de ‘Kaiju’, para pilotar
com ele seu ‘Jaegger’.
Isso ocorre bem a tempo: As pesquisas
desengonçadas e um tanto intuitivas dos cientistas Newton Geiszler e Hermman
Gottlieb (Charlie Day e Burn Gorman, dois alívios cômicos pra lá de forçados!)
apontam que uma incursão de ‘Kaijus’ sem precedentes está prestes a acontecer,
com monstros em número muito maior que antes e em tamanhos ainda mais
assombrosos.
Comparado com diretores como Joss Whedon e Zack
Snyder, que em anos imediatamente pregressos também entregaram filmes que, cada
qual ao seu estilo, ofereciam cenas hipnóticas e retumbantes de destruição (“Os Vingadores” e “Homem de Aço”, respectivamente), o diretor Guilhermo Del Toro
foi mais acarinhado pela crítica por sua postura dramaticamente mais centrada
de tais sequências, o que não significa que deveras ele tenha alcançado alguma
perfeição com “Círculo de Fogo”: Se Del Toro é (e, de fato, sempre foi) um
esteta dotado de refinada percepção visual para com o espetáculo que rege (e
“Círculo de Fogo” é um exemplar vibrante dessa sua faceta), ele também acredita
ocasionalmente que tal assombro basta para fazer de sua obra um grande filme em
si, e parece se esquecer (deliberadamente até em alguns momentos) que roteiro e
personagens precisam caminhar num acabamento igualmente harmonioso para que
tudo funcione.
Pois, “Círculo de Fogo” tem um roteiro que, se
constrói com zelo e esmero o universo específico dentro do qual sua trama irá
desenvolver-se, ao mesmo tempo avança com desleixo e até uma sucessão de
clichês nas situações que determinam seu arco narrativo (parece até que Del
Toro abraça essa visão unilateral e convencionalista de cinema); e seus
personagens, ainda que muitos deles sejam dotados de carisma e interpretados
por atores capazes e admiráveis (sendo Idris Elba, talvez, seu exemplo mais
salutar), carecem de motivações reais e plausíveis, preenchendo suas
trajetórias com momentos quase constrangedores de tão mal planejados (caso do
lapso desmedido que ocorre à personagem de Rinko Kikuchi quando entra pela
primeira vez num ‘Jaegger’).
É uma aventura possível de
ser apreciada, sobretudo, pelos expectadores que se focarem em seu espetacular aparato
técnico e visual, pois no que diz respeito a todo o resto (dramaturgia,
história e caracterização), Del Toro mostrou-se bastante descuidado e
indiferente, indícios da confiança desmesurada que ele certamente nutria pelo
material.
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