terça-feira, 10 de março de 2020

Timecop - O Guardião do Tempo

Provavelmente a aventura “Timecop” seja o melhor filme da carreira do astro belga Jean Claude Van Damme pelo simples fato de conciliar a plena diversão normalmente almejada por trabalhados estrelados por ele com um cuidado técnico e artístico que, verdade seja dita, nunca prevaleceu muito nas produções que tinham seu nome a frente do elenco.
Talvez meu julgamento pessoal seja suspeito: Eu gosto muito de filmes sobre viagem no tempo. E, como este daqui –roteirizado por seu próprio diretor, o perspicaz Peter Hyams –vale-se espertamente de um jogo hábil de ganchos narrativos para gerar um suspense que conduz o expectador ao longo da trama, é praticamente garantido o aproveitamento justamente daquilo que o conceito de filmes de viagem no tempo têm de melhor.
Além disso, Hyams também concebeu um filme despretensioso e cheio de pequenos detalhes maravilhosos.
O prólogo de “Timecop” mostra a execução de um crime impossível: O roubo de uma remessa de ouro ainda na época da Guerra Civil Norte-Americana por um bandido em posse de uma arma sofisticada demais (e futurista demais) para seu tempo.
Corta para uma reunião no congresso americano num futuro próximo: A descoberta de tal crime (um inescrupuloso viajante do tempo tentou aproveitar-se da nova tecnologia) dá início a um debate e, por consequência, a um decreto; a fim de evitar mais acontecimentos como aquele, a viagem  no tempo, ainda que possível, está proibida por lei!
Parece que o filme de Hyams vai engrenar uma marcha a partir daí, mas não, o diretor não tem pressa em ajustar novas peças no tabuleiro –e essa falta de pressa, ao contrário do que se poderia imaginar, não irrita o expectador, mas o intriga: Voltamos então para o que mais ou menos parece ser o tempo presente. Aqui veremos uma espécie de origem daquele que será o protagonista, Max Walker (vivido com a mesma composição que Van Damme empresta a seus heróis, mas isso não compromete o filme) é ainda jovem, esperançoso e inocente, digamos assim.
Ele é casado com a belíssima Melissa (Mia Sara, quase uma década depois de “Curtindo A Vida Adoidado”, extasiando o público com uma cena espetacular de nudez), mas sua vida feliz está prestes a ser arrebatada por vilões misteriosos que lhe matam a própria esposa e transformam Walker no homem amargurado e desiludido que conheceremos melhor ao longo do filme.
Corta para uma outra cena, desta vez, nos anos 1930, período da Grande Depressão, quando Walker, agora um veterano agente ‘timecop’, aparece vindo do futuro para capturar um estelionatário querendo surrupiar dólares do passado. O filme já atingiu uma boa duração e só agora a narrativa do diretor Hyams pareceu estar satisfeita com a introdução simultânea dos elementos que irão compor o seu conceito.
Seu grande mérito –talvez até involuntário –é que quando a trama engrenar de fato, as informações dispostas nesse prólogo tão estranhamente longo serão tantas que seu encaixe sistemático ao longo da premissa fará grande parte da empolgação e da diversão do filme.
Dedicado homem da lei a serviço do departamento ‘timecop’, o  incorruptível policial Walker, ao lado da agente iniciante Fielding (Gloria Reuben, de “Lincoln”) assume um caso que pode colocá-lo no centro de uma séria conspiração que envolve a manipulação do tempo a nível mundial –e que, exatamente por essa razão, o coloca contra um vilão muito mais poderoso do que um mero bandido a fim de voltar para o passado: Um figurão político (Ron Silver, de “O Reverso da Fortuna”) disposto a mudar o tempo para tornar-se presidente dos EUA e, ciente inclusive de que Walker é seu maior oponente, ele engendra uma operação destinada a matá-lo ainda no passado, antes de tornar-se um ‘timecop’ (!).
Adaptado com extrema eficiência de uma pouco conhecida história em quadrinhos, escrita por Mark Verheiden e ilustrada por Phil Hester e Chris Warner, “Timecop” une com propriedade admirável a ação vertiginosa que se espera dos trabalhos estrelados por Van Damme, a ficção científica equilibrada entre o comercial e o moderadamente descerebrado, e um aparato louvável de notáveis efeitos especiais (a melhor cena obtida por eles é o antológico momento em que Van Damme se materializa, vindo do futuro, em frente a um caminhão que quase o atropela, passando a centímetros de sua cabeça quando ele agilmente se abaixa) para moldar uma das mais satisfatórias aventuras da década de 1990.

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