terça-feira, 19 de junho de 2018

Um Cupido Caiu Do Céu


A ótima atriz Sally Hawkins é exótica demais para ser considerada bonita, mas ela exala um carisma e uma energia em cena tão palpáveis e vívidos que chegam a torná-la atraente –essa certamente é uma característica que torna surpreendente o oscarizado “A Forma da Água”. E certamente é também uma das poucas razões para se conferir este “Um Cupido Caiu Do Céu”, onde Sally vive uma das metades de uma premissa de comédia romântica e, embora não tenha a beleza convencional das rainhas desse sub-gênero (como Meg Ryan, Julia Roberts e Sandra Bullock), consegue ser a melhor coisa do filme.
Obedecendo cada clichê que se pode imaginar, o filme começa com o insosso protagonista Doug (Rhys Darby) levando um belo pé na bunda da então namorada, Susan (Faye Smythe, essa sim, uma atriz de beleza arrebatadora).
Passando por todos os estágios habituais e irritantes da fossa (e ainda tendo a audácia de fazer das icônicas músicas da banda Queen, uma espécie de trilha sonora disso tudo!), ele acaba surpreendido pela aparição de um pato (!) em sua casa –e mais surpreendente ainda é o quanto uma manobra como essa vai se tornar central para a trama do filme!
Desta vez, obedecendo cada clichê que se pode imaginar num filme com bichinhos fofinhos, Doug se apega ao pato –ao qual dá o nome de Pierre –a ponto de procurar especialistas para lhe dar um conselho acerca dele (um deles, vivido pelo veterano Bryan Brown, de “F/X-Assassinato Sem Morte”), e é aí que entra Sally Hawkins na história dando veracidade à única personagem minimamente plausível e que consegue escapar do caricato em todo o filme.
Ela é Holly, cujo trabalho é tratar dos pássaros em um zoológico.
A aparição do indulgente Doug coincide com os apelos de sua melhor amiga que insiste que ela já ficou solteira tempo demais.
E lá vão ela e Doug (que leva o pato à tiracolo para todo o lugar) sair e, na medida em que se aproximam afetivamente, experimentar os dilemas de um relacionamento que se forma: Ela tem um filho que, como toda criança, inicialmente implica com os namorados da mãe; ele tem lá seus momentos de recaída em relação à ex-namorada –que embora não valha um tostão reaparece para dar algum conflito à narrativa.
Não que ajude muito...
Dirigido de maneira frouxa, escrito com um economia de idéias que chega a ser ultrajante e povoado de personagens que aparecem, reaparecem e desaparecem sem ter o quê fazer, “Um Cupido Caiu No Céu” entra naquela peculiar lista de obras intragáveis que só são lembradas porque constam, por uma ironia do destino, no currículo de uma atriz com talento quando ela ainda tinha de encarar bobagens que não estavam à altura de sua capacidade.
Por sorte, se observarmos a filmografia de Sally Hawkins este caso é uma exceção.

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