terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O Poderoso Chefão - Parte III

Há um intervalo considerável de tempo separando a produção dos dois primeiros filmes da saga “O Poderoso Chefão” –realizados pelo diretor Francis Ford Coppola consecutivamente em meados dos anos 1970 –da realização da derradeira parte –lançada em 1990. Todavia, dentro da história o salto temporal é ainda maior: Do final da década de 1940 e início da de 50, onde o primeiro e o segundo se passam, vamos para 1979, e encontramos Michael Corleone (Al Pacino, sempre magistral), cansado e envelhecido após uma vida à frente do império mafioso de sua família, desejoso de paz e contemplando sua trajetória com uma sufocante necessidade de expiação.
Mas as coisas não irão sossegar tão cedo.
Seu filho Tony (Franc D’ Ambrosio) deseja distância do pai –no que tem pleno apoio de sua mãe, Kay (Diane Keaton) –e de seus negócios, preferindo seguir a carreira artística de cantor de ópera –no que também tem pleno apoio da mãe. Já sua filha, Mary (Sofia Coppola, filha do próprio Francis Ford que depois seguiu carreira de diretora) busca um pouco mais de proximidade com o pai, embora ganhe certa desaprovação dele ao envolver-se com Vincent (Andy Garcia, ótimo) seu próprio primo, filho bastardo do falecido irmão de Michael, Sonny (de quem herdou o temperamento intempestivo) interpretado por James Caan (assassinado numa das grandes seqüências do primeiro filme). Para além das questões familiares, a motivação de Michael aqui é legalizar seus negócios rompendo laços com a máfia e se afiliando à uma empresa do Vaticano. Converter-se, afinal, em um empresário honesto, o que eventualmente os percalços de seu passado gangster impedirão.
Contudo, ele descobrirá que, mesmo lá, existem tramóias e traições dignas de seus antigos pares.
A maestria singular que Coppola empregou nos filmes anteriores reaparece aqui, embora este filme tenha tido aceitação de público e crítica mais tímida que os anteriores –trabalhos maiúsculos que já faziam parte do subconsciente cinematográfico o quê tornava ingrata a tarefa de dar-lhes aqui continuidade.
Entre outras coisas, esta é uma obra de percepções diferentes se pararmos para pensar que o primeiro e o segundo, nas observações de suas entrelinhas, também eram filmes diferentes um do outro.
Dessa maneira, há uma nítida intenção da parte de Coppola em regressar seus personagens (e a trama junto com eles) para a Sicília, lugar onde toda essa saga de gangsterismo realmente começou.

Lá todos os códigos, valores e simbolismos que determinam essa trilogia são vistos e revistos mais uma vez sob o prisma de uma melancólica nostalgia: O olhar sofrido de Michael ante uma vida pregressa cujas escolhas lhe foram inexoráveis é um elemento onipresente na narrativa. Nesse ínterim, Coppola pontua seu filme com ironia (as guinadas primorosas do roteiro como a inesperada traição do personagem de Joe Mantegna, ou a confissão do assassinato de seu irmão Freddo –no segundo filme –para o mesmo padre que depois seria eleito Papa) e com sua habitual verve operística (notada no andamento fluido da narrativa, na encenação extraordinariamente elegante, no preciosismo atribuído aos detalhes culturais e no sentimento passional que confere aos acontecimentos) embora de maneira geral, este terceiro filme se mostre mais intimista que os outros, ostentando sua exuberância técnica (e épica) só mesmo na tensa, longa e aflitiva seqüência final onde a ópera ‘Cavalleria Rusticana’ é executada enquanto são intercaladas, numa montagem prodigiosa, cenas detalhadas de diferentes tentativas de assassinato em andamento –uma delas, inclusive, mencionando audaciosamente o assassinato real do Papa João Paulo I.

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