segunda-feira, 18 de junho de 2018

Hannibal


No que diz respeito à obra-prima “O Silênciodos Inocentes”, público e crítica durante muito tempo aguardaram por uma continuação, visto que essa continuação já existia nos livros escritos por Thomas Harris –dos quais “O Silêncio...” sequer é a primeira história...
A despeito do sucesso daquela obra, de sua inclusão perene no subconsciente da cultura cinematográfico e de sua consagração junto ao Oscar (de onde “Silêncio dos Inocentes” saiu com um número espantoso de cinco prêmios principais), demorou um pouco mais do que o ideal, e quando tal continuação veio, o público teve de se satisfazer com o mero fato do ator Anthony Hopkins voltar a dar vida a Hannibal Lecter; tudo o mais que fazia daquele filme uma experiência inigualável foi substituído: O diretor Jonathan Demme foi trocado pelo especialista em épicos Ridley Scott (recém-saído, por sinal, de “Gladiador”) e –talvez, o detalhe que mais incomodou os expectadores –a espetacular Jodie Foster (que pelo filme original arrebatou o Oscar de Melhor Atriz) não aceitou reprisar o papel da agente do FBI Clarice Starling, sendo substituída por Julianne Moore, uma atriz interessante e competente que não merecia essa ingrata tarefa.
Dez anos depois de ter fugido de seu cárcere, o brilhante e psicótico Dr. Hannibal Lecter reaparece em Veneza usufruindo da boa vida de homem culto que é.
Torna-se alvo de um plano vingativo movido por uma de suas vítimas do passado, Mason Verger, um raro caso de sobrevivente de um encontro com Lecter –todavia, ele foi terrivelmente desfigurado (o quê torna irreconhecível o ator Gary Oldman, ou qualquer outro que tivesse sido posto neste papel) –ao mesmo tempo, notamos que pouco a pouco o destino torna a colocá-lo no caminho da agente do FBI, Clarice Staling, então num ponto algo decadente de sua carreira –ela encontra particular obstrução do promotor Paul Krendler, personagem de Ray Liotta que, perto do fim, protagoniza a cena mais assombrosa e absurda da produção.
Após uma década ninguém duvidava de que seria difícil para o Ridley Scott (ou qualquer diretor que viesse a assumir essa tarefa) recriar a mesma atmosfera impressionante do filme de Jonathan Demme, ainda mais que, para essa empreitada, ele contava apenas com Anthony Hopkins no papel-título e não com sua notável antagonista, Jodie Foster, como a agente Starling –consequência disso, Scott cede à tentação de amplificar –ou explicitar –tudo o quê no filme anterior era pleno de sutileza.
O resultado: O palpitante suspense psicológico que elevava aquele filme é convertido aqui, sobretudo, nos trinta minutos finais, num festival de bizarrices travestido de registro psicótico com intenção de chocar; a elegância mórbida dá lugar à vulgaridade do terror gore.
Não que tais elementos não façam de “Hannibal”, no fim das contas, um filme divertido, mas ele está se metendo a dar continuidade a uma das grandes obras do cinema.

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