quarta-feira, 23 de maio de 2018

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa


É provável que “Annie Hall”, de Woody Allen, seja a pedra fundamental para todas comédias românticas norte-americanas que infestaram as salas de cinema nas décadas seguintes a sua realização –e que, durante algum tempo, fizeram a fama de Meg Ryan e Julia Roberts.
Não que não tivessem existido comédias românticas antes de seu ano de lançamento, 1979, mas antes dele as comédias não tinham essa tendência analítica para com a dinâmica intrínseca do relacionamento –que oscila drasticamente em nível de perspicácia e sagacidade comportamental na medida do talento e da competência do realizador. Foi com esta obra de Woody Allen que tudo começou.
Ele narra com indisfarçável e até declarada parcialidade, as vicissitudes do relacionamento entre Alvy (o próprio Woody Allen) e Annie (Diane Keaton, fantástica) –com uma ênfase perplexa e autodepreciativa nas agruras de Alvy, a contraparte masculina que, neste filme e em outros mais que realizou, Allen não cansa de mostrar como alguém inseguro, titubeante, atrapalhado, tão excessivamente dedicado a elaborar suas certezas e razões por meio de seu loquaz intelectualismo que, de um ponto em diante, nem mais sabe se está sendo certo ou razoável.
E embora nunca deixe de fazê-lo por meio de sua imensa compreensão e cultura –assim como sua capacidade notável de apreender a relação a dois num roteiro –Allen tem o primor de soar inteligível e, acima de tudo, divertidíssimo na constante ilustração das situações que pouco a pouco transmutam um relacionamento.
Compreenda ou não as referências ou a abordagem intelectual desta ou daquela piada, o filme nunca deixa de ser incrivelmente engraçado.
É curioso e admirável que, por isso mesmo, a cereja no topo do bolo, seja mesmo o entrecho final, onde à galhofa e à graciosidade, o diretor introduz um outro elemento: O romance.
Ao fim, o filme de Allen, mesmo diante da implicação um com o outro, mesmo ante as diferenças abissais que cresceram até virarem obstáculos intransponíveis para a convivência, mesmo ante os equívocos inadmissíveis e os rancores impagáveis, ele quer lembrar que o quê existiu junto com tudo isso era, afinal, amor.
E o filme tão engraçado termina numa nota agridoce, deixando um pouco de calor no coração.

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