quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

O Reverso da Fortuna


No fascinante filme de Barbet Schroeder, o roteiro minimalista e hábil de Nicholas Kazan imbrica por uma dúvida insolúvel: Teria Claus Von Bullow realmente assassinado sua mulher?
Esta é uma indagação que, para efeitos de eficiência, o seu advogado, Alan Dershowitz (Ron Silver) não pode ter. É aos seus serviços que o milionário Claus Von Bullow (Jeremy Irons, numa sintonia fina entre um difícil humor inglês e a indiferença blasé da aristocracia) quando lhe cai uma suspeita inevitável da tentativa de assassinato da esposa Sunny Von Bullow (Glenn Close).
Inicialmente narrado pela própria falecida (num dos muitos espertos jogos de pontos de vista propostos pelo roteiro),quando descobrimos que nem mesmo ela sabe ao certo a conclusão de seu desfecho, somos apresentados ao modo de vida dos Von Bullow, sua opulência e seu distanciamento afetivo. Em algum momento, Sunny (que era diabética) é vitimada por uma dose letal de insulina, ficando em coma no hospital.
Ato contínuo numa situação em que o marido herdaria os milhões da esposa falecida, Claus se torna suspeito de tê-la envenenado aproveitando-se das circunstâncias matrimoniais favoráveis a tal plano. Os indícios, aos poucos, vão se tornando mais e mais incriminadores até que ele contata Alan, que por sua vez monta uma estratégia de defesa que não tarda a dar resultado e a virar o jogo.
Entretanto, estaria ele livrando um assassino da condenação?
A despeito da bem construída e verdadeiramente empolgante primeira parte, “O Reverso da Fortuna” deixa de lado seus charmosos ganchos narrativos a medida que avança para se concentrar nas especificações técnicas e jurídicas do julgamento, e se fechar no ponto de vista subjetivo de Claus; numa jogada inteligente, a condução não privilegia Claus Von Bullow, como personagem no sentido de salientar sua inocência: Pela condução imparcial e objetivamente minuciosa para com os detalhes da direção e do roteiro, e na atuação sublime de trejeitos dúbios de Jeremy Irons, o filme não ousa dar qualquer parecer sobre a notoriamente insolúvel conclusão do caso real –Von Bullow foi inocentado, mas a probabilidade de sua culpa nunca deixou de pesar sobre ele.
Uma síntese interessante, curiosa e envolvente entre drama, suspense e filme de tribunal.

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