Como cinema comercial, “Esquadrão Suicida” se
coloca num meio termo que instiga a indiferença. Não é ruim o suficiente para
merecer a rejeição do público, mas está longe de ser aquela produção
sensacional sugerida incessantemente na campanha de marketing.
Esse é o grande problema do diretor David Ayer:
Não compreender o fato implícito de que o repertório de personagens reunidos
por sua premissa pedia por um realizador que ressaltasse o sarcasmo e a ironia
naturalmente embutida na situação.
Estes são, afinal, vilões tornados heróis pelas
circunstâncias.
E a personagem a fazer todas essas engrenagens
funcionarem é, também ela, a melhor coisa do filme: A tenaz, implacável e de
certa forma imoral Amanda Waller, interpretada com necessária pronúncia pela
extraordinária Viola Davis.
Partindo de um raciocínio até bastante lógico,
ela deduz que as catástrofes ocorridas em função da existência de Superman
(muitas delas concentradas no último filme, “Batman Vs Superman”) levam à
necessidade de que o governo monte uma espécie de força-tarefa com os únicos
super-poderosos que têm em mão, e que ironicamente vêem a ser criminosos
condenados.
Dentre eles, alguns se destacam na narrativa.
É claro, desde os trailers, que a linda Margot
Robbie seria uma Arlequina no mínimo, interessante, e em alguns momentos mais
inspirados a atriz faz jus à essa expectativa, mas, notem bem, só em alguns...
Ótimo personagem é também o Pistoleiro (e uma
chance cada vez mais rara para Will Smith mostrar seu talento e brilhar), que
ganho um background bem mais elaborado que os outros personagens, justificando
assim a escalação de um astro para interpretá-lo (ainda que esse plot seja um
dos muitos recursos que santifica os supostos “vilões” tirando deles justamente
a graça e o diferencial que poderiam ter).
Mas o banho de água fria mais perene talvez
seja o Coringa de Jared Leto, que não apenas dá uma contribuição irrisória para
a trama (é um mero coadjuvante de luxo, sem muita ligação com a trama
principal), como também, no que diz respeito à sua aguardada atuação, fica na
metade do caminho entre um registro gangster-psicopata como o de Jack Nicholson
(em “Batman”, de Tim Burton) e os trejeitos e elementos icônicos (e de exatidão
irrestrita) de Heath Ledger, em “Batman-Cavaleiro das Trevas”.
Não é um personagem absolutamente fora do tom
como o Lex Luthor de Jesse Einsenberg, mas Leto, normalmente tão certeiro e
talentoso, não corresponde à tudo que se espera dele. Contudo, isso pode nem
ser culpa dele: Da forma como está disposto no roteiro, o Coringa era um
personagem impertinente, que nem precisa ser acrescentado. Ele pode surpreender
ainda, no vindouro filme do Batman.
O Esquadrão Suicida, propriamente dito, que dá
nome ao filme (composto também por El Diablo, Killer Croc e Katana) é cooptado
em campo de batalha pelo tenente Rick Flag (Joel Kinnaman, o “Robocop” de José
Padilha), cuja missão é tentar fazer com que seus integrantes andem na linha e
cumpram a missão de salvar o mundo.
Tudo é muito bem produzido, e envolto por cenas
espetaculares de ação que não deixam o ritmo cair. Mas, tudo é também um bocado
formulaico, desprovido de algo que lhe dê um lampejo próprio de originalidade.
Lembra muito “X-Men-Apocalypse”, lançado este ano, e que também resumia-se
rapidamente à uma situação genérica de “heróis lutando contra vilões”.
Não há aquele deboche delicioso que
caracteriza, e distingue os anti-heróis, e que norteava tão bem a narrativa de
“Deadpool”. Não há o senso de humor ácido nem a percepção profundo de
espetáculo pop de “Guardiões da Galáxia”, com o qual este filme parecia forçar
uma similaridade.
No final das contas, “Esquadrão Suicida”,
realizado por um estúdio que ainda está aprendendo e tateando a melhor forma de
moldar uma adaptação dos quadrinhos, é um filme muito mais simples do que dá a
entender.
Encará-lo dessa maneira é o melhor meio para se
divertir durante suas duas horas e meia.
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