No que diz respeito à obra-prima “O Silênciodos Inocentes”, público e crítica durante muito tempo aguardaram por uma
continuação, visto que essa continuação já existia nos livros escritos por
Thomas Harris –dos quais “O Silêncio...” sequer é a primeira história...
A despeito do sucesso daquela obra, de sua
inclusão perene no subconsciente da cultura cinematográfico e de sua
consagração junto ao Oscar (de onde “Silêncio dos Inocentes” saiu com um número
espantoso de cinco prêmios principais), demorou um pouco mais do que o ideal, e
quando tal continuação veio, o público teve de se satisfazer com o mero fato do
ator Anthony Hopkins voltar a dar vida a Hannibal Lecter; tudo o mais que fazia
daquele filme uma experiência inigualável foi substituído: O diretor Jonathan
Demme foi trocado pelo especialista em épicos Ridley Scott (recém-saído, por
sinal, de “Gladiador”) e –talvez, o detalhe que mais incomodou os expectadores
–a espetacular Jodie Foster (que pelo filme original arrebatou o Oscar de
Melhor Atriz) não aceitou reprisar o papel da agente do FBI Clarice Starling,
sendo substituída por Julianne Moore, uma atriz interessante e competente que
não merecia essa ingrata tarefa.
Dez anos depois de ter fugido de seu cárcere, o
brilhante e psicótico Dr. Hannibal Lecter reaparece em Veneza usufruindo da boa
vida de homem culto que é.
Torna-se alvo de um plano vingativo movido por
uma de suas vítimas do passado, Mason Verger, um raro caso de sobrevivente de
um encontro com Lecter –todavia, ele foi terrivelmente desfigurado (o quê torna
irreconhecível o ator Gary Oldman, ou qualquer outro que tivesse sido posto
neste papel) –ao mesmo tempo, notamos que pouco a pouco o destino torna a
colocá-lo no caminho da agente do FBI, Clarice Staling, então num ponto algo
decadente de sua carreira –ela encontra particular obstrução do promotor Paul
Krendler, personagem de Ray Liotta que, perto do fim, protagoniza a cena mais
assombrosa e absurda da produção.
Após uma década ninguém duvidava de que seria
difícil para o Ridley Scott (ou qualquer diretor que viesse a assumir essa
tarefa) recriar a mesma atmosfera impressionante do filme de Jonathan Demme,
ainda mais que, para essa empreitada, ele contava apenas com Anthony Hopkins no
papel-título e não com sua notável antagonista, Jodie Foster, como a agente
Starling –consequência disso, Scott cede à tentação de amplificar –ou
explicitar –tudo o quê no filme anterior era pleno de sutileza.
O resultado: O palpitante suspense psicológico
que elevava aquele filme é convertido aqui, sobretudo, nos trinta minutos
finais, num festival de bizarrices travestido de registro psicótico com
intenção de chocar; a elegância mórbida dá lugar à vulgaridade do terror gore.
Não que tais elementos não façam de “Hannibal”,
no fim das contas, um filme divertido, mas ele está se metendo a dar
continuidade a uma das grandes obras do cinema.
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