sexta-feira, 6 de março de 2020

Nosso Tipo de Mulher

Parece que todo diretor independente nova-iorquino tem em si um pouco de Woody Allen. Isso explica a grande proximidade estilística desta obra escrita, dirigida e estrelada pelo jovem Edward Burns (uma das caras de “O Resgate do Soldado Ryan”) que, tal e qual o realizador de “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, carrega deliberadamente nos diálogos levando seus personagens a travar infindáveis discussões atreladas umas às outras. E sempre com o tema dos voláteis relacionamentos modernos.
A história que surge a partir daí, envolve os irmãos Mick (Burns) e Francis (Mike McGlone), filhos do apaixonado por barcos Sr. Fitzpatrick (John Mahoney), e suas relações afetivas sempre postas em pauta.
Motorista de táxi, Mick dá, certo dia, carona à descontraída Hope (Maxine Bahns, namorada de Burns na época) e, no único momento completamente destituído de realidade da trama, o convida para ir ao uma festa de casamento. Lá, talvez inspirados pelo clima romântico, Mick e Hope decidem se casar –tendo se conhecido poucas horas atrás.
A notícia cai como uma bomba entre o pai e o irmão de Mick –que levam uma boa parte do filme conversando sobre isso.
Hope tem uma proposta de emprego em Paris e, na mudança iminente, quer que agora Mick, seu marido, afinal, a acompanhe. As escolhas definitivas da vida adulta começam a rondá-lo, como seu pai desde o início já vinha lhe avisando.
Por outro lado, o executivo Francis, sempre ostensivo para com seu modo de vida –sobretudo, para com seu irmão mais velho –embora seja casado com bela e dedicada Renee (Jennifer Aniston) está tendo problemas em seu relacionamento. E a razão é seu caso extra-conjugal com a belíssima Heather (Cameron Diaz) que, por sua vez, já foi casada com Mick –um matrimônio que terminou da pior forma possível.
Esse novo romance de Francis agita as relações na segunda metade do filme: Entre ele e Mick, porque este crê que Francis resolveu namorar com Heather devido à uma espécie de competição existencial que sempre alimentou a relação entre os irmãos; entre eles e o próprio pai, Sr. Fitzpatrick, que precisa segurar as pontas entre as desavenças dos filhos numa espécie de ausência constante da mãe (uma personagem sempre mencionada, mas que curiosamente nunca aparece em cena); e entre Mick e Hope que identificam no desconforto de Mick um dos muitos imprevistos presentes em seu casamento de última hora.
Dessa forma, como Woody Allen, a obra de Edward Burns reflete, age e reage em torno dos relacionamentos, das impressões subjetivas e das interferências familiares nessas dinâmicas, num roteiro construído com objetividade, sem espaço para invenções narrativas –são sequências enxutas e sucintas concebidas em torno de diálogos básicos.
O expectador que não se importar com essa assumida loquacidade poderá até deixar-se agradar pelo clima ameno e pela condução serena, desde que não espere dele a genialidade sempre à prova de Woody Allen.

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