Sucesso literário, o estilo narrativo do
escritor John Green (autor de “A Culpa É Das Estrelas”) unia uma gama de informações
inusitadas com dramaturgia adolescente.
Com isso, não tardou para que esse estilo
chegasse aos cinemas, contudo, como é comum na transposição da mídia literária
para a cinematográfica, ocorrem modificações, e o estilo do escritor, não raro,
se mescla às opções conscientes ou inconscientes do diretor –que neste caso vem
a ser Jake Schrerier, realizador do lúdico e esquisito “Frank e O Robô”.
“Cidades de Papel” é a romântica e algo
idealizada história do adolescente Quentin (Nat Wolff) –ou Q, como é chamado
por seus dois grandes amigos, Radar (Justice Smith, de “Jurassic World-Reino Ameaçado”) e Ben (Austin Abrams).
Desde os nove anos de idade, Q tem uma certeza:
Que deixou, de certa forma, escapar por entre os dedos o grande amor de sua
vida, a descolada Margo Roth Spielgeman (Cara Delevingne, de “Esquadrão Suicida”).
Inseparáveis quando crianças, eles nunca mais
se falaram, desde então, Q passou a integrar o nerds desprezados da escola,
enquanto Margo se tornou a garota mais popular do local.
Numa noite, porém, tudo muda. Margo bate à
janela do quarto de Q pedindo um favor: O carro e sua companhia para uma série
de trabalhos a fazer naquela noite.
Juntos e sorrateiramente, eles sacaneiam o
ex-namorado infiel dela; sabotam o carro da melhor amiga que mostrou-se pouco
leal; dão o devido troco a um dos valentões da escola... e ainda sobra tempo
para subir num prédio com vista panorâmica para a cidadezinha medíocre em que
vivem –e que, para Margo, parece uma prisão.
Q vai dormir julgando que, após aquela noite
estranha e maravilhosa ao lado de seu amor, tudo será diferente, mas, no outro
dia, Margo simplesmente desapareceu. E continua desparecida nos dias seguintes,
levando Q a desconfiar que, de alguma forma, ela plantou pistas para que
pudesse encontrar seu paradeiro.
E aí começa, por assim dizer, a trama do filme
que acompanha as investigações mambembes de Q, Radar e Ben a partir de um
poster de Woody Guthrie (!) e que passam por citações à Walt Whitman (as
referências literárias que são uma paixão de John Green) e outros elementos
que, deduzem eles, fazem parte da personalidade exuberante de Margo.
O ápice da história é quando, faltando cerca de
quarenta e oito horas para o baile de formatura, os três amigos põem o pé na
estrada, junto de duas garotas –Lacey (Halston Sage), amiga de Margo, e Angela
(Jaz Sinclair), namorada de Radar –em direção à uma ‘cidade de papel’; como são
designadas as cidades inexistentes, plantadas nos mapas por cartógrafos para
flagrar cópias de seus trabalhos.
Não é por acaso que chega-se ao final do
singelo e inofensivo filme de Jake Schrerier com a sensação de que ele foi tão
breve que logo sua lembrança se dissipará; ele parece ter sido feito exatamente
com essa intenção, a de cativar pelo curto período de seus cento e oito
minutos, e nada mais.
Se seu efeito não consegue ser mais perene na
memória do expectador isso se deve –além da superficialidade juvenil da trama
–à presença da atriz Cara Delevingne: Uma dessas atrizes que se vê na
fisionomia do rosto (de beleza perfeita) que foi modelo antes de ser atriz, ela
não consegue exibir carisma e encanto o suficiente para justificar o imenso
peso na história exercido por sua personagem. À rigor, Margo aparece apenas na
primeira parte, mas é tão marcante que é falada (e lembrada) durante todo o
filme. Um papel assim pedia por uma atuação que reverberasse na lembrança do
público tanto quanto ela o faz na lembrança do protagonista –contudo, o que
acontece é que em pouco tempo nos pegamos perguntando qual a razão para aquele
jovem perseguir tão obstinadamente uma pista tão efêmera, em busca de algo (ou
alguém) sobre quem ele não possui muitas certezas.
Não é como a moça desaparecida em “O Silêncio do Lago” (o holandês, por favor!) ou as jovens fantasmagoricamente sumidas em
“Picnic Na Montanha Misteriosa”.
E ainda que esse lapso vá de encontro a uma
certa ‘moral’ existente no livro e no filme, esse detalhe serve, aqui, para
fazê-lo apenas esquecível.
O que fica é a lição sobre
as idealizações ilusórias que fazemos sobre tudo aquilo que não parece ao nosso
alcance –a popularidade, a felicidade, o amor –e que não passam de invenções
feitas por nós mesmos para preencher com uma suposta verdade, o vazio de algo
imaginário, como as ‘cidades de papel’.
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