quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

007 - A Fase Sean Connery

Por qual razão deixei o período de Sean Connery como James Bond (justamente o primeiro!) por último? Talvez, por que envolve mais filmes do que os demais... se incluirmos aí o imbróglio que foi a tentativa dos produtores de substituí-lo por um outro ator visivelmente mal escolhido (o pouco carismático George Lazenby, sobre quem falaremos um pouco mais a frente), o quê levou-os a trazer Connery de volta, mas, acima de tudo, a razão para isso deve ser o quão absolutamente icônico Connery é nesse papel, e o quanto imprescindíveis para a cultura pop os seus filmes como James Bond são.
Ele foi o primeiro dentre todos a viver James Bond. E ele é (a despeito da aceitação inquestionável da qual Daniel Graig goza hoje) a pedra fundamental a partir da qual todos os intérpretes seguintes sofrem a comparação.

O Satânico Dr. No
Pragmático, denso, rocambolesco. O roteiro do primeiro filme realizado de James Bond chama a atenção por trazer elementos que destoam das aventuras mirabolantes que se tornaram paradigma da série: Ainda tentando encontrar o tom apropriado das aventuras de 007 para as telas de cinema, os realizadores constroem aqui um filme de espionagem de fato, onde o protagonista James Bond é um detalhe em meio a uma trama construída de diversos pormenores, levando o assim chamado agente 007, do Serviço Secreto Britânico a investigar estranhos acontecimentos na Jamaica.
A despeito da atuação bastante característica do ator Joseph Wiseman como o vilão-título, Dr. Julius No, a grande presença do filme é mesmo a da deslumbrante sueca Ursula Andress, inaugurando o hall das bondgirls e já estabelecendo um elevadíssimo patamar de beleza: Ela não somente foi a primeira como até hoje é uma das parceiras do herói preferida pelos fãs.

Moscou Contra 007
Herdando uma certa percepção do filme anterior –onde a trama mais complexa e suas elucubrações tinham uma característica divergente das fórmulas que a série passou a adotar –a história deste filme gira em torno dos planos fatais da organização S.P.E.C.T.R.E. para com o eficaz James Bond, um agente britânico que, eles sabiam, começava a dar-lhes dor de cabeça.
Dessa maneira, é despachada uma espécie de “distração” para nosso herói, uma à qual ele não seria capaz de resistir dado seu histórico mulherengo, nas curvas realmente esculturais de Tatiana Romanova (Daniela Bianchi, deliciosa).
Os produtores mantiveram o competente diretor do filme anterior, Terence Young, que aqui demonstrou mais tranqüilidade com o material fazendo um filme mais dinâmico e muito mais bem equilibrado entre as facetas técnicas de uma produção cheia de efeitos especiais e as exigências comerciais de um filme que oscila entre a aventura, a ação e um bem administrado senso de humor.

007 Contra Goldfinger
Sai Terence Young, entra Guy Hamilton como diretor, neste que, para muitos, é o filme que estabeleceu o padrão, a fórmula por meio da qual um típico filme de James Bond é construído. E isso até é verdade, embora a questão dele ser ou não o melhor filme de 007 seja relativa e pessoal –eu mesmo considero “Moscou Contra 007” infinitamente superior a este daqui.
A trama introduz um vilão bem característico dos antagonistas que Bond teve, com a diferença de que o maquiavélico Goldfinger (Gert Froebe, numa composição pouco usual) é, em geral, mais lembrado pela natureza memorável com que este filme o apresenta.
Seu plano –que James Bond tem por missão impedir –é contaminar toda a reserva de ouro do governo dos EUA depositada em Fort Knox.

007 Contra A Chantagem Atômica
No quarto filme da série a fórmula estava estabelecida e funcionava como uma máquina bem azeitada, os mesmos ingredientes se sucediam de maneira competente, bem administrados mais uma vez pelo diretor Terence Young: Movimentadas perseguições, um desfile de beldades no elenco feminino, um tempero de humor característico e sofisticado (cortesia do refinamento na composição proporcionada por Connery) e a execução de notáveis seqüências submarinas de ação.
Desta vez, James Bond deve impedir que a organização criminosa S.P.E.C.T.R.E. cumpra uma terrível ameaça: Destruir uma série de mísseis nucleares se os governos do mundo não lhes fornecer a soma de cem milhões de dólares em diamantes.
Foi este filme –premiado com o Oscar de Melhores Efeitos Especiais –que serviu de pivô para um processo judicial movido pelo co-produtor Kevin McClory que estendeu-se por décadas e culminou na inusitada realização de “Nunca Mais Outra Vez”, do qual logo falaremos...

