Há um intervalo considerável de tempo separando
a produção dos dois primeiros filmes da saga “O Poderoso Chefão” –realizados
pelo diretor Francis Ford Coppola consecutivamente em meados dos anos 1970 –da
realização da derradeira parte –lançada em 1990. Todavia, dentro da história o
salto temporal é ainda maior: Do final da década de 1940 e início da de 50,
onde o primeiro e o segundo se passam, vamos para 1979, e encontramos Michael
Corleone (Al Pacino, sempre magistral), cansado e envelhecido após uma vida à
frente do império mafioso de sua família, desejoso de paz e contemplando sua
trajetória com uma sufocante necessidade de expiação.
Mas as coisas não irão sossegar tão cedo.
Seu filho Tony (Franc D’ Ambrosio) deseja
distância do pai –no que tem pleno apoio de sua mãe, Kay (Diane Keaton) –e de
seus negócios, preferindo seguir a carreira artística de cantor de ópera –no que também tem pleno apoio da mãe. Já sua filha, Mary (Sofia Coppola, filha do
próprio Francis Ford que depois seguiu carreira de diretora) busca um pouco
mais de proximidade com o pai, embora ganhe certa desaprovação dele ao
envolver-se com Vincent (Andy Garcia, ótimo) seu próprio primo, filho bastardo
do falecido irmão de Michael, Sonny (de quem herdou o temperamento
intempestivo) interpretado por James Caan (assassinado numa das grandes
seqüências do primeiro filme). Para além das questões familiares, a motivação
de Michael aqui é legalizar seus negócios rompendo laços com a máfia e se afiliando
à uma empresa do Vaticano. Converter-se, afinal, em um empresário honesto, o
que eventualmente os percalços de seu passado gangster impedirão.
Contudo, ele descobrirá que, mesmo lá, existem
tramóias e traições dignas de seus antigos pares.
A maestria singular que Coppola empregou nos
filmes anteriores reaparece aqui, embora este filme tenha tido aceitação de
público e crítica mais tímida que os anteriores –trabalhos maiúsculos que já
faziam parte do subconsciente cinematográfico o quê tornava ingrata a tarefa de
dar-lhes aqui continuidade.
Entre outras coisas, esta é uma obra de
percepções diferentes se pararmos para pensar que o primeiro e o segundo, nas
observações de suas entrelinhas, também eram filmes diferentes um do outro.
Dessa maneira, há uma nítida intenção da parte
de Coppola em regressar seus personagens (e a trama junto com eles) para a
Sicília, lugar onde toda essa saga de gangsterismo realmente começou.
Lá todos os códigos, valores e simbolismos que
determinam essa trilogia são vistos e revistos mais uma vez sob o prisma de uma
melancólica nostalgia: O olhar sofrido de Michael ante uma vida pregressa cujas
escolhas lhe foram inexoráveis é um elemento onipresente na narrativa. Nesse
ínterim, Coppola pontua seu filme com ironia (as guinadas primorosas do roteiro
como a inesperada traição do personagem de Joe Mantegna, ou a confissão do
assassinato de seu irmão Freddo –no segundo filme –para o mesmo padre que
depois seria eleito Papa) e com sua habitual verve operística (notada no
andamento fluido da narrativa, na encenação extraordinariamente elegante, no
preciosismo atribuído aos detalhes culturais e no sentimento passional que
confere aos acontecimentos) embora de maneira geral, este terceiro filme se
mostre mais intimista que os outros, ostentando sua exuberância técnica (e
épica) só mesmo na tensa, longa e aflitiva seqüência final onde a ópera
‘Cavalleria Rusticana’ é executada enquanto são intercaladas, numa montagem
prodigiosa, cenas detalhadas de diferentes tentativas de assassinato em
andamento –uma delas, inclusive, mencionando audaciosamente o assassinato real
do Papa João Paulo I.
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