“Predador 2” entrou para a crônica
cinematográfica do início dos anos 1990 como um projeto mal-sucedido, em grande
parte devido ao retorno insatisfatório na bilheteria em comparação ao vultuoso
orçamento gasto pelo produtor Joel Silver; e por tal infortúnio, ele também é
lembrado como um filme inferior na comparação com o original e fracassado
também na intenção de agradar a crítica. Ninguém imaginava que seria mesmo
fácil para o jovem diretor Stephen Hopkins ombrear a sagacidade e o manejo prodigioso
de elementos perpetrados por John McTiernam em “O Predador”.
Entretanto, visto hoje –e sob um ângulo geral
de continuações em justaposição aos seus originais –“Predador 2” se revela algo
notável: Hopkins foi inteligente e habilidoso o bastante para manter um ritmo e
uma identidade visual que, na medida do possível e do aceitável, espelhavam a
mentalidade por trás do trabalho de McTiernam. Se em “O Predador” a selva na
qual se ambientava o filme era um personagem à parte com uma direção de fotografia
minimalista e engenhosa, neste segundo filme, a cidade de Los Angeles onde a
trama se passa (porque é um tanto quanto óbvio a escalada de ‘selva’ para
‘cidade grande’ na premissa de uma continuação...) surge também ela detalhada,
atendendo aos mesmos traquejos de câmera, apresentando um peculiaridade visual
caótica, detalhada e muito parecida.
Não há dúvidas: No calor que retrata em seus
filtros quentes (e no suor e nos comentários dos personagens) e na alta
voltagem impressa desde a primeira cena de tiroteio, este é um lugar
perfeitamente possível de atrair as atenções do famoso alienígena que caça por
esporte.
Sua presença já se evidencia na primeira cena,
onde traficantes e policiais travam um tiroteio tão brutal e selvagem que chega
a ser caricato. Ali também surge, de forma igualmente caricata, o protagonista
vivido por Danny Glover, Tenente Mike Harrigan, que numa pose típica de herói
de ação arremessa um carro cobre os bandidos. Bom ator, Glover vai se impondo
nesse raso personagens aos poucos, ainda que jamais consiga igualar o carisma
de Schwarzenegger, e francamente, nem tenha tantas oportunidades assim para bem
interpretar –estamos falando de um filme de ação, oras!
De qualquer maneira, embora difícil de engolir,
a cena que o introduz no filme serve ao menos para mostrar o porque do policial
logo se tornar uma espécie de prêmio para o predador, tão logo o alienígena dá
cabo instantaneamente de todos os traficantes, alarmando a polícia.
Entra em cena o agente do FBI, Peter Keyes
(Gary Busey, de “Caçadores de Emoção”), que logo assume o estranho local do
crime antes de Harrigan e seus parceiros –o boa-praça Danny (Rubén Blades, de
“O Último Entardecer”), a casca-grossa Leona (Maria Conchita Alonso) e o novato
Jerry (um jovem Bill Paxton) –começarem as investigações.
Isso se repete novamente (o FBI puxando o
tapete da polícia), durante uma chacina de traficantes jamaicanos e
colombianos, quando o Tnt. Harrigan já começa a compreender que não são os
jamaicanos, nem seus rivais do tráfico, os colombianos, quem estão por trás de
massacres tão inacreditáveis –ambos, inclusive, foram vítimas de quem quer que
seja.
Contudo, apesar da insistência do Agente Keyes
em deixar o Tnt. Harrigan de fora do caso, àquelas alturas, a busca pelo
misterioso assassino já tornou-se pessoal: Danny foi morto pelo predador, e
todos os outros estão também em sua lista, sendo Harrigan, o ‘troféu principal’.
Um dos problemas enfrentados pela obra de
Hopkins é que, até por conta da existência do primeiro filme, o público já
adentra sua trama ciente dos elementos que compõem a mitologia do ‘predador’ –o
mistério em torno do ser que ronda os personagens, um dos aspectos mais
fascinantes e envolventes do filme de McTiernam, é um elemento que não faz muito
sentido ser empregado aqui, afinal, já sabemos quem ele é e o que ele é, já o
vimos!
De novo, é necessário, por isso mesmo
reconhecer o trabalho notável que Stephen Hopkins soube realizar: Ele opta por
um equilíbrio entre as aparições cada vez mais intensas do predador e o
prosseguimento de sua trama policial sem deter-se em muitas firulas, indo
direto onde o expectador deseja chegar. Além disso, a presença do personagem de
Gary Busey permite a construção de um terceiro ato carregado de adrenalina e de
saborosas revelações acerca do interessante antagonista alienígena.
Foi inclusive a aparição do
interior da nave do predador –ocorrida no trecho final –que plantou uma semente
nas expectativas dos fãs: Nessa cena, é possível ver, entre os ‘troféus’ da
criatura, um crânio do ser monstruoso do filme “Alien-O 8º Passageiro”,
sugerindo a possibilidade de um crossover dessas duas franquias, algo que veio,
de fato, a acontecer em histórias em quadrinhos e videogames, e por fim, em
2004, com a produção “Alien X Predador” –mas, essa é outra história...
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