O cinema inglês no fim da década de 1970 e
começo da de 80 era inescapavelmente rebelde: Se por um lado ele tinha
influências da Nova Hollywood que, nos EUA, dava um sabor de transgressão à
algumas obras produzidas pelos próprios estúdios, por outro, a cultura inglesa,
impulsionada pela acidez e pela irreverência do movimento punk se alastrava, na
forma de inconformismo, para outras expressões de arte.
Realizado por Lindsay Anderson, “Se...” é um
filme que reflete perfeitamente esse estado de espírito. Não há muito o quê se
esperar de diferente dele quando olhamos para o seu ator principal: Malcolm
McDowell lembrado pelos marcantes e audaciosos papéis em “Laranja Mecânica” e
“Calígula” –colocar McDowell no papel de protagonista de um filme naquela época
já era, portanto, uma declaração!
Seu personagem é Mick Travis que inicia um novo
ano letivo em uma rígida escola pública para garotos. O ambiente é conservador,
autoritário e rigoroso –e, no contexto, um convite à rebelião.
Claro que as manifestações de contravenção dos
jovens são sufocadas de todas as maneiras; a mais contundente é a surra de
varas promovida pelos alunos mais velhos durante a qual os jovens são obrigados
a contar as chibatadas –a narrativa de Anderson e o modo como conduz a cena nos
leva a aguardar por uma reviravolta que nunca chega, ampliando a sensação de
desconforto e impotência.
Em algum momento, um certo surrealismo começa a
contaminar o filme: O delírio sexual (e nada prático) do protagonista na cena
de nudez com a exuberante Christine Noonan; cenas coloridas se convertem em
preto & branco e, após algum tempo, voltam a serem coloridas sem maiores
esclarecimentos por parte do roteiro (Anderson contou, mais tarde, que esse
recurso aleatório se deve, não por estilo, mas por limitação orçamentária!);
personagens que antes haviam morrido reaparecem em momentos completamente
mirabolantes dando a entender que a sanidade e a seriedade foram deixadas de
lado pela narrativa.
É o filme de Anderson incorporando à
austeridade inabalável de sua primeira parte (onde prevalece um ritmo, uma
coerência e uma compostura que reflete a rigidez acadêmica) uma dose
irremediável da rebeldia de seus protagonistas –eles podem não ter saído por
inteiro vitoriosos de seu embate existencial e ideológico contra as autoridades
escolares, mas o filme no qual estavam sofreu uma metamorfose que o adequou à
mentalidade inquieta de seus heróis revolucionários.
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