Com 007 Só Se Vive Duas Vezes
A ambientação da nova aventura de 007 foi modificada a fim de inserir novidades sistemáticas à série: Aqui, Bond visita o Japão com direito a duas bondgirls japonesas (Akiko Wakabayashi e Mie Hama) –que, por sua vez, destoam ligeiramente do padrão de beleza das mulheres vistas até então na série.
Satélites e artefatos espaciais dos EUA e da União Soviética são misteriosamente roubados e, na tensão política proporcionada pela Corrida Espacial de então e pela Guerra Fria (mote do qual a Fase Sean Connery usou e abusou), essas duas superpotências se vêem à beira de um conflito.
O agente 007, designado devido às circunstâncias neutras do Serviço Secreto de Inteligência Britânica, segue a única pista para elucidar a identidade do arquivilão responsável por tudo, o quê o leva a uma aldeia japonesa.
Cinco filmes. A sucessão de trabalhos que o atrelavam a um mesmo personagem começava a cansar o ator Sean Connery, que nutria outros planos para sua carreira.

007 À Serviço Secreto de Sua Majestade (com George Lazenby)
A primeira tentativa real de substituição do ator de 007 se deu neste filme. O grande problema enfrentado pelo australiano George Lazenby foi não apenas a incrível adequação que Sean Connery teve com o personagem, como também a larga aceitação de público para sua caracterização; e o fato da estatura avantajada de Lazenby lhe dar um aspecto ligeiramente desengonçado (pouco condizente com o charme à toda prova de Bond) não ajudou muito –para os fãs, a ironia requintada imposta por Connery não encontrou um substituto à altura, por mais que a produção fosse caprichada, dinâmica e, dentre os filmes da franquia, fosse um dos que trabalhava com mais refinamento a dicotomia entre a estética rica e detalhada, a execução fluída e envolvente, e as cenas de ação.
A missão deste novo Bond é assim deter o chefe da S.P.E.C.T.R.E., Blofeld (interpretado por Telly Savalas), cujos planos visam contaminar o mundo com um vírus fatal.
Uma boa aventura, pena que seus méritos passaram despercebidos pela platéia e pelos críticos completamente atentos à inadequação do ator principal.

007-Os Diamantes São Eternos
Dessa maneira, foi necessário que Albert Broccoli e seus sócios desembolsassem uma grana considerável para trazer Sean Connery de volta.
E não é que “Os Diamantes São Eternos”, dirigido pelo mesmo Guy Hamilton de “Goldfinger”, figura mesmo entre uma das mais sensacionais aventuras do agente secreto?
Aqui, Blofeld (agora vivido por Charles Gray) organiza uma rede internacional de ladrões especializados em roubar um tipo muito particular de diamante, restando a James Bond a tarefa de deter o plano de seu inimigo.
Embora bem-sucedida –em muitos aspectos devido ao retorno de Sean Connery –era óbvio que os produtores teriam de seguir em frente sem o astro a partir daqui: Até pela fortuna que pagaram para tê-lo de volta, Connery havia se tornado uma opção cara demais para uma série que almejava produções com um intervalo de dois anos entre um filme e outro.
Foi aqui que os produtores começaram a notar no protagonista de uma série inglesa de nome, “O Santo”, um tal de Roger Moore...
Contudo, James Bond e Sean Connery ainda voltariam a ter seus caminhos cruzados.

Nunca Mais Outra vez
Um caso totalmente à parte na franquia 007, mas tão curioso e intrigante que não poderia ter ficado de fora, o projeto de “Nunca Mais Outra Vez” só viu a luz do dia graças à uma complicação judicial envolvendo os direitos autorais de um dos livros de Ian Fleming, o já adaptado “007 Contra a Chantagem Atômica”, nos anos 1960: A insatisfação do co-produtor daquele filme, Kevin McClory, fez com que uma disputa judicial pelos direitos desta obra específica fosse a julgamento, sob a alegação de que McClory desejava refilmar o resultado que o frustrou, possibilitando a ele usar a mesma trama e os personagens nela citados numa filme, digamos, bastardo... de James Bond.
O andamento caracteristicamente lento desse processo judicial levou duas décadas, fazendo com que “Nunca Mais Outra Vez” terminasse produzido e lançado em 1983, mesmo ano em que foi também lançado “007 Contra Octopussy”, com Roger Moore.
Espertamente, o produtor Kevin McClory não poupou despesas e providenciou a escalação de Sean Connery (já um tanto envelhecido, mas ainda espetacular no papel) e o cercou com um elenco de apoio sensacional (Edward Fox como M, Alec McCowen como Q, Max Von Sydow como o vilão Blofeld, chefe da S.P.E.C.T.R.E., e uma Kim Basinger recém-saída da carreira de modelo como a bondgirl da vez). A trama parte do inteligente princípio de que apenas os filmes estrelados por Connery contam em sua pressuposta cronologia, fazendo deste aqui uma espécie de encerramento –são constantes as menções e afirmações do herói acerca de sua iminente aposentadoria –justificando plenamente o título recebido.
Para comandar a aventura, um nome aparentemente interessante: Irving Keshner, então em alta com público e crítica por ter entregado aquele que é tido até hoje como o melhor de todos os “Star Wars”, “O Império Contra-Ataca”.

Visto hoje, “Nunca Mais Outra Vez” não resistiu tão bem ao tempo como muitos dos títulos oficiais protagonizados por Sean Connery, e até mesmo alguns que já contavam com Roger Moore.

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