São claras as razões que tornaram este um dos
filmes australianos mais importantes dos anos 1970: Nele existem inúmeros pequenos
grandes filmes –temos a afiada crítica social jamais destituída da alegoria que
a torna tão relevante para além de seu tempo e lugar; temos o filme
independente respirando pela narrativa, evidenciado na pouca disposição do
diretor em ceder às expectativas do público; temos o filme de suspense, onde o
mistério, tornado quase fantasmagórico ao longo da duração, vai esmagando as
convicções dos personagens; temos o poético drama juvenil onde o foco principal
são as jovens perplexas e sua vã tentativa de desabrochar para uma maturidade
diante do opressor mundo adulto; e temos o filme sobre um desaparecimento –este
baseado em fatos reais –que enganosamente sugere ser o grande cerne da
produção, mas é, em inúmeros níveis, apenas seu pretexto. Todos estes
diferentes filmes se justapõe numa perspectiva enigmática graças ao singular
trabalho de Peter Weir, pois ele procura em cada um deles um fragmento que
contribua para elucidar a resposta que parece tão inalcançável: O quê afinal
aconteceu àquelas quatro meninas naquela nebulosa tarde em Hanging Rock? Para
onde foram? Que fim todas elas tiveram?
Esse mistério insolúvel erguido pela austera
direção de Weir (tão denso e tangível quando uma neblina cerrada) não se
dissipa nem mesmo quando uma das jovens desaparecidas é encontrada: A indignação das cenas que se seguem, quando fica claro que, em seu trauma, é
impossível extrair dela qualquer relato que seja, é tão frustrante para o
expectador quanto o é para os personagens.
O mistério não é necessariamente crível, ele é
apenas irreprimível –em sua sensibilidade única, Weir ressalta o fato alarmante
de que a resposta pode nunca mais chegar –traduzida na inocente e fracassada
obsessão de um jovem em não deixar-se desistir em sua busca desesperada. Mas há
de se notar que todo esse sentimento de inconformismo (ou algo assim) existe
como um catalizador para os personagens e suas obsessões pessoais diretamente à
esse evento relacionadas: É escolha de cada um seguir em frente com suas vidas,
ou deixar de viver, para em lugar disso, mastigar durante toda a sua existência
as causas e efeitos de uma dúvida inexplicável.
Para além das percepções atribuídas pelo
perspicaz diretor Peter Weir à este filme, a autora do livro, Joan Lindsay,
(cujo roteiro, ela própria escreveu), tinha uma história de 18 capítulos
dos quais 17 foram publicados –e, portanto, adaptados para o cinema. O décimo
oitavo capítulo, e que trazia a resolução do grande mistério, só poderia ser
publicado após a morte da escritora (ocorrida em 23 de dezembro de 1984).
Quando finalmente o grande
segredo de Hanging Rock foi publicado seu pendor fantasioso frustrou as indagações daqueles que aguardavam por uma explicação à altura de sua
expectativa –o filme de Peter Weir, contudo, com sua impassível névoa de
mistério, permanece com sua impecável aura de sonho inconcluso.
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