É curioso como existe uma dicotomia de sedução
entre o mundo do entretenimento em suas facetas mais voltadas para a beleza –o
mundo da moda, da fotografia –e a concepção idealizada dos filmes de
espionagem. Essa dicotomia aparece de modo mais explícito e menos rebuscado na
mirabolante série “007”, entretanto, é perceptível em praticamente todos os
exemplares desse subgênero, talvez, pelo fato da circunstância de segredo que
norteia esse mundo particular, o da espionagem –onde a aparência é sempre a
fachada de algo que esconde suas intenções –corresponder ao conceito de imagem
trabalhada e construída nesse âmbito. Autores enxergam algo de correspondente
nesses dois mundos aparentemente tão distintos: As dissimulações oriundas da
profissão; a superfície nunca similar à profundeza; os aliados dissimulados que
se revelam adversários; as regras específicas de conduta.
O diretor e roteirista James Toback realiza
mais um entrelaçamento narrativo entre esses dois universos na trama tortuosa
ainda que pouco aprofundada de “Exposed” –não confundir este filme americano
com uma produção erótica homônima da Suécia dos anos 1970 estrelada por
Christina Lindberg.
Quem estrela este trabalho é Nastassia Kinski
(que apesar de belíssima tem um ar naturalmente europeu que não ajuda em sua
personagem) no papel da jovem estudante americana Elizabeth Carlson. Decidida a
partir de Wisconsin para Nova York, ela tem uma série de desilusões
corriqueiras e naturais ao chegar à grande cidade.
Sua sorte começa a mudar quando um fotógrafo
(Ian McShane, de “John Wick-Parabellum”) descobre sua beleza e, em pouco tempo,
a torna uma modelo famosa.
Dessa forma, Elizabeth atrai a atenção de
Daniel Jeline (Rudolf Nureyev, de “Valentino, O Ídolo, O Homem”), violinista que
a intriga com atitudes estranhas e evasivas, até revelar a ela suas reais
intenções.
É curioso como o filme de Toback encontra meios
de se dispersar a fim de protelar ao máximo a revelação de seus verdadeiros
objetivos ao expectador –parecendo confundir isso com suspense: Leva muito
tempo de filme para que os elementos inerentes ao gênero espionagem finalmente
comecem a aparecer na trama; salvo pela cena inicial, de um atentado à bomba.
Pois eis que Daniel se chama na realidade
Joseph Tolov, um sobrevivente do holocausto quando criança e uma espécie de
caçador de terroristas na idade adulta –o filme é dos anos 1980 –seu alvo atual
é Rivas (Harvey Keitel), um argentino que lidera várias operações onde seu
grupo planta bombas em lugares públicos para a realização de atentados –um
deles, o que iniciou o filme.
Por alguma razão que nunca fica clara neste
filme, tanto Tolov quanto Rivas (talvez, dois lados da mesma moeda, num
antagonismo nunca muito aprofundado) são atraídos pela ideia de recrutar belas
modelos como suas agentes de campo. E Tolov sabe do interesse de Rivas em
Elizabeth –sua ‘braço-direito’ Brigitte (Marion Varella) já a tem seguido por
todos os lados!
Elizabeth assim é uma espécie de isca para que
Tolov, por fim, capture ou mate Rivas.
Tolov, então, alguma vez a amou ou apenas
estava a usando? E quanto a Rivas (que revela-se envolvente e convincente no
pouco de tempo de cena que aparece) seria ele de fato o vilão da história?
Afinal, ele e Tolov partilham de mais semelhanças do que diferenças.
Essas questões ganham pouco ou nenhum
esclarecimento no desfecho apoteótico, talvez mais pelo pouco alcance da
habilidade de seu diretor do que por uma vontade genuína de manter tudo ambíguo
–o que até combinaria bastante com o gênero.
Como diretor e como roteirista, Toback oferece
poucos vislumbres do universo de espionagem que aborda (talvez, por não ter uma
ideia plena de como tal universo deveria ser...) e um excesso de tempos mortos
que preenchem a narrativa com uma lentidão que a compromete.
Suas qualidades como realização
(o clima charmoso e enigmático de intriga insolúvel, e acima de tudo, a
presença sempre magnética da linda Nastassia Kinski) parecem no final das
contas terem sido mais uma serie de acasos felizes do que competência real.
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