Por qual razão deixei o período de Sean Connery
como James Bond (justamente o primeiro!) por último? Talvez, por que envolve
mais filmes do que os demais... se incluirmos aí o imbróglio que foi a tentativa
dos produtores de substituí-lo por um outro ator visivelmente mal escolhido (o
pouco carismático George Lazenby, sobre quem falaremos um pouco mais a frente),
o quê levou-os a trazer Connery de volta, mas, acima de tudo, a razão para isso
deve ser o quão absolutamente icônico Connery é nesse papel, e o quanto
imprescindíveis para a cultura pop os seus filmes como James Bond são.
Ele foi o primeiro dentre todos a viver James
Bond. E ele é (a despeito da aceitação inquestionável da qual Daniel Graig goza
hoje) a pedra fundamental a partir da qual todos os intérpretes seguintes
sofrem a comparação.
O Satânico Dr. No
Pragmático, denso, rocambolesco. O roteiro do
primeiro filme realizado de James Bond chama a atenção por trazer elementos que
destoam das aventuras mirabolantes que se tornaram paradigma da série: Ainda
tentando encontrar o tom apropriado das aventuras de 007 para as telas de
cinema, os realizadores constroem aqui um filme de espionagem de fato, onde o
protagonista James Bond é um detalhe em meio a uma trama construída de diversos
pormenores, levando o assim chamado agente 007, do Serviço Secreto Britânico a
investigar estranhos acontecimentos na Jamaica.
A despeito da atuação bastante característica
do ator Joseph Wiseman como o vilão-título, Dr. Julius No, a grande presença do
filme é mesmo a da deslumbrante sueca Ursula Andress, inaugurando o hall das
bondgirls e já estabelecendo um elevadíssimo patamar de beleza: Ela não somente
foi a primeira como até hoje é uma das parceiras do herói preferida pelos fãs.
Moscou Contra 007
Herdando uma certa percepção do filme anterior
–onde a trama mais complexa e suas elucubrações tinham uma característica
divergente das fórmulas que a série passou a adotar –a história deste filme
gira em torno dos planos fatais da organização S.P.E.C.T.R.E. para com o eficaz
James Bond, um agente britânico que, eles sabiam, começava a dar-lhes dor de
cabeça.
Dessa maneira, é despachada uma espécie de
“distração” para nosso herói, uma à qual ele não seria capaz de resistir dado
seu histórico mulherengo, nas curvas realmente esculturais de Tatiana Romanova
(Daniela Bianchi, deliciosa).
Os produtores mantiveram o competente diretor
do filme anterior, Terence Young, que aqui demonstrou mais tranqüilidade com o
material fazendo um filme mais dinâmico e muito mais bem equilibrado entre as
facetas técnicas de uma produção cheia de efeitos especiais e as exigências
comerciais de um filme que oscila entre a aventura, a ação e um bem
administrado senso de humor.
007 Contra Goldfinger
Sai Terence Young, entra Guy Hamilton como
diretor, neste que, para muitos, é o filme que estabeleceu o padrão, a fórmula
por meio da qual um típico filme de James Bond é construído. E isso até é
verdade, embora a questão dele ser ou não o melhor filme de 007 seja relativa e
pessoal –eu mesmo considero “Moscou Contra 007” infinitamente superior a este
daqui.
A trama introduz um vilão bem característico
dos antagonistas que Bond teve, com a diferença de que o maquiavélico
Goldfinger (Gert Froebe, numa composição pouco usual) é, em geral, mais
lembrado pela natureza memorável com que este filme o apresenta.
Seu plano –que James Bond tem por missão
impedir –é contaminar toda a reserva de ouro do governo dos EUA depositada em
Fort Knox.
007 Contra A Chantagem Atômica
No quarto filme da série a fórmula estava
estabelecida e funcionava como uma máquina bem azeitada, os mesmos ingredientes
se sucediam de maneira competente, bem administrados mais uma vez pelo diretor
Terence Young: Movimentadas perseguições, um desfile de beldades no elenco
feminino, um tempero de humor característico e sofisticado (cortesia do
refinamento na composição proporcionada por Connery) e a execução de notáveis
seqüências submarinas de ação.
Desta vez, James Bond deve impedir que a
organização criminosa S.P.E.C.T.R.E. cumpra uma terrível ameaça: Destruir uma
série de mísseis nucleares se os governos do mundo não lhes fornecer a soma de
cem milhões de dólares em diamantes.
Foi este filme –premiado com o Oscar de
Melhores Efeitos Especiais –que serviu de pivô para um processo judicial movido
pelo co-produtor Kevin McClory que estendeu-se por décadas e culminou na
inusitada realização de “Nunca Mais Outra Vez”, do qual logo falaremos...
Com 007 Só Se Vive Duas Vezes
A ambientação da nova aventura de 007 foi
modificada a fim de inserir novidades sistemáticas à série: Aqui, Bond visita o
Japão com direito a duas bondgirls japonesas (Akiko Wakabayashi e Mie Hama)
–que, por sua vez, destoam ligeiramente do padrão de beleza das mulheres vistas
até então na série.
