Em 1979, o público ainda absorvia a apreciação
de ver Harrison Ford no papel de Han Solo, no bem-sucedido “Star Wars”. Trabalhos
que vieram a consolidar seu status como astro, tais quais “Caçadores da Arca Perdida” ou “Blade Runner” ainda não haviam sido feitos –e mesmo a continuação
de “Star Wars”, “O Império Contra-Ataca” só chegaria às telas de cinema no ano
seguinte –assim sendo, soava quase audacioso colocar Harrison Ford como um galã
romântico num filme de guerra feito à moda antiga; no entanto, esse detalhe
termina sendo deveras a maior audácia deste singelo trabalho do diretor e
também roteirista Peter Hyams (de "Timecop-O Guardião do Tempo", com Van Damme), indo na mais absoluta contra-mão das tendências
criativas de sua época (na qual estava em voga um experimentalismo autoral,
forte característica da Nova Hollywood), o filme de Hyams almeja recuperar um
estilo tradicional de filme antigo, onde se percebe com clareza a inspiração
maior de “Casablanca”.
E como na obra de Michael Curtiz é em torno de
um amor impossível –e de impossibilidades diretamente relacionadas aos
desdobramentos da guerra –que respira a sua premissa.
Também esse esmero antiquado e propositadamente
anacrônico se nota na reconstituição de época: Já na primeira cena, salta aos
olhos o capricho na cenografia a recriar a Hanover Street (título original do
filme, à propósito), em Londres, onde boa parte da primeira metade da trama se
passará..
Ao tentar pegar um lugar num ônibus londrino, o
personagem de Harrison Ford se envolve numa graciosa disputa com a personagem
da bela Lesley-Anne Down (de “A Nova Transa da Pantera Cor-de-Rosa” e “Delírios
Mortais”); ambos perdem a carona e acabam tomando um chá. Ele é piloto da
Força-Aérea Norte-Americana. Ela é enfermeira.
Ali mesmo, quando ainda titubeiam na atração
recíproca recém-descoberta, eles testemunham um bombardeio inimigo que arrasa
boa parte da Hanover Street, e as emoções intensas de escapar da morte por um
triz marcam o início da relação.
A cada quinze dias, ele, cujo nome é David
Halloran, recebe uma folga, durante a qual se encontra com ela, cujo nome é
Margaret Sellinger.
Ela é casada, no entanto, experimenta com
Halloran, uma paixão que jamais conhecera.
Ele é (ou era) impulsivo, corajoso,
inconsequente até; agora, porém, que tem alguém para quem voltar, Halloran
começa a experimentar o inédito sentimento do medo de morrer em combate –temor
que ele passa a compartilhar com seus colegas de avião, seu co-piloto Tnt. Hyer
(Michael Sacks, de “Louca Escapada” e “Matadouro 5”) e seu bombardeiro Tnt.
Cimino (Richard Masur, de “Sem Licença Para Dirigir”).
Nas intenções bem claras expostas pelo trabalho
de Peter Hyams notamos o cinema à moda antiga que ele busca em “Amor Em
Chamas”: Seu roteiro peca por diálogos assolados por redundâncias, mas ele
parece até mesmo ciente disso. Seu empenho real se enxerga na direção e no
clima de romantismo onipresente que evoca, aproveitando o belo par formado por
Harrison Ford e Lesley-Anne Down, a trilha sonora dramática e melodiosa de John
Barry e os esforços admiráveis da direção de arte, do figurino e demais
departamentos cenográficos –em meio aos quais a produção encontra seus mais
hiperlativos méritos.
Como consequência, para efeitos de desenlace, o
filme de Hyams vai confrontando seus amantes protagonistas com as injustas
ironias do destino à medida que caminha da primeira para a segunda metade: Como
forma de compensar uma missão da qual desistiu no último minuto (escapando
assim da morte certa), Halloran e seu grupo são pressionados a aceitar uma
missão diferenciada envolvendo os esforços da Contra-Inteligência Britânica, na
qual deverão sobrevoar a cidade de Lyons, na França Ocupada, e nela deixar um
agente disfarçado de oficial alemão. O agente em questão é Paul Sellinger (o
sempre digno Christopher Plummer), o próprio marido de Margaret (!).
Quando o avião é alvejado e destruído, e praticamente
toda tripulação, morta, restam apenas Halloran e Sellinger vivos para completar
a missão que inclue adentrar o posto de comando nazista a fim de roubar
documentos –e nesse processo, cada esquina reserva uma ameaça às suas vidas.
Diante desse detalhe, Margaret tem, portanto,
que se preocupar em dobro: Com a vida do marido e pai de sua filha pequena
(Patsy Kensit, de “Máquina Mortífera 2”); e com a vida do homem que ela ama,
ambos reunidos na mesma e perigosa situação –embora a direção e o roteiro de
Hyams, por razões que só podem ser explicadas pela falta de timing, protele em
demasia o momento em que tal informação chegue até ela.
Previsível até a medula
(quem assistiu diversos outros filmes a girar sobre esse tema consegue
adivinhar as cenas chegando à quilômetros de distância!), o filme de Peter
Hyams parece ser feito para um público fidedigno desse gênero específico,
apreciador de tramas românticas com desenvolvimento e conclusão
pré-estabelecidos em seus expedientes, de um charmoso filme de espionagem que
já faz parte do passado, de diálogos cheios de obviedades e juras de amor e de
intoxicante predisposição ao melodrama. A esses expectadores –e somente a eles
–“Amor Em Chamas” agradará plenamente as expectativas.
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