Realizador dos magistrais –e eficazes em
amedrontar o expectador –“O Orfanato” e “O Impossível”, dava para presumir o
tipo de filme que sairia nesta primeira continuação da reinvenção de “Jurassic
Park” promovida por Colin Trevorrow quando foi anunciado como diretor o
espanhol J.A. Bayona.
Este segundo “Jurassic World” potencializa
assim todo o suspense e a tensão presentes nas mesmas cenas que anteriormente
nos outros filmes ganhavam tratamento de aventura escapista. Aqui, porém,
Bayona não desperdiça um único instante para gerar sobressaltos imprevistos por
meio dos quais os dinossauros representam perigo de verdade –inclusive, porque
agora, no critério com que são empregados os efeitos digitais, a encenação
permite que os efeitos práticos –e infinitamente mais palpáveis e verossímeis –predominem.
A sensação, por vezes, é de que os dinossauros
estão bem ali; se não próximos de nós, ao menos, realmente próximos dos atores.
Passaram-se três anos desde que o então
bem-sucedido parque se converteu numa zona de guerra e de matança graças ao
descontrole do Indominus Rex. O que antes era o Jurassic World agora está
abandonado e livre da intervenção humana. Os dinossauros assumiriam o controle
do lugar.
Pessoas como o Dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum),presente
em “Jurassic Park” e “O Mundo Perdido” em brevíssima aparição, alegam que os
dinossauros devem ser lá deixados e que a natureza siga seu curso, seja
mantendo-os livres, seja condenado-os a uma nova extinção, contudo, a empresa
por trás do procedimento de clonagem que os trouxeram de volta não pretendem
fazer isso: Há intenções tanto altruístas (de grupos querendo preservar os
animais) como corporativistas de olho nos dinossauros.
Tudo se acirra quando um vulcão localizado na
ilha entra em atividade: O lar dos dinossauros está com os dias contados e se
nada for feito, eles serão extintos mais uma vez.
Disposta a salvar as criaturas, Claire Dearing
(Bryce Dallas Howard, mais serena e agradável que no filme anterior) organiza
um grupo que regressa para lá –entre eles, Owen (Chris Pratt), seu ex-namorado
que tem interesses quase pessoais: Ele quer encontrar Blue, a dinossauro que
ele mesmo criou e que é a última espécime viva de velociraptor; e os novos
personagens do filme, a jovem bióloga Zia (a carismática Daniella Pineda), o
medroso Webb (Justice Smith, divertido em sua covardia) e o truculento vilão de
ocasião vivido por Ted Levine (que foi o psicopata Buffalo Bill em “O Silênciodos Inocentes”).
Como se tornou quase um reflexo filosófico da
série, em dado momento, os capitães da indústria que arcam com as operações
sempre revelam seus objetivos escusos, que sempre visam a indiferença aos
perigos da tecnologia, a corrupção absoluta do dinheiro e a tentação arrogante
de usar o poder (no caso, a genética que permite brincar com a natureza) ao seu
bel-prazer –e tal personagem, aqui ganha o rosto de Rafe Spall (de “AsAventuras de Pi”), que deseja fazer um leilão multimilionário com os espécimes
resgatados da ilha.
São as maquinações desse personagem que
promovem assim a grande reviravolta de ambientação da trama: Da eletrizante sequência
na ilha em colapso vulcânico (a qual Bayona vale-se de sua desenvoltura com
diferenciados gêneros para criar um filme infinitamente melhor que o de Colin
Trevorrow, seu antecessor), somos arrebatados, juntos com os protagonistas para
uma mansão isolada, onde Bayona explora ainda mais a inclinação que a série
sempre teve –desde o primeiro filme de Spielberg –para o terror, mas nunca
antes havia sido tão vislumbrada assim.
Ao mesmo tempo que ele oferece esse novo caminho
(o de um gênero, e quem sabe até outros, ainda não explorado), ele brinca de
refazer pegadas que já foram dadas –à princípio, sua manobra parece lembrar a
mesma que Spielberg usou em “Mundo Perdido”, de trazer os dinossauros para o
mundo civilizado; mas, isso logo se revela uma distração: Bayona, a partir da
metade de seu filme, trás sim, seus personagens, seu perigos e sua premissa
para o contexto do mundo sem o isolamento de uma ilha, mas não é para repetir o
que outros fizeram; de novo, ele está sendo fiel à si mesmo –e toda a sorte de
dinossauros apavorantes que sua narrativa pode materializar estão assim
inseridos num contexto quase de casa mal-assombrada.
Essa é a forte impressão na cena mais
emblemática deste filme: Quando a menina Isabella Sermon, se esconde em suas
cobertas, não do monstro imaginário que toda criança teme, mas do assustador
dinossauro que (como o Indominus na produção anterior) representa o grande
antagonista da obra.
O filme de Bayona trás novas camadas à série e
leva à um final corajoso e radical que pode mudar drasticamente as
característicos do vindouro terceiro.
Ao menos, uma coisa ao que tudo indica ficou
bem clara: Esta nova trilogia parece ser assim a história dos laços afetivos
entre Owen e Blue.
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