Satélites e artefatos espaciais dos EUA e da
União Soviética são misteriosamente roubados e, na tensão política
proporcionada pela Corrida Espacial de então e pela Guerra Fria (mote do qual a
Fase Sean Connery usou e abusou), essas duas superpotências se vêem à beira de
um conflito.
O agente 007, designado devido às
circunstâncias neutras do Serviço Secreto de Inteligência Britânica, segue a
única pista para elucidar a identidade do arquivilão responsável por tudo, o
quê o leva a uma aldeia japonesa.
Cinco filmes. A sucessão de trabalhos que o
atrelavam a um mesmo personagem começava a cansar o ator Sean Connery, que
nutria outros planos para sua carreira.
007 À Serviço Secreto de Sua Majestade (com George Lazenby)
A primeira tentativa real de substituição do
ator de 007 se deu neste filme. O grande problema enfrentado pelo australiano
George Lazenby foi não apenas a incrível adequação que Sean Connery teve com o
personagem, como também a larga aceitação de público para sua caracterização; e
o fato da estatura avantajada de Lazenby lhe dar um aspecto ligeiramente
desengonçado (pouco condizente com o charme à toda prova de Bond) não ajudou
muito –para os fãs, a ironia requintada imposta por Connery não encontrou um
substituto à altura, por mais que a produção fosse caprichada, dinâmica e,
dentre os filmes da franquia, fosse um dos que trabalhava com mais refinamento
a dicotomia entre a estética rica e detalhada, a execução fluída e envolvente,
e as cenas de ação.
A missão deste novo Bond é assim deter o chefe
da S.P.E.C.T.R.E., Blofeld (interpretado por Telly Savalas), cujos planos visam
contaminar o mundo com um vírus fatal.
Uma boa aventura, pena que seus méritos
passaram despercebidos pela platéia e pelos críticos completamente atentos à
inadequação do ator principal.
007-Os Diamantes São Eternos
Dessa maneira, foi necessário que Albert
Broccoli e seus sócios desembolsassem uma grana considerável para trazer Sean
Connery de volta.
E não é que “Os Diamantes São Eternos”,
dirigido pelo mesmo Guy Hamilton de “Goldfinger”, figura mesmo entre uma das
mais sensacionais aventuras do agente secreto?
Aqui, Blofeld (agora vivido por Charles Gray)
organiza uma rede internacional de ladrões especializados em roubar um tipo
muito particular de diamante, restando a James Bond a tarefa de deter o plano
de seu inimigo.
Embora bem-sucedida –em muitos aspectos devido
ao retorno de Sean Connery –era óbvio que os produtores teriam de seguir em
frente sem o astro a partir daqui: Até pela fortuna que pagaram para tê-lo de
volta, Connery havia se tornado uma opção cara demais para uma série que
almejava produções com um intervalo de dois anos entre um filme e outro.
Foi aqui que os produtores começaram a notar no
protagonista de uma série inglesa de nome, “O Santo”, um tal de Roger Moore...
Contudo, James Bond e Sean Connery ainda
voltariam a ter seus caminhos cruzados.
Nunca Mais Outra vez
Um caso totalmente à parte na franquia 007, mas
tão curioso e intrigante que não poderia ter ficado de fora, o projeto de
“Nunca Mais Outra Vez” só viu a luz do dia graças à uma complicação judicial
envolvendo os direitos autorais de um dos livros de Ian Fleming, o já adaptado
“007 Contra a Chantagem Atômica”, nos anos 1960: A insatisfação do co-produtor
daquele filme, Kevin McClory, fez com que uma disputa judicial pelos direitos
desta obra específica fosse a julgamento, sob a alegação de que McClory
desejava refilmar o resultado que o frustrou, possibilitando a ele usar a mesma
trama e os personagens nela citados numa filme, digamos, bastardo... de James
Bond.
O andamento caracteristicamente lento desse
processo judicial levou duas décadas, fazendo com que “Nunca Mais Outra Vez”
terminasse produzido e lançado em 1983, mesmo ano em que foi também lançado
“007 Contra Octopussy”, com Roger Moore.
Espertamente, o produtor Kevin McClory não
poupou despesas e providenciou a escalação de Sean Connery (já um tanto
envelhecido, mas ainda espetacular no papel) e o cercou com um elenco de apoio
sensacional (Edward Fox como M, Alec McCowen como Q, Max Von Sydow como o vilão
Blofeld, chefe da S.P.E.C.T.R.E., e uma Kim Basinger recém-saída da carreira de
modelo como a bondgirl da vez). A trama parte do inteligente princípio de que
apenas os filmes estrelados por Connery contam em sua pressuposta cronologia, fazendo
deste aqui uma espécie de encerramento –são constantes as menções e afirmações
do herói acerca de sua iminente aposentadoria –justificando plenamente o título
recebido.
Para comandar a aventura, um nome aparentemente
interessante: Irving Keshner, então em alta com público e crítica por ter
entregado aquele que é tido até hoje como o melhor de todos os “Star Wars”, “O
Império Contra-Ataca”.
Visto hoje, “Nunca Mais Outra Vez” não resistiu
tão bem ao tempo como muitos dos títulos oficiais protagonizados por Sean
Connery, e até mesmo alguns que já contavam com Roger Moore.
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