sábado, 7 de março de 2020

Testemunhas de Uma Guerra

O diretor Danis Tanovic ganhou o Oscar de Melhor Filmes Estrangeiro por “Terra de Ninguém”, e ainda realizou o longa “Inferno”, parte da “Trilogia Paraíso/Inferno/Purgatório” imaginada por Krzysztof Kieslowski –e jamais completada por ocasião de sua morte.
Ambas as produções contêm elementos que moldam a estrutura básica deste “Testemunhas de Uma Guerra”: Como no primeiro caso, Tanovic revisita o cenários das zonas de conflito (lá, o leste europeu, aqui, o Oriente Médio), tomando como protagonista o fotógrafo de guerra Mark, vivido por Colin Farrell.
Como no segundo caso, Tanovic põe, no centro das questões de sua premissa, a memória traumática e a forma com que ela transfigura relações humanas.
O melhor amigo de Mark é David (Jamie Sives, de “O Guerreiro Silencioso”), também ele fotógrafo. Contudo, se antes os dois compartilhavam do mesmo sangue-frio nas incursões aos campos de batalhas, agora, algo está diferente: A relação entre Mark e a namorada Elena (a espanhola Paz Vega) segue normal, mas, David e sua esposa Diane (Kelly Reilly, de “Sra Henderson Apresenta” e “Sherlock Holmes”) estão esperando um filho.
O perigo à espreita em cada sombra de seu ofício já não empolga David como antes, e bastam alguns dias em meio ao Curdistão assolado por ataques do Afeganistão para ele compreender isso.
Ele deseja voltar.
Mark concorda não sem estranhar a relutância do amigo.
Após um acidente mal-fadado e mal-explicado, Mark volta para casa, porém, David, que deveria ter chegado antes dele não deu notícias –ou assim a montagem nos leva a crer.
O comportamento de Mark, percebido por Elena, parece indicar que algo muito pior aconteceu, e ele aparentemente bloqueou as memórias do ocorrido.
Elena apela então para o seu tio-avô, Joaquim (o grande Christopher Lee), outrora um psiquiatra espanhol especializado nos indivíduos com stress pós-traumático durante a Ditadura de Franco, para que ele penetre nos tormentos particulares de Mark e dele extraia a verdade.
Perseguir a expiação parece ser o mote em torno do qual as obras de Danis Tanovic giram, aqui, ainda que longe do primor demonstrado em outros trabalhos, ele exibe uma habilidosa capacidade de harmonizar os elementos cinematográficos principais (bom elenco, bom roteiro, boa direção) numa narrativa que expõe, aos trancos e barrancos, sua visão humanista e engajada de cinema e de mundo.

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