quinta-feira, 25 de maio de 2017

As Aventuras de Pi

As produções que Ang Lee assume parecem ser desafios pessoais tamanha é a guinada narrativa, técnica e visual que normalmente representam quando comparados uns aos outros.
Se em sua primeira fase, em Taiwan, ele conquistou prestígio conduzindo ótimos dramas neo-realistas muito homogêneos entre si, depois que passou a trabalhar no Ocidente –com sua estréia sendo “Razão e Sensibilidade” –ele visitou as mais inesperadas e audaciosas propostas; incluindo aí também o seu magnífico épico de artes marciais falado em mandarim, “O Tigre e O Dragão”.
Nesse panorama –e certamente em meio à tão exuberante filmografia –o projeto de “As Aventuras de Pi” não chega a ser tão surpreendente, embora tenha cativado a crítica a ponto de Lee ganhar seu segundo Oscar de Melhor Diretor (o primeiro foi por “O Segredo de Brokeback Mountain”), embora ironicamente nenhum de seus trabalhos tenha levado o Oscar de Melhor Filme.
Aos seus quarenta e tantos anos, o indiano Piscine Molitor Patel (um inspiradíssimo Irrfan Khan) relata a um jovem escritor (Rafe Spall) uma história inacreditável ocorrida com ele aos seus quinze anos (então vivido pelo estreante Suraj Sharma): Quando sua família deixou a Índia rumo ao Canadá levando consigo os animais do zoológico que mantinham, o navio em que estavam afundou deixando o jovem Pi como único sobrevivente ao lado de Richard Parker, um ameaçador tigre de bengala (os companheiros iniciais dessa jornada, uma zebra, um rato, um orangotango e uma hiena logo sucumbem) à bordo da limitada embarcação de um bote salva-vidas.
Se Richard Parker acaba sendo para Pi uma preocupação a mais, ele também representa um incentivo poderoso para que ele queira sobreviver.
Durante essa tortuosa jornada em alto-mar, o garoto e o tigre experimentam inesperadas situações, narradas com distinção e exotismo pelo diretor Lee, a medida que constroem uma espécie de vínculo existencial.
A grande propriedade do trabalho de Ang Lee é o modo com que administra, para efeitos dramáticos, os muitos recursos de que dispõe para a construção desta sua aventura filosófica e alegórica: Realmente saltam aos olhos o refinamento dos efeitos visuais (vencedores do Oscar) e o emprego lúcido e inventivo dos efeitos 3D, ainda que o cinema americano tenha tantos grandes exemplares neste quesito que “Pi” corre o risco de logo ficar datado.
No que diz respeito à trama, uma sacada bastante interessante (mas, pouco aproveitada pelo roteiro) é a natureza dúbia dos relatos de Pi: No trecho final é levantada a possibilidade de outra história, mais trágica e verossímil, ter transcorrido e todo o enredo que envolve o tigre Richard Parker ser uma fuga criada por ele da triste realidade.
Mas, a narrativa de Lee não se permite essa divagação por muito tempo e torna a reiterar a trama que contou, valorizando os efeitos visuais, os atores indianos maravilhosos que conseguiu e a beleza etérea da jornada que narrou.
Faltou pouco para ser tão genial quanto outros de seus trabalhos.

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