segunda-feira, 10 de agosto de 2020

O Predador 2 - A Caçada Continua

“Predador 2” entrou para a crônica cinematográfica do início dos anos 1990 como um projeto mal-sucedido, em grande parte devido ao retorno insatisfatório na bilheteria em comparação ao vultuoso orçamento gasto pelo produtor Joel Silver; e por tal infortúnio, ele também é lembrado como um filme inferior na comparação com o original e fracassado também na intenção de agradar a crítica. Ninguém imaginava que seria mesmo fácil para o jovem diretor Stephen Hopkins ombrear a sagacidade e o manejo prodigioso de elementos perpetrados por John McTiernam em “O Predador”.
Entretanto, visto hoje –e sob um ângulo geral de continuações em justaposição aos seus originais –“Predador 2” se revela algo notável: Hopkins foi inteligente e habilidoso o bastante para manter um ritmo e uma identidade visual que, na medida do possível e do aceitável, espelhavam a mentalidade por trás do trabalho de McTiernam. Se em “O Predador” a selva na qual se ambientava o filme era um personagem à parte com uma direção de fotografia minimalista e engenhosa, neste segundo filme, a cidade de Los Angeles onde a trama se passa (porque é um tanto quanto óbvio a escalada de ‘selva’ para ‘cidade grande’ na premissa de uma continuação...) surge também ela detalhada, atendendo aos mesmos traquejos de câmera, apresentando um peculiaridade visual caótica, detalhada e muito parecida.
Não há dúvidas: No calor que retrata em seus filtros quentes (e no suor e nos comentários dos personagens) e na alta voltagem impressa desde a primeira cena de tiroteio, este é um lugar perfeitamente possível de atrair as atenções do famoso alienígena que caça por esporte.
Sua presença já se evidencia na primeira cena, onde traficantes e policiais travam um tiroteio tão brutal e selvagem que chega a ser caricato. Ali também surge, de forma igualmente caricata, o protagonista vivido por Danny Glover, Tenente Mike Harrigan, que numa pose típica de herói de ação arremessa um carro cobre os bandidos. Bom ator, Glover vai se impondo nesse raso personagens aos poucos, ainda que jamais consiga igualar o carisma de Schwarzenegger, e francamente, nem tenha tantas oportunidades assim para bem interpretar –estamos falando de um filme de ação, oras!
De qualquer maneira, embora difícil de engolir, a cena que o introduz no filme serve ao menos para mostrar o porque do policial logo se tornar uma espécie de prêmio para o predador, tão logo o alienígena dá cabo instantaneamente de todos os traficantes, alarmando a polícia.
Entra em cena o agente do FBI, Peter Keyes (Gary Busey, de “Caçadores de Emoção”), que logo assume o estranho local do crime antes de Harrigan e seus parceiros –o boa-praça Danny (Rubén Blades, de “O Último Entardecer”), a casca-grossa Leona (Maria Conchita Alonso) e o novato Jerry (um jovem Bill Paxton) –começarem as investigações.
Isso se repete novamente (o FBI puxando o tapete da polícia), durante uma chacina de traficantes jamaicanos e colombianos, quando o Tnt. Harrigan já começa a compreender que não são os jamaicanos, nem seus rivais do tráfico, os colombianos, quem estão por trás de massacres tão inacreditáveis –ambos, inclusive, foram vítimas de quem quer que seja.
Contudo, apesar da insistência do Agente Keyes em deixar o Tnt. Harrigan de fora do caso, àquelas alturas, a busca pelo misterioso assassino já tornou-se pessoal: Danny foi morto pelo predador, e todos os outros estão também em sua lista, sendo Harrigan, o ‘troféu principal’.
Um dos problemas enfrentados pela obra de Hopkins é que, até por conta da existência do primeiro filme, o público já adentra sua trama ciente dos elementos que compõem a mitologia do ‘predador’ –o mistério em torno do ser que ronda os personagens, um dos aspectos mais fascinantes e envolventes do filme de McTiernam, é um elemento que não faz muito sentido ser empregado aqui, afinal, já sabemos quem ele é e o que ele é, já o vimos!
De novo, é necessário, por isso mesmo reconhecer o trabalho notável que Stephen Hopkins soube realizar: Ele opta por um equilíbrio entre as aparições cada vez mais intensas do predador e o prosseguimento de sua trama policial sem deter-se em muitas firulas, indo direto onde o expectador deseja chegar. Além disso, a presença do personagem de Gary Busey permite a construção de um terceiro ato carregado de adrenalina e de saborosas revelações acerca do interessante antagonista alienígena.
Foi inclusive a aparição do interior da nave do predador –ocorrida no trecho final –que plantou uma semente nas expectativas dos fãs: Nessa cena, é possível ver, entre os ‘troféus’ da criatura, um crânio do ser monstruoso do filme “Alien-O 8º Passageiro”, sugerindo a possibilidade de um crossover dessas duas franquias, algo que veio, de fato, a acontecer em histórias em quadrinhos e videogames, e por fim, em 2004, com a produção “Alien X Predador” –mas, essa é outra história...

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