quarta-feira, 15 de junho de 2016

A História de Uma Prostituta

O melhor trabalho que vi, até agora, de Seijun Suzuki. Embora todos tenham sido, de fato, um tanto quanto satisfatórios. Ao contrário de seu conterrâneo, Akira Kurosawa, Suzuki não contava com prestígio autoral e nem com recursos variados à sua disposição. Kurosawa era um autor. Suzuki era um operário padrão. Contratado pelo picareta estúdio Nikkatsu (especializado em produtos de consumo popular e, não raro, exploitations), Suzuki recebia roteiros escritos por terceiros que se adequavam à fórmula desejada pelos produtores e partir de um orçamento normalmente curto realizava seus filmes.
Os trabalhos de Suzuki com freqüência padeciam de influências de executivos que lhe alteravam o final (como ocorreu com “Tóquio Violenta”) ou repudiavam o resultado final (“O Portal da Carne”). Mas, Suzuki não deixava de usar da inventividade mesmo diante dessas condições: Ele dava à cada trabalho uma personalidade e uma identidade visual específica, sem abrir mão de seu próprio estilo, ainda que sempre desenhasse filmes que fossem maleáveis.
Assim, se “Portal da Carne” é uma subversão de elementos de gêneros, tal e qual “Tóquio Violenta” –que atreve-se a inserir características musicais num filme de yakuza –então, “A História de Uma Prostituta” é seu trabalho mais voltado para um cinema clássico. Mesmo assim, a criatividade de Suzuki pulsa a cada cena, desde os momentos em que a produção espertamente contorna as limitações orçamentárias para dar ao filme um aspecto épico (é um drama de guerra que se passa na China), até a forma como Suzuki elabora suas cenas, compondo a trajetória dramática da protagonista com enquadramentos envolventes e pouco comuns em seqüências a um só tempo mundanas e requintadas.
A prostituta do título é interpretada por Yumiko Nogawa (que também protagonizou “O Portal da Carne”, e está até mais bela aqui), sua triste sina é servir às tropas japonesas num longínquo posto avançado. Ela é, à contragosto, requisitada pelo comandante do lugar, cujas mensagens são intermediadas por um soldado cuja  atitude excessivamente formal em princípio a irrita, mais depois a cativa.

Logo, um romance parece se vislumbrar embora as circunstâncias da guerra e o normalmente brutal código de honra japonês representem um empecilho que tornará o amor entre os dois impossível.

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