A ótima atriz Sally Hawkins é exótica demais
para ser considerada bonita, mas ela exala um carisma e uma energia em cena tão
palpáveis e vívidos que chegam a torná-la atraente –essa certamente é uma
característica que torna surpreendente o oscarizado “A Forma da Água”. E
certamente é também uma das poucas razões para se conferir este “Um Cupido Caiu
Do Céu”, onde Sally vive uma das metades de uma premissa de comédia romântica
e, embora não tenha a beleza convencional das rainhas desse sub-gênero (como
Meg Ryan, Julia Roberts e Sandra Bullock), consegue ser a melhor coisa do
filme.
Obedecendo cada clichê que se pode imaginar, o
filme começa com o insosso protagonista Doug (Rhys Darby) levando um belo pé na
bunda da então namorada, Susan (Faye Smythe, essa sim, uma atriz de beleza
arrebatadora).
Passando por todos os estágios habituais e
irritantes da fossa (e ainda tendo a audácia de fazer das icônicas músicas da
banda Queen, uma espécie de trilha sonora disso tudo!), ele acaba surpreendido
pela aparição de um pato (!) em sua casa –e mais surpreendente ainda é o quanto
uma manobra como essa vai se tornar central para a trama do filme!
Desta vez, obedecendo cada clichê que se pode
imaginar num filme com bichinhos fofinhos, Doug se apega ao pato –ao qual dá o
nome de Pierre –a ponto de procurar especialistas para lhe dar um conselho
acerca dele (um deles, vivido pelo veterano Bryan Brown, de “F/X-Assassinato
Sem Morte”), e é aí que entra Sally Hawkins na história dando veracidade à
única personagem minimamente plausível e que consegue escapar do caricato em
todo o filme.
Ela é Holly, cujo trabalho é tratar dos
pássaros em um zoológico.
A aparição do indulgente Doug coincide com os
apelos de sua melhor amiga que insiste que ela já ficou solteira tempo demais.
E lá vão ela e Doug (que leva o pato à tiracolo
para todo o lugar) sair e, na medida em que se aproximam afetivamente,
experimentar os dilemas de um relacionamento que se forma: Ela tem um filho
que, como toda criança, inicialmente implica com os namorados da mãe; ele tem
lá seus momentos de recaída em relação à ex-namorada –que embora não valha um
tostão reaparece para dar algum conflito à narrativa.
Não que ajude muito...
Dirigido de maneira frouxa, escrito com um economia
de idéias que chega a ser ultrajante e povoado de personagens que aparecem,
reaparecem e desaparecem sem ter o quê fazer, “Um Cupido Caiu No Céu” entra
naquela peculiar lista de obras intragáveis que só são lembradas porque
constam, por uma ironia do destino, no currículo de uma atriz com talento
quando ela ainda tinha de encarar bobagens que não estavam à altura de sua
capacidade.
Por sorte, se observarmos a filmografia de
Sally Hawkins este caso é uma exceção.
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