É provável que “Annie Hall”, de Woody Allen,
seja a pedra fundamental para todas comédias românticas norte-americanas que
infestaram as salas de cinema nas décadas seguintes a sua realização –e que,
durante algum tempo, fizeram a fama de Meg Ryan e Julia Roberts.
Não que não tivessem existido comédias
românticas antes de seu ano de lançamento, 1979, mas antes dele as comédias não
tinham essa tendência analítica para com a dinâmica intrínseca do
relacionamento –que oscila drasticamente em nível de perspicácia e sagacidade
comportamental na medida do talento e da competência do realizador. Foi com
esta obra de Woody Allen que tudo começou.
Ele narra com indisfarçável e até declarada
parcialidade, as vicissitudes do relacionamento entre Alvy (o próprio Woody
Allen) e Annie (Diane Keaton, fantástica) –com uma ênfase perplexa e autodepreciativa
nas agruras de Alvy, a contraparte masculina que, neste filme e em outros mais
que realizou, Allen não cansa de mostrar como alguém inseguro, titubeante,
atrapalhado, tão excessivamente dedicado a elaborar suas certezas e razões por
meio de seu loquaz intelectualismo que, de um ponto em diante, nem mais sabe se
está sendo certo ou razoável.
E embora nunca deixe de fazê-lo por meio de sua
imensa compreensão e cultura –assim como sua capacidade notável de apreender a
relação a dois num roteiro –Allen tem o primor de soar inteligível e, acima de
tudo, divertidíssimo na constante ilustração das situações que pouco a pouco
transmutam um relacionamento.
Compreenda ou não as referências ou a abordagem
intelectual desta ou daquela piada, o filme nunca deixa de ser incrivelmente
engraçado.
É curioso e admirável que, por isso mesmo, a
cereja no topo do bolo, seja mesmo o entrecho final, onde à galhofa e à
graciosidade, o diretor introduz um outro elemento: O romance.
Ao fim, o filme de Allen, mesmo diante da
implicação um com o outro, mesmo ante as diferenças abissais que cresceram até
virarem obstáculos intransponíveis para a convivência, mesmo ante os equívocos
inadmissíveis e os rancores impagáveis, ele quer lembrar que o quê existiu
junto com tudo isso era, afinal, amor.
E o filme tão engraçado termina numa nota
agridoce, deixando um pouco de calor no coração.
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