O melhor trabalho que vi, até agora, de Seijun
Suzuki. Embora todos tenham sido, de fato, um tanto quanto satisfatórios. Ao
contrário de seu conterrâneo, Akira Kurosawa, Suzuki não contava com prestígio
autoral e nem com recursos variados à sua disposição. Kurosawa era um autor.
Suzuki era um operário padrão. Contratado pelo picareta estúdio Nikkatsu
(especializado em produtos de consumo popular e, não raro, exploitations),
Suzuki recebia roteiros escritos por terceiros que se adequavam à fórmula
desejada pelos produtores e partir de um orçamento normalmente curto realizava
seus filmes.
Os trabalhos de Suzuki com freqüência padeciam
de influências de executivos que lhe alteravam o final (como ocorreu com
“Tóquio Violenta”) ou repudiavam o resultado final (“O Portal da Carne”). Mas,
Suzuki não deixava de usar da inventividade mesmo diante dessas condições: Ele
dava à cada trabalho uma personalidade e uma identidade visual específica, sem
abrir mão de seu próprio estilo, ainda que sempre desenhasse filmes que fossem
maleáveis.
Assim, se “Portal da Carne” é uma subversão de
elementos de gêneros, tal e qual “Tóquio Violenta” –que atreve-se a inserir
características musicais num filme de yakuza –então, “A História de Uma
Prostituta” é seu trabalho mais voltado para um cinema clássico. Mesmo assim, a
criatividade de Suzuki pulsa a cada cena, desde os momentos em que a produção
espertamente contorna as limitações orçamentárias para dar ao filme um aspecto
épico (é um drama de guerra que se passa na China), até a forma como Suzuki
elabora suas cenas, compondo a trajetória dramática da protagonista com
enquadramentos envolventes e pouco comuns em seqüências a um só tempo mundanas
e requintadas.
A prostituta do título é interpretada por
Yumiko Nogawa (que também protagonizou “O Portal da Carne”, e está até mais
bela aqui), sua triste sina é servir às tropas japonesas num longínquo posto
avançado. Ela é, à contragosto, requisitada pelo comandante do lugar, cujas
mensagens são intermediadas por um soldado cuja
atitude excessivamente formal em princípio a irrita, mais depois a
cativa.
Logo, um romance parece se vislumbrar embora as
circunstâncias da guerra e o normalmente brutal código de honra japonês
representem um empecilho que tornará o amor entre os dois impossível.
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