terça-feira, 19 de junho de 2018

Jurassic World - Reino Ameaçado


Realizador dos magistrais –e eficazes em amedrontar o expectador –“O Orfanato” e “O Impossível”, dava para presumir o tipo de filme que sairia nesta primeira continuação da reinvenção de “Jurassic Park” promovida por Colin Trevorrow quando foi anunciado como diretor o espanhol J.A. Bayona.
Este segundo “Jurassic World” potencializa assim todo o suspense e a tensão presentes nas mesmas cenas que anteriormente nos outros filmes ganhavam tratamento de aventura escapista. Aqui, porém, Bayona não desperdiça um único instante para gerar sobressaltos imprevistos por meio dos quais os dinossauros representam perigo de verdade –inclusive, porque agora, no critério com que são empregados os efeitos digitais, a encenação permite que os efeitos práticos –e infinitamente mais palpáveis e verossímeis –predominem.
A sensação, por vezes, é de que os dinossauros estão bem ali; se não próximos de nós, ao menos, realmente próximos dos atores.
Passaram-se três anos desde que o então bem-sucedido parque se converteu numa zona de guerra e de matança graças ao descontrole do Indominus Rex. O que antes era o Jurassic World agora está abandonado e livre da intervenção humana. Os dinossauros assumiriam o controle do lugar.
Pessoas como o Dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum),presente em “Jurassic Park” e “O Mundo Perdido” em brevíssima aparição, alegam que os dinossauros devem ser lá deixados e que a natureza siga seu curso, seja mantendo-os livres, seja condenado-os a uma nova extinção, contudo, a empresa por trás do procedimento de clonagem que os trouxeram de volta não pretendem fazer isso: Há intenções tanto altruístas (de grupos querendo preservar os animais) como corporativistas de olho nos dinossauros.
Tudo se acirra quando um vulcão localizado na ilha entra em atividade: O lar dos dinossauros está com os dias contados e se nada for feito, eles serão extintos mais uma vez.
Disposta a salvar as criaturas, Claire Dearing (Bryce Dallas Howard, mais serena e agradável que no filme anterior) organiza um grupo que regressa para lá –entre eles, Owen (Chris Pratt), seu ex-namorado que tem interesses quase pessoais: Ele quer encontrar Blue, a dinossauro que ele mesmo criou e que é a última espécime viva de velociraptor; e os novos personagens do filme, a jovem bióloga Zia (a carismática Daniella Pineda), o medroso Webb (Justice Smith, divertido em sua covardia) e o truculento vilão de ocasião vivido por Ted Levine (que foi o psicopata Buffalo Bill em “O Silênciodos Inocentes”).
Como se tornou quase um reflexo filosófico da série, em dado momento, os capitães da indústria que arcam com as operações sempre revelam seus objetivos escusos, que sempre visam a indiferença aos perigos da tecnologia, a corrupção absoluta do dinheiro e a tentação arrogante de usar o poder (no caso, a genética que permite brincar com a natureza) ao seu bel-prazer –e tal personagem, aqui ganha o rosto de Rafe Spall (de “AsAventuras de Pi”), que deseja fazer um leilão multimilionário com os espécimes resgatados da ilha.
São as maquinações desse personagem que promovem assim a grande reviravolta de ambientação da trama: Da eletrizante sequência na ilha em colapso vulcânico (a qual Bayona vale-se de sua desenvoltura com diferenciados gêneros para criar um filme infinitamente melhor que o de Colin Trevorrow, seu antecessor), somos arrebatados, juntos com os protagonistas para uma mansão isolada, onde Bayona explora ainda mais a inclinação que a série sempre teve –desde o primeiro filme de Spielberg –para o terror, mas nunca antes havia sido tão vislumbrada assim.
Ao mesmo tempo que ele oferece esse novo caminho (o de um gênero, e quem sabe até outros, ainda não explorado), ele brinca de refazer pegadas que já foram dadas –à princípio, sua manobra parece lembrar a mesma que Spielberg usou em “Mundo Perdido”, de trazer os dinossauros para o mundo civilizado; mas, isso logo se revela uma distração: Bayona, a partir da metade de seu filme, trás sim, seus personagens, seu perigos e sua premissa para o contexto do mundo sem o isolamento de uma ilha, mas não é para repetir o que outros fizeram; de novo, ele está sendo fiel à si mesmo –e toda a sorte de dinossauros apavorantes que sua narrativa pode materializar estão assim inseridos num contexto quase de casa mal-assombrada.
Essa é a forte impressão na cena mais emblemática deste filme: Quando a menina Isabella Sermon, se esconde em suas cobertas, não do monstro imaginário que toda criança teme, mas do assustador dinossauro que (como o Indominus na produção anterior) representa o grande antagonista da obra.
O filme de Bayona trás novas camadas à série e leva à um final corajoso e radical que pode mudar drasticamente as característicos do vindouro terceiro.
Ao menos, uma coisa ao que tudo indica ficou bem clara: Esta nova trilogia parece ser assim a história dos laços afetivos entre Owen e Blue.

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