domingo, 12 de junho de 2016

Lincoln

Daniel Day-Lewis escreveu seu nome na história do cinema como o primeiro intérprete a conquistar três Oscar de Melhor Ator na carreira: Por "Meu Pé Esquerdo", em 1989, por "Sangue Negro", em 2007, e por este "Lincoln" em 2012. O quê acaba sendo um fator que contraria a máxima de que é Robert De Niro o grande ator vivo da atualidade...
Todavia, vamos falar um pouco do filme de Steven Spielberg: Segunda colaboração sua com o roteirista e dramaturgo Tony Kushner (a primeira foi "Munique"), este trabalho ressalta a personalidade poderosa de seu escritor; mais do que Speilberg, é perceptível o olhar agudo, humano e minucioso de Kushner, e seu marcado estilo, na trama que se desenrola em ambos os filmes.
Neste, o ano é 1865. Abraham Lincoln acaba de ser reeleito para seu segundo mandato como presidente dos EUA enquanto a Guerra Civil Norte-Americana vai para seu quarto ano. Mas o presidente reeleito tem específicas ambições para sua nova gestão: não só deseja conseguir a paz de uma guerra da qual todos estão cansados, como planeja obter no Congresso a aprovação da 13ª Emenda, abolindo a escravatura de todos os Estados Unidos, uma manobra complicada, uma vez que a questão do abolicionismo é o cerne da própria guerra. O presidente Lincoln irá valer-se de sua capacidade de dissuasão e engenhosas manobras políticas para obter os votos no congresso, como os quais visa conseguir a paz e a liberdade.
A ironia captura pelo texto de Kushner, e tao bem emoldurada pelo talento superlativo de Spielberg, mostra que o presidente Lincoln, tão puro de intenções e tão imaculado na imagem que é feita dele para o mundo, lançou mão de propinas e corrupção para alcançar seu objetivo: A sequência da histórica votação no congresso da 13ª Emenda é, ela própria, uma aula de cinema em todos os ângulos que possam ser imaginados.
E aí, volta-se sempre à mesma questão, inevitável quando se fala desse filme: Daniel Day-Lewis.
O filme certamente não funcionaria se Spielberg não tivesse achado o ator ideal para o papel, e Day-Lewis faz muito mais que isso: Ele dá uma dimensão preciosa, minimalista e estudada de Lincoln, rica em detalhes e maneirismos que só são notados na segunda ou terceira vez que se assiste ao filme: Com o perdão dos dois ótimos trabalhos anteriores nos quais ele ganhou o Oscar, é este daqui onde Daniel entrega aquela que é sua obra-prima! Fica até sem graça falar do restante do elenco, todos espetaculares, em especial Tommy Lee Jones, mas cujo brilho empalidece diante de seu magnifico protagonista.
 O fato de ser excessivamente político e dialogado não lhe tira brilho algum, por sinal, este primoroso filme de Steven Spielberg, agraciado com a atuação magistral de Daniel Day-Lewis, merece ser descoberto por todo e qualquer expectador avesso à filmes políticos por pensar que são todos "chatos".